Nesta imagem da Rua de Santo António (no actual Nº 44) realço a rosca de “Pão-de-Ló do Pata” (que para aqui se mudou no final do Século IXX vindo da Rua Direita), segura por ferros lá em cima, feita em folha e em tamanho grande, pintada e arranjada de tal forma que até parecia mesmo “Pão-de-Ló pelo ‘systema’ de Margaride”.
Eram vésperas de Páscoa aquele esperado dia, memorando um facto transcendente na vida da humanidade. Costuma chamar-se-lhe ou dizer-se vezes sem conta Páscoa florida, a Páscoa das aldeias em festa, a Páscoa em que os sinos das igrejas cantam hinos, a Páscoa das hossanas…
Festa de beleza e alegria, trazendo sempre animado movimento nos lares, onde tudo se prepara com frescura, num significado rescendente de consolação que invade a alma, podendo dar-se-lhe o intento de uma vassalagem Àquele que é Pai dos Homens.
Repiques de sinos, o estralejo de girândolas, o badalar de campainhas, flores de arbustos pelos chãos, opas carmesins, ovos pintados, maçãs para oferendas, quase sempre um sol brilhante, tudo corre a par neste dia com costumes de encanto.
Nesta festa cheia de manchas cor da Graça, que ao passar como revoada de pombas brancas, a tradição fez mercê nos presentes do pão-de-ló, sendo digno de admirar o que à sua volta se passa.
A nossa terra desde cedo se afirmou através deste tradicionalismo curioso, tornando-se interessante a volumosa quantidade de tabuleiros e açafates (cesto de vime de bordo baixo, sem asas nem arco) que o conduzem cobertos com as melhores toalhas de linho, bordadas de ramos ou letras vermelhas, nas suas pontas pendentes.
Tostadinho, abafado, é de ver-se a graça que tem ao ser levado por moçoilas alegres e risonhas, sobre as suas cabeças de cabelos luzidios, bamboleando nos lobos das orelhas ricas arrecadadas de ouro, num equilíbrio cuidadoso, como transportassem cousa de raro valor, quando afinal apenas conduzem “Pão – Leve” – “pão–de–Ló”.
Seguem os grupos, levando-o por estradas e caminhos até às aldeias, para em seguida se juntar à qualidade honrosa nos folares ou, ser oferecido ao senhor Abade da freguesia.
Feito em forma de barro, com um toque rústico e dourado, come-se à mão como dita a tradição: sem talheres, sem cerimónias — apenas o prazer de partir uma fatia fofa, sentir o aroma quente e doce, e partilhar com quem está à volta da mesa.
Quem quiser tornar o momento ainda mais especial, pode seguir o ritual antigo: acompanhar o pão-de-ló com queijo da serra amanteigado e um cálice de vinho fino. O contraste perfeito entre o doce e o salgado transforma cada fatia num regalo pascal.
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