Já diz a sabedoria popular que após a tempestade passar virá a bonança. E isto aparentemente só será bom, tendo em conta os tempos que vivemos. Centrar-me-ei no aspeto do consumo e o seu impacto do processo produtivo e económico.
Há já alguns sinais, nacionais e internacionais, que o consumo privado e por consequência o produtivo, irá no segundo semestre de 2021 e em 2022 crescer de forma exponencial. Tal resulta essencialmente porque os trabalhadores que não perderam rendimento, aforraram mais. É por certo uma poupança fictícia que como alguém dizia por estes dias “não foi poupança, foi obrigação”. De facto, o nível de consumo caiu tão substancialmente que, acompanhado com as moratórias bancárias, provocou um nível de subida de poupança dos portugueses para níveis historicamente muito distantes.
A verdade é que ou por estrita necessidade ou por aquilo que se denomina nos mercados mundiais de “Revenge spending” os primeiros tempos após os levantamentos de limitações e aberturas das economias são de autêntica loucura de consumo.
Feito o enquadramento gostaria agora de me centrar no processo produtivo das empresas e do impacto deste fenómeno. Já são variadíssimas as notícias de dificuldade de obtenção de matérias-primas em diversas áreas de negócio. Desde a construção à tecnológicas são várias as notícias ou de aumento exponencial do preço das matérias-primas ou da sua falha.
São recentes as evidências vindas de vários quadrantes: a entrada da Bosch em Lay Off por falta de chips, a IBM acabou de assumir que a escassez de chips para os processos produtivos pode durar até 2 anos e os preços das matérias-primas básicas como o aço, o ferro e a madeira cresceu no espaço de um ano em intervalos de nunca inferiores a 20% / 30%.
São variadíssimas as motivações deste comportamento do mercado. Desde logo as restrições de movimentações de transporte a nível mundial bem como alguns encerramentos prolongados de processos produtivos. Por outro lado, gigantes com os EUA e a China começaram a comprar mais externamente e, ou por motivos estritamente necessários ou até especulativos, a reação do mercado é automática. Estuda-se nos compêndios da Economia como a conhecida Lei da Oferta e da Procura.
Este comportamento da economia é ainda mais sentido em mercados mais frágeis com é o nosso caso. As margens de produção e comercialização são genericamente mais curtas do que em mercados mais robustos e por isso a atenção a este tema tem que ser ainda maior. Compete, desde logo, o acompanhamento da evolução quer da disponibilidade das matérias-primas quer do seu preço.
A dificuldade de obtenção de matérias-primas e a dificuldade da sua aquisição a preços razoáveis terá nos processos produtivos impactos muito assinaláveis. Desde logo a capacidade financeira para os obter bem como o impacto nas obras plurianuais, como é caso da construção civil, pode vir a representar um fator imprevisível no produto final e no preço final ao mercado.
Esta escassez e o seu ajustamento de preço muito dificilmente não terá impacto no preço ao consumidor e isso poderá determinar o posicionamento de outros players a nível mundial, representando para as empresas nacionais de bens transacionáveis uma barreira acrescida.
Há por isso que antecipar ao máximo este efeito dominó, a ser pago em última instância pelo consumidor final, e assim representar potencialmente um crescimento de preços generalizado no próximo biénio.
Às empresas nacionais impõe-se uma atenção redobrada na valorização do seu processo produtivo, nomeadamente antecipando esta variação dos preços, de modo que o seu nível de rentabilidade não seja drasticamente afetado, colocando em risco a sua continuidade. A estabilidade generalizada dos preços na última década pode ter deixado de ser uma realidade e, por isso, terão as empresas que ajustar os seus mecanismos do processo produtivo e antecipar este eventual efeito que será por certo mundial.
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