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Vila Nova de Famalicão
Quinta-feira, 25 Abril 2024

O pensamento mágico: sem toque não há milagre!

Não tenhamos dúvidas, um abraço, daqueles abraços bons, só por si, é um lugar extraordinário, um Natal mesmo feliz. Uma prece, uma alegria, um modo de ser e de estar.

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Marta Duque Vaz
Natural de Famalicão e radicada no Porto, licenciada em antropologia e pós-graduada em economia social, é jornalista e autora de “A Senhora Clap”, livro do Plano Nacional de Leitura, que foi adaptado a uma peça de teatro no Brasil.

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Bom dia. Quero dar uma palavrinha ao Senhor Padre. Foi assim que Felícia se apresentou na secretaria da paróquia. Um tanto inquieta e apreensiva, no gesto e no olhar porque a máscara, obrigatória, não deixa ler mais nada.

O Senhor Padre, agora, está ocupado. Mas se eu puder ajudar… Felícia olha à sua volta, com vagar: é só uma autorização, um pedido, um instante. Mas diga, insiste a funcionária; ou volte mais tarde.

Mais tarde é que não me dá jeito nenhum; tenho o meu filho, a nora e os meus netos, quase a chegar, diz Felícia, assombrada, cheia da mais autêntica indignação: então agora é proibido tocar nas imagens? Ao pé da minha Santa Rita diz “não toque na imagem”.

E então, agora, como é que eu lhe rezo? Como é que eu lhe peço o milagre? Sem toque não há milagre, entende? Rezo-lhe assim desde que me dou por gente e agora não lhe toco? É só pedir autorização para lhe tocar, ao de leve, e vou à minha vida. O meu filho já não me dá um abraço há que tempos, nem os meus netos, que ainda é o que mais me custa. Vim cá só para lhe rezar, a ver se o vírus se vai, e não lhe posso tocar?

De todas as interrogações de Felícia ficou-me a do pensamento mágico. Sem toque não há milagre. E com ela veio-me a história de Joan Didion [convertida num monólogo levado a palco pela magistral Eunice Muñoz]. Começa assim: “A vida muda num instante. Num dia normal”. A nossa também mudou.

Se nos dissessem, há um ano, que o Natal ideal, na actual conjuntura pandémica, seria feito de ilhéus, cada um em sua casa, afastados, para nos protegermos, não acreditaríamos. Se nos dissessem que haveríamos de não tocar em nada nem em ninguém – nem nos santos, nem nos pecadores – acharíamos surreal. E, no entanto, está a acontecer. Aqui e no mundo. Por todo o lado, transparências acrílicas a separarem-nos, abraços camuflados, plasticizados, para que o toque não seja absoluta ausência, quase morte.

Antropólogos estudaram e estudam a importância de tocar. “Tocar: o significado humano da pele” é um tratado sobre o tema. O toque é uma linguagem não-verbal assombrosa, capaz de fazer tanto pelo bem-estar de crianças, de idosos, de todos os seres humanos. Contribui para o desenvolvimento físico, emocional e social; hoje já não há dúvida sobre isto nem sobre os comprovados benefícios de um íntimo abraço. Sem lamechice nenhuma, temos de aproveitar bem os que ainda podemos dar. E, quem sabe, atirar para os desejos do novo ano, os que ficaram suspensos. Não tenhamos dúvidas, um abraço, daqueles abraços bons, só por si, é um lugar extraordinário, um Natal mesmo feliz. Uma prece, uma alegria, um modo de ser e de estar.

Que o toque, agora tão raro, imperativamente escasso, seja a pedra-de-toque de uma outra consciência, genuinamente humana, justa e inclusiva; uma nova atitude, perante nós e a nossa casa comum; uma ética necessária e surpreendente em tempo de grandes mudanças.

Nota da Direção: A autora escreve de acordo com o anterior acordo ortográfico.

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