Estamos a assistir, crescentemente, a um fenómeno, cada vez mais recorrente, que é bastante perigoso e que, pouco ou nada, se tem falado sobre. Refiro-me à “notícia única” e os seus dois efeitos: informações falsas e estupidificação da população.
Desde há uns meses atrás, pouco antes da infeliz ocorrência da queda de Rayan ao poço, que se resultou na sua morte, que se tem verificado a “notícia única”. Durante alguns dias, vê-se uma única notícia a ser escalpelizada, em todas as televisões, em simultâneo e sem descanso. Lá de vez em quando a cada 2-3 horas fazem uma pausa para, rapidamente, percorrerem as restantes notícias e voltar ao tema.
Foi a situação de Rayan, mas também a do suposto terrorista que ia atacar a Universidade, entretanto foi a cena de pancadaria entre Sporting e Porto e, de momento, estamos estacionados, televisivamente, no conflito Rússia/Ucrânia.
Não quero, nem estou a ser má-língua! Eu só fico surpreendido como é que os pivots e os “especialistas” conseguem “desenvolver” (para não dizer encher chouriços) com um só tema. Quando já pensamos que o tema está esbulhado até à fruta, eis que nos surge mais um especialista (muitos deles promovidos em direto, que nem sabiam que o eram) que nos vai massacrar o juízo durante uma a duas horas. Eu pergunto-me se há alguém que os atura.
São vários os efeitos desta prática. Desde logo que, se todos os canais apresentam 23 horas por dia uma única notícia, precisam de se diferenciar para atrair audiências. Assim, tem acontecido que, muitas das vezes, veiculam-se informações que são falsas, sem qualquer confirmação fáctica da sua veracidade, com o simples intuito de se diferenciar dos outros canais televisivos. Tudo porque o tempo que demoraria a confirmar a informação é demasiado longo e a concorrência é feroz.
Para além disso, como resultante disto, pouco ou nada se informa realmente o cidadão. No final do dia, pouco mais do que a notícia única fica a conhecer. Isto contribui para a ignorância da realidade e para o embrutecimento do povo.
Não sei como chegamos aqui. Acredito que tudo seja uma questão de audiências e que se as tendências dos espectadores mudarem, também este formato televisivo vai para o caixote do lixo, de onde nunca deveria ser saído.
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