Se na última crónica publicada enumerei algumas das vantagens que a leitura tem para nós, na presente crónica irei mencionar algumas das minhas leituras de 2022 que vieram a contribuir para que de alguma forma eu me tornasse melhor.
No ano passado, consegui superar as minhas leituras de 2021. Se em 2021 li um total de 7 livros, no ano de 2022 consegui ler um total de 13. Sei que para alguns pode parecer um número ainda baixo, mas, de facto, para quem perdeu o hábito de leitura, acho que já é muito bom aos poucos ir lendo e descobrindo novas histórias e novos autores espalhados pelo mundo.
Foi o que me aconteceu precisamente no ano de 2022. Tanto li autores do Brasil como, as poesias de Vinicius de Moraes ou as breves notas de Zack Magiezi. Como também li autores de Chéquia (Rainer Rilke), da Alemanha (Herman Hesse), da França (Agnès Martin-Lugand), de Portugal (Eugénio de Andrade e Virgilio Ferreira). Também “viajei” até às terras americanas com as poesias de Sylvia Plath. E numa última “viagem pelo mundo” literário, também li alguns autores hispano[1]americanos, como foi o caso de Alejandra Pizarnik, Mario Benedetti e Gabriel García Márquez.
Como em tudo, houve algumas das obras destes autores que não gostei e outras que amei tanto que sublinhei e marquei os livros quase que de início ao fim.
Foi o caso da antologia poética de Alejandra Pizarnik, o primeiro livro lido em 2022. É certo que tem uma visão um pouco pessimista, talvez um tanto dramática e depressiva, fruto da vida que foi levando. Mas é pontual e sublime na sua escrita poética, fazendo da melancolia e da dor como algo doce e bonito. Não fosse esse o poder dos poetas no mundo. Citando a própria: “Se ha dicho que el poeta es el gran terapeuta. En ese sentido, el quehacer poético implicaría exorcisar, conjurar y, además, reparar. Escribir un poema es reparar la herida fundamental, la desgarradura. Porque todos estamos heridos”.
Outro dos livros que marcou pela sua singularidade e criatividade na escrita foi do autor brasileiro Zack Magiezi, conhecido muito aleatoriamente através do instagram mas que na qual me motivou a comprar um dos seus livros, mais concretamente o “Notas sobre ela”.
Deixo algumas das notas presentes no livro: “felicidade foi quando ela aceitou a sua intensidade e tomou banho de chuva nas suas próprias tempestades”. “desde que a minha vida saiu dos eixos sinto que posso ir a qualquer lugar”.
Por fim, o mais marcante da minha leitura (não só) de 2022, foi o livro de Rainer Rilke, intitulado como “Letters to a young poet”. Apesar do título se referir precisamente para um jovem poeta, o facto é que se pode aplicar a qualquer pessoa porque o livro tem ensinamentos bastante úteis e bonitos. É um livro breve, de fácil leitura e por isso lê-se bem numa questão de uma hora, porque de facto é cativante. É facto que Rainer se foca essencialmente em orientar o jovem poeta que pede pelos seus conselhos nas cartas que vão trocando frequentemente, de modo a que possa melhorar aquilo que escreve. Mas não só se trata de conselhos para melhorar a escrita, não mesmo! O livro acaba por também nos fazer entender a perspetiva (de vida) de um poeta, ao mesmo tempo que nos faz “mergulhar” em nós. A olhar para nós e a questionar determinadas coisas. É uma das consequências (boas) da poesia!
É daqueles livros que é um must, ou seja, é de leitura obrigatória, pois será inevitável e ficarão com algumas das suas palavras nas vossas mentes para levar para o resto da vida.
Poderia deixar aqui quase todo o livro mencionado, mas vou terminar a minha crónica deste mês com uma das minhas citações favoritas desde sempre e que está precisamente no livro “Letters to a young poet”: “As pessoas têm (com a ajuda de convenções) orientado todas as suas soluções para o lado fácil e para o lado mais fácil do fácil; mas é claro que devemos agarrar-nos ao que é difícil; tudo o que está vivo agarra-se a ele, tudo na Natureza cresce e se defende à sua própria maneira e é característico e espontâneo, a procura a todo o custo de ser assim e contra toda a oposição.
Sabemos pouco, mas que devemos agarrar-nos ao que é difícil é uma certeza que não nos abandona; é bom ser solitário, pois a solidão é difícil; que algo é difícil deve ser uma razão tanto mais para o fazermos.
Amar também é bom: o amor é difícil. Para um ser humano amar outro: essa é talvez a mais difícil de todas as nossas tarefas, a última, o último teste e prova, o trabalho para o qual todo o outro trabalho é apenas preparação”.
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