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Vila Nova de Famalicão
Sábado, 20 Abril 2024
Laurisa Farias
Jornalista brasileira a viver em Coimbra, Laurisa gosta de ouvir e contar estórias. Escreve no dia 6 de cada mês.

Eu gosto de viver mesmo caindo

A vida é feita de cair e levantar muitas vezes. Aceitar isso faz parte do processo de crescimento emocional.

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Laurisa Farias
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Famalicão

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Querida Rayssa,

Minha mãe sempre dizia que nós temos muito o que aprender com “este povo novo”. Meu ficava indignado, pois para ele só quem pode ensinar alguma coisa são as pessoas mais velhas. Ele não sabia, mas minha mãe sabia que ensinar alguma coisa não significa necessariamente que haverá aprendizagem. Como diz o Calvin, da dupla Calvin & Hobbes, de banda desenhada, criada por Bill Watterson, “mães sempre sabem de tudo!”

Mas digresso, Rayssa. Desculpa lá, mas aqui vem outra digressão: sou fascinada pela literatura epistolar. Na verdade, não sou a única com este gosto. Prova que não estou sozinha nesta minha predileção por livros contendo cartas é o sucesso de vendas de publicações contendo missivas trocadas entre personalidades marcantes.

Eu tenho o privilégio de apurar este meu gosto literário por ser assinante de uma iniciativa inglesa: Letters of Note. Quase diariamente recebo, na minha caixa de entrada de email, cartas enviadas por figuras históricas ilustres, como Winston Churchill, escritores de primeira grandeza, como Virginia Woolf, mas também de reles mortais, mas cujas missivas merecem registro por sua, digamos, peculiaridade.

A iniciativa inglesa ganhou tamanha apreciação e audiência que seus fundadores realizam anualmente no verão o Letters Live – a edição 2021 foi no final de julho e os ingressos custavam cerca de 75 libras – mais ou menos uns 90 euros. Nas versões ao vivo, podemos ver e ouvir nomes consagrados da dramaturgia britânica lendo cartas. Delicio-me com as performances de figuras magistrais como o titã Ian McKellen, a deliciosa Olivia Colman, o belo Benedict Cumberbatch, o super sexy Jude Law, o refinadíssimo Collin Fith, para citar apenas alguns dos meus favoritos.

Querida Rayssa, prometo que agora vou ater-me exclusivamente ao objetivo desta minha carta para você.

Você tem apenas 13 anos. Com o frescor de uma infância feliz você ensinou-me que a gente pode ser feliz até mesmo quando leva tombos. E tombos você levou muitos desde quando ganhou de presente de um amigo da família um skate quando tinha apenas 7 anos. E foram aquelas muitas – centenas, por certo – quedas que te levaram para o pódio para receber sua medalha de prata, nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Muito antes de ir para o Japão, você tornou-se conhecida de quem pratica um dos muitos esportes que não são muito bem vistos por uma parte da população – espero que as perspectivas mudem por ser agora um esporte olímpico.

Seus pais certamente são pessoas muito confiantes no amor que dão para você e para seus irmãos, a ponto de não proibirem você de ser skatista, como é muito comum, imagina uma menina de uma cidade do interior de um estado pobre fazendo piruetas em cima de um pedaço de madeira na praça principal da localidade. Isso chama-se respeito. Filhos devem honrar pai e mãe, todo mundo sabe e cobra. Mas pais também honrar sua prole e parece que ninguém sabe disso.

Antes de se tornar a mais jovem atleta brasileira a ganhar uma medalha olímpica, você disse em uma de suas muitas entrevistas: “Eu gosto de andar de skate mesmo caindo”.

Já levei muitos, centenas de tombos também, Rayssa.

Na infância, ao invés de andar eu corria. E invariavelmente meus pés perdiam o compasso e eu terminava estatelada no chão. Geralmente, eram apenas os joelhos que ficavam em carne viva. Era quando o medo tomava conta de mim. Medo, não, pânico mesmo. Sabia que quando chegasse em casa minha alma sairia do meu corpo. Não porque eu seria castigada pela minha mãe. Ela simplesmente dizia: “continue correndo, Bebelzinha”. Ela nem se surpreendia mais vendo meus joelhos esfolados. O que me apavorava era ter que limpar as chagas com um desinfetante que nos fazia ir até à lua, dar um olá para São Jorge e voltar. Lívida. Ainda mais pálida. Olhos esbugalhados. Não podia emitir um ai, um som. O famigerado desinfetante era Merthiolate. Não existe um brasileiro acima de 50 anos que não tenha lembranças hoje engraçadas daquele vidrinho que continha um líquido vermelho que primeiro nos ensinou sobre transmutação da alma.

Ainda dou meus tombos físicos que certamente seriam um sucesso no YouTube. O último foi no verão do ano passado ao descer de um autocarro na Portagem. Ainda bem que não bati a face no chão, como da minha queda no Mosteiro Santa Clara a Nova, no inverno de 2018. Fiquei sem fala. Ainda bem que alguém viu e ajudou-me a levantar-me.

Meus tombos estão mais no nível simbólico – ainda bem, já que na minha idade quedas podem ser muito perigosas. De uns 15 anos para cá vejo meus tombos mais como momentos de refinamento espiritual. Ou meu Ser Supremo a me impedir de cometer um grande erro. Portanto, não choramingo nem reclamo de minhas quedas metafóricas. Aceito-as como parte do processo de crescimento emocional.

O que você me ensinou, Rayssa, é ver o lado alegre, bobo até, das minhas quedas. Há muito que busco a simplicidade e sua declaração é profundamente simples por ser recheada de jovialidade e pureza.

Por isso vou adotar seu lema, com uma pequena modificação: “Eu gosto de viver mesmo caindo”.

 

Nota da direção: a autora escreve em português do Brasil.

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