Vivemos num país que envelhece a olhos vistos. Os nossos idosos, que tanto contribuíram para a sociedade, enfrentam hoje um cenário profundamente injusto: são muitos, as respostas são poucas, e os custos são simplesmente insuportáveis para a maioria das famílias.
As IPSS e instituições de apoio à terceira idade enfrentam diariamente dificuldades financeiras dramáticas. Estas instituições, que tantas vezes substituem o papel do Estado, lutam por manter as portas abertas com orçamentos limitados, estruturas envelhecidas e apoios insuficientes. São obrigadas a prestar cuidados de excelência com recursos escassos, enfrentando um verdadeiro quebra-cabeças diário: como cuidar bem sem verbas adequadas?
A falta de financiamento público, a burocracia excessiva, e os atrasos nos apoios estatais comprometem a dignidade com que estas entidades tentam cuidar dos nossos mais velhos. E quem acaba por pagar a diferença? As famílias. Famílias essas que se veem obrigadas a desembolsar valores elevados — muitas vezes superiores aos seus próprios rendimentos — para garantir um lugar num lar ou numa instituição com condições básicas. Tudo isto num país onde a maioria dos idosos sobrevive com pensões baixíssimas.
É urgente reconhecer que estamos perante uma emergência social silenciosa.
Mas o problema não termina aqui. Soma-se a esta equação a falta gritante de pessoal, tanto formado como não formado. São poucos os que se mantêm nesta área, e não é difícil perceber porquê: os salários praticados são baixos, as condições de trabalho exigentes, e o reconhecimento escasso. Quem escolhe cuidar, escolhe também abdicar muitas vezes da sua vida pessoal. E fá-lo com dedicação, profissionalismo e empatia. Mas até quando será possível sustentar esta entrega sem apoio real?
Precisamos de:
- Mais investimento público direto nas IPSS e lares;
- Revisão urgente dos valores atribuídos às comparticipações familiares;
- Reconhecimento e valorização salarial dos cuidadores e profissionais do setor;
- Formação contínua acessível e apoio psicológico a quem cuida;
- Planeamento estratégico nacional para o envelhecimento e resposta à população idosa.
Os nossos idosos merecem mais. E quem cuida deles também.
É tempo de olhar com seriedade para esta realidade. Ignorar este problema é empurrar para amanhã um fardo que, mais cedo ou mais tarde, recairá sobre todos nós.
Envelhecer é um privilégio – mas envelhecer com dignidade devia ser um direito.
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