Vivem-se momentos muito tensos, politicamente. O Orçamento do Estado de 2022 está a dar que falar e os próximos dias ditarão a vida dos portugueses. Temos duas hipóteses: o BE ou o PCP faltam à palavra e aprovam o Orçamento (através da abstenção) ou o OE2022 chumba e teremos dissolução do parlamento “logo logo” de seguida, como deixou claro Marcelo Rebelo de Sousa.
O governo socialista apresentou o Orçamento do Estado, pela mão de João Leão, Ministro das Finanças, no passado dia 12. Desde logo, não cultivou demasiadas amizades. Os partidos da oposição, PSD, CDS, CH, IL, apressaram-se a declarar o voto contra. Do outro lado do espectro político, temos o PAN, o PS, o BE, PCP e as deputadas não inscritas. O PAN e as deputadas não inscritas abstém-se, o PS vota a favor e os dois partidos de extrema-esquerda votarão contra. Assim, se cumprirem a palavra, estamos encaminhados para eleições antecipadas, resultante da crise política.
Se fizesse um prognóstico, diria que o OE irá passar porque o BE irá se abster. Assim, os 106 deputados do Partido Socialista terão a maioria necessária para aprovação do OE. Baseio a minha tese no seguinte: a quem aproveita eleições antecipadas? A única forma de respondermos a esta questão será através da análise das sondagens de intenção de voto. Temos visto que o PSD está estagnado por volta dos 26%, o PS regista um crescimento que culmina em 41%. De resto, o BE está em queda, registando 7% assim como o novo partido de direita, o Chega, estando este a dar passos largos nas intenções de voto. O IL ascende a 4% e o PCP desce para 5%. O PAN está em vias de extinção, com 1.5%.
Desta sorte, concluímos que estes resultados não interessam nada ao Bloco de Esquerda, porque, para além de perderem deputados, com o reforço do Partido Socialista, a sua influência política em futuros orçamentos é manifestamente inferior. Ora, se o Orçamento está nas mãos do Bloco, não tenho muitas dúvidas de que não hesitará em aprová-lo, pela abstenção, a despeito das várias ameaças, que não parecem ser nada mais do que pólvora seca.
Estará o Partido Socialista interessado em que as negociações com o Bloco não dêem fruto? Poderá ser essa a jogada política onde reforçam o seu poder e diminuem a sua dependência dos partidos de extrema-esquerda? Ou será que o Partido Socialista procura efetivamente chegar a acordo? Podemos, desta sorte, dizer que o Orçamento não é do Governo, antes dos partidos que o aprovam?
De quaisquer das formas, Marcelo Rebelo de Sousa tentou de tudo para evitar este cenário, mas as crises não se decidem, acontecem. Poderemos vir a ter a possibilidade, antecipada, de exercer o nosso direito ao voto. Poderão ser dias e semanas demasiado intensas para quem é apreciador do fenómeno político. Tantas as possibilidades, tão poucas as certezas.
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