O grande auditório da Casa das Artes quase encheu, na tarde da última quinta-feira, tantos foram aqueles que quiseram homenagear Margarida Malvar, decana das advogadas famalicenses e cidadã comprometida, desde a juventude, com a liberdade, a democracia e os direitos das mulheres. Entre muitos amigos e representações institucionais de autarquias, partidos políticos, Ordem dos Advogados, entidades públicas e associações do mais diverso cariz, mais de três centenas de pessoas participaram no evento organizado pela associação famalicense Casa da Memória Viva.
Um dos presentes foi o presidente da Câmara Municipal, Mário Passos, que destacou o “exemplo de cidadania” que emerge do trajeto de vida de Margarida Malvar,uma “advogada e cidadã com uma vida pautada pela defesa dos direitos, liberdades e garantias”.
Para o edil, é mesmo um caso de “exemplaridade que orgulha Famalicão”, cujo município serviu como vereadora, entre 1882 e 1985, e deputada municipal, nos anos seguintes. Por isso, recordou, em 2004, foi agraciada com “Medalha de Honra do Município”. No final da sua intervenção, o presidente da Câmara presenteou a homenageada com um ramo de flores e um presépio em barro, produzido nas oficinas da Fundação Castro Alves.
Por seu lado, a presidente da delegação concelhia da Ordem dos Advogados, Liliana do Fundo, realçou o “enorme respeito e prestígio” de que goza entre a classe Margarida Malvar, sua antecessora no cargo entre 1990 e 1992. Para além do seu passado de causas, destacou, a homenageada “orientou a sua vida profissional exclusivamente pelo serviço ao Direito e à advocacia”, sendo hoje “referência de honorabilidade” para todos os advogadores portugueses, cuja Ordem lhe atribuiu, em maio último, a sua “Medalha de Honra”.
Na sessão, falou também o presidente da direção da associação organizadora do tributo público à primeira famalicense a licenciar-se em Direito e a abrir escritório de advocacia no concelho. “Na comunidade famalicense, Margarida Malvar é uma das nossas luzes de Natal que brilha com mais intensidade e durante todo o ano.
Compete-nos tratar bem dessa luzinha radiosa e fazer dela farol para o nosso dia-a-dia. A nossa vida em comunidade melhorará, seguramente”, afirmou Carlos de Sousa, que agradeceu às entidades que colaboraram com a Casa da Memória Viva na operacionalização do evento e evocou o percurso cívico e político de Margarida Malvar.
Não esqueceu, ainda, os pais da homenageada, Joana de Sá Braga Malvar e António Cleto Malvar, pela influência e apoio que lhe deram, mesmo quando, no final dos anos 1960, foi candidata da Oposição Democrática a deputada à então Assembleia Nacional, por Braga. Tinha, então, 25 anos.
No final, Margarida Malvar agradeceu a manifestação de reconhecimento público de que foi alvo, confessando que tinha apreciado, sobretudo, porque tinha sido iniciativa de conterrâneos seus. “As homenagens não se pedem nem se recusam; aceitam-se. Mas, esta é especial para mim, porque demonstra que há famalicenses com memória, que lutam contra o esquecimento”, disse.
Para o êxito do evento contribuiu, também, a componente cultural do programa, cujo ponto alto foi um concerto do Coral de Letras da Universidade do Porto. Dirigido pelo maestro Pedro Guedes Marques e acompanhado ao piano pelo professor Fausto Neves, o prestigiado coro amador, fundado pelo respetivo maestro titular, José Luís Borges Coelho, há 56 anos, cantou nove “Canções Heroicas” do compositor português Fernando Lopes Graça.
Pelo palco do grande auditório da Casa das Artes passou também o violonista brasileiro Paco Nabarro, que dedicou a Margarida Malvar uma peça de um dos seus músicos preferidos, o também brasileiro Chico Buarque de Holanda. Houve também declamação de poesia de Cristina Pizarro, pela própria, e dos poeta famalicense Salvador Coutinho, pelos seus filhos, Clara Coutinho e José Coutinho.
Entre outras personalidades e figuras conhecidas da vida social famalicense, com destaque para vários advogados, estiveram no evento o anterior presidente da Câmara Municipal e dirigente nacional do PSD, Paulo Cunha; os vereadores Maria Augusta Santos e Paulo Folhadela; o presidente do Centro Hospitalar do Médio Ave, António Barbosa; e dirigentes partidários como Sandra Moreira (PS), Domingos Costa e Daniela Ferreira (PCP) e Sandra Pimenta (PAN).
Entre dezenas de mensagens de felicitações recebidas antes e durante a sessão, associaram-se ao tributo a Margarida Malvar, mesmo não tendo podido estar presentes, as vereadoras Sofia Fernandes e Luísa Azevedo; os deputados à Assembleia da República Eduardo Oliveira e Jorge Paulo Oliveira; o bastonário da Ordem dos Advogados, Luís Menezes Leitão; e a Comissão Promotora de Homenagem aos Democratas de Braga.
A Casa da Memória Viva homenageou anteriormente a enfermeira obstetra Miquelina Peixoto, em 2018, e o médico pediatra Miguel Machado, no ano seguinte.
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