A porta de casa está aberta, a sala está virada de pernas para o ar, mas o sofá parece mais confortável do que nunca.
Na passada sexta-feira, dia 20 de maio, o carismático ex-membro da boyband One Direction, e agora estrela do mundo pop, Harry Styles, lançou o seu terceiro álbum em nome próprio, Harry’s House.
Ao entrar num novo capítulo da sua carreira, o encantador artista britânico faz um contraste entre o crescimento pessoal e profissional e a realização de atividades tipicamente juvenis, como viver no limite, conduzir sem ter destino e experimentar todo o tipo de substâncias. Harry’s House é uma deliciosa fotografia do estado de espírito de ter 28 anos, onde se mistura a responsabilidade da proximidade aos 30 com a constante lembrança de que ainda se está nos 20. Neste novo álbum, nenhum momento é desperdiçado.
O conforto é aqui aliado à surpresa: enquanto o rock parece ter ficado guardado na gaveta, entram sonoridades que remetem à synthpop, funk, R&B e folk, que, já inseridos em álbuns anteriores, voltam com mais força. Além de versos sobre o cliché coração partido e outros com referências sexuais, traz-nos também elementos da rotina diária de qualquer ser humano, como comida asiática, cinema e até sumo.
Sonoramente mais aventureiro e com batidas que nos fazem lembrar de certa forma o universo indie, abre-nos a porta da sua casa e leva-nos numa viagem de extremos. Através das treze músicas que o compõem, somos confrontados com uma sala cheia de amigos e ao mesmo tempo com espaços em que até o nosso próprio silêncio nos incomoda. Com as diferentes melodias que nos apresenta, vivemos uma montanha-russa de emoções, que nos faz querer tanto dançar no jardim às cinco da manhã, como estar fechados na cave onde ninguém vai, durante uma semana.
Liricamente comparado com o seu antecessor, Fine Line, este é mais pesado, íntimo e sério. Depois de um começo animado com a “Music for a Sushi Restaurant” e “Late Night Talking” que nos faz visitar os anos 80, o álbum torna-se mais pesado, misturando estados de humor, mas nunca nos permitindo ficar demasiado relaxados.
Aparentemente com uma vibe muito positiva, as músicas tornam-se mais sombrias quando dirigidas a pessoas ou situações específicas, como “Matilda” e “Boyfriends”, que são o espelho de relações em que a toxicidade é o ingrediente principal. Mas como não há mal que nunca acabe, somos brindados também com temas alegres e solarengos, como “Cinema”, “Grapejuice” e a adorável “Little Freak”.
É certamente o álbum mais distinto de Harry até agora, onde os seus 41 minutos se desenrolam sob um ar de agradável contentamento, ocasionalmente encoberto por alguma melancolia suave que passa como uma nuvem fugaz. Harry’s House é um álbum pop cativante, no qual o ouvinte se acaba por sentir mais intimamente familiarizado com os seus afetos do que com o mundo que o rodeia, fazendo jus à ideia de intimidade que a imagem de uma casa proporciona. Harry Styles criou, assim, um espaço acolhedor onde se ficar.
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