O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, avança com uma decisão perante as câmaras da comunicação social: “No que depender de mim o desconfinamento não volta atrás”. Claramente marca uma posição e assegura os portugueses que, independentemente do que acontecer, não voltará a decretar o Estado de Emergência e, assim, que não retornará a privar os portugueses dos seus direitos liberdades e garantias constitucionais.
Nesse mesmo dia, o Primeiro-Ministro, António Costa, tenta desautorizar Marcelo, que é o único capaz de propor o Estado de Emergência/Sítio, proferindo: “Se alguém pode garantir [que não se volta atrás no desconfinamento]? Não, creio que nem o senhor Presidente da República seguramente o pode fazer, nem o fez.”
Esta jogada política foi muito mal vista pelo Presidente da República que, em seguida, veio a público, visivelmente irritado, relembrar como funciona o sistema político português ao Primeiro-Ministro: “Por definição o Presidente nunca é desautorizado pelo primeiro-ministro. Quem nomeia o primeiro-ministro é o Presidente, não é o primeiro-ministro que nomeia o Presidente.”.
Com esta troca de palavras, nasce uma “guerra” entre ambos os representantes de cargos políticos a que o povo português pouco, ou nada, quis saber. Marcelo fez mesmo por isso, que não se falasse sobre o sucedido a todo o custo. Chegou a apelar – admirem-se – a que se prestasse atenção ao futebol, que é um assunto de suma importância.
Vou mesmo citar porque quero que as suas palavras fiquem imortalizadas: “Esta terça-feira é dia de futebol, e aqui estamos todos unidos em torno do futebol e, portanto, eu não vou agora estar a falar de outros temas, porque é desconcentrar o fundamental.”
O fundamental para o Presidente de Portugal é que a equipa de futebol marque golos. Esta é a prioridade do mais alto representante de Portugal.
Relembro o leitor que Marcelo foi eleito com maioria absoluta à primeira volta conquistando 60.7% do eleitorado votante.
Isto leva-me a refletir sobre algo que não pode deixar de entristecer qualquer verdadeiro e consciente português – o povo não quer saber de nada, exceto futebol e praia.
Para além disto, a memória coletiva do povo está a desaparecer. Parece que já ninguém se lembra do falso currículo do procurador enviado pela Ministra da Justiça. Nem das golas antifumo, que mais não foram do que uma negociata com amigos por valores várias vezes superiores aos de mercado, obra de Eduardo Cabrita, que tantas outras “obras” realizou, nem mesmo do negócio do lítio, idealizado por João Galamba e o Ministro do Ambiente.
Portugal perde, cada vez mais, o seu rumo. Ainda este mês eclodiu uma “guerra” entre o Primeiro-Ministro e o Presidente da República e, hoje, já ninguém se lembra. Mas não faz mal, porque está tudo à espera do próximo jogo. Disso ninguém se esquece.
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