O famalicense D. Jorge Ortiga, arcebispo primaz emérito de Braga, recebeu uma carta de uma paroquiana revelando que o seu filho seminarista tinha sido alvo de abusos sexuais por um padre no ativo e avisou o cardeal-patriarca de Lisboa dessa situação.
A história é relatada na edição impressa do jornal “Expresso” desta semana, que hoje sai para as bancas. Segundo a mãe do ex-seminarista, os abusos sexuais foram perpetrados por um padre que exercia o sacerdócio há 20 anos na zona oriental de Lisboa. A vítima tinha então 17 anos de idade.
Segundo revela o “Expresso”, o nome do sacerdote abusador já chegou há algum tempo ao conhecimento da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica Portuguesa e faz parte da lista de 12 párocos suspeitos de abusos que um padre denunciante revelou há dois meses à equipa liderada por Pedro Strecht.
O então seminarista tinha sido convidado para passar férias numa casa no Algarve. Os pais autorizaram a viagem, nunca imaginando que o padre, em quem tanto confiavam, pudesse entrar durante a noite, despido, na cama onde o filho dormia.
“Só soubemos do episódio alguns meses depois, pois percebemos que o nosso filho não andava bem. Contou-nos que repeliu o pároco, mas foi obrigado a regressar a casa com ele de carro por não ter dinheiro para vir de autocarro”, revelou a mãe do ex-seminarista ao “Expresso”. O rapaz era seminarista nos Olivais, mas viria a desistir do “sonho” de ser padre por ter ficado “traumatizado” com o episódio passado no Algarve.
MÃE DA VÍTIMA ESCREVE A D. JORGE ORTIGA
A mãe da vítima decidiu não ficar calada e queixou-se por escrito a Jorge Ortiga, quando o arcebispo famalicense era presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
Segundo relata o “Expresso”, em abril de 2010, o próprio Ortiga respondeu por carta à paroquiana, garantindo que tinha dirigido “as informações” nela contidas ao então cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, já falecido. E concluía na missiva: “Sei que ele dará o seguimento mais oportuno.”
Poucas semanas depois de receber a carta assinada por Jorge Ortiga, a mãe do ex-seminarista foi contactada para ir ao Patriarcado de Lisboa. “Numa reunião de três horas com o cónego Álvaro Bizarro, relatei tudo o que sabia sobre o assunto”, diz a mulher, citada no “Expresso”.
Alguns anos mais tarde, a mãe viria a ser recebida, juntamente com o marido, pelo atual cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente. Na audiência, diz ter voltado a relatar os abusos de que o filho teria sido alvo.
O cardeal mostrou-se “muito preocupado” com o assunto e disse que o padre já tinha sido afastado, não tendo qualquer atividade na Igreja. Só que a paroquiana esperava que o patriarca de Lisboa chamasse também o filho para perceber, na primeira pessoa, os detalhes dos alegados abusos sexuais. Mas tal nunca veio a acontecer, para seu desgosto.
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