Inovação enquanto conceito pode ser bastante variado e até vago, consoante a sua aplicação. Muitas vezes corremos o risco de estar a falar de inovação em diferentes vertentes, com objetivos distintos e acabamos por misturar tudo.
É taxativamente diferente inovação de produto, inovação de processo ou inovação modelo de negócio, contudo todos tem algo em comum: a importância que advém do ato, dinâmica e da vontade de inovar.
Pondo em perspetiva e assumindo que inovar gera toda uma nova atitude, uma possível vantagem competitiva a médio e longo prazo, entendo que, acima de tudo, se trata de agregar valor e criar uma rampa de lançamento para uma empresa. A inovação pode ser um dos maiores fatores diferenciadores numa organização, apesar de nem sempre ser fácil. A dificuldade passa por criar esta dinâmica de constante inovação e mudança ou mesmo percebê-la, mas isso fica para outro artigo.
Nestes artigos tento, por norma, focar-me em áreas que sejam relevantes à indústria e ao que a Portugal diz respeito. No que somos bons, medíocres, poderíamos ser melhores ou deixamos cair em esquecimento. E é com esta perigosa e forte afirmação que acabo de fazer, que opto por me focar na inovação e investimento na área hidrogénio, um dos temas em foco em Portugal.
À semelhança de outros temas atuais e de interesse público, fala-se um pouco por todo o mundo na importância do hidrogénio e da sua relação e intervenção na mobilidade (fazendo parecer que o hidrogénio não é das coisas mais abundantes que temos e que é uma descoberta recente).
Também numa altura que tanto é mencionada a bem dita, ou maldita, eminente crise energética, este elemento ganha uma tremenda força acabando por se tornar um fator de transição e diferenciação no mundo da mobilidade.
Mundo esse onde a evolução constante tende a não abrandar, sendo quase impossível contabilizar as tentativas constantes de criar novos, inovadores e mais sustentáveis modelos ou veículos de transporte.
Para iniciar o tema da melhor forma passo a explicar um pouco o meu entendimento sobre o que é o hidrogénio.
Representando pelo símbolo H, é um elemento de baixa densidade, tratando-se de um gás, mas claro está não é um gás qualquer. Na verdade, nas condições normais de temperatura e pressão, forma o H2, que também conhecemos da água (H2O).
A obtenção do hidrogénio vem maioritariamente da extração de combustíveis fósseis através de um processo químico. Contudo é passível de ser extraído da água via produção biológica, birreator de algas ou através da eletrólise, termólise e por aí em diante.
Existe, desde há muito tempo, um foco gigante no desenvolvimento de mais e melhores métodos de produção de hidrogênio e alternativas em larga escala, onde a ideia será sempre tornar o processo mais barato e acelerar ou impor uma economia deste elemento. Hoje isto ainda não é totalmente possível porque, como supramencionado, grande parte hidrogénio é produzido a partir do gás natural, o que anula seus benefícios ambientais e financeiros.
É o hidrogénio o futuro? Podemos sustentar que sim.
Olhando à nossa volta, começamos a ver carros movidos a hidrogénio serem comercializados, serviços de mobilidade, tal como autocarros (muitos deles até produzidos em Portugal), movidos com este elemento e a serem instalados nas grandes metrópoles. Este, na verdade, foi um dos temas debatidos na sessão da EDP, intitulado “O Futuro do hidrogénio”, na Portugal Mobi Summit. Neste fórum foi percetível uma clara orientação de Portugal a acompanhar as movimentações europeias e não se deixar cair em esquecimento, mostrando que tentamos estar alinhados com a temática “União Europeia no papel do hidrogénio na descarbonização”.
Entre as variadíssimas características tecnológicas da mobilidade assente em hidrogénio, existem algumas vantagens a serem escrutinadas, que o tornam tão revolucionário como especial. Podemos começar pelo facto de deixarem de existir emissões poluentes (discutível até certa medida porque alguns dos processos de obtenção de hidrogénio emitem), o reabastecimento torna-se simples e ágil, demorando cerca de cinco minutos até termos um carro totalmente carregado e podemos contar com uma autonomia excelente.
Contudo esta tecnologia, como todas as outras, tem alguns dissabores, entre os quais, a ainda existente limitação nas redes de abastecimento, como quando e onde armazenar o hidrogénio, e o próprio custo dessa tecnologia.
Como funciona um veículo movido a hidrogénio? Não sendo um total entendido no assunto, consigo compreender que nestes modelos fuel cell, os veículos se movem a energia elétrica, produzida a bordo, em vez de utilizarem rede externa. No fundo, continuam a ser alimentados e classificados como carros elétricos, no entanto são convencionais, uma vez que a sua autonomia e alimentação é totalmente diferente.
Para a locomoção destes veículos é necessário que, no interior do seu motor ocorra uma reação conhecida como eletrólise reversa, que liberta energia elétrica (que serve para locomoção e alimentação do motor), calor e água, que são expelidos do sistema. No fundo todo este processo, que parece confuso, é o que torna estes carros mais amigos do ambiente.
Em tom de conclusão, afirmo convictamente que devemos encarar este tema com bons olhos. São estes pequenos passos que começam a mostrar que as grandes organizações tendem cada vez mais a investir na mobilidade e se preocupam com o ambiente, adquirindo práticas e soluções mais ecológicas e eficientes, para os condutores e ambiente.
Devemos perder o devido tempo para valorizar e apreciar o incrível trabalho e desenvolvimento de empresas como a Caetano Bus, que colocam Portugal no mapa, porque se encontram na vanguarda e aplicação destas tecnológicas, e que atualmente produzem e instalam autocarros movidos a hidrogénio nas mais variadas capitais.
Como contrapartida e lado negro dessa história, temos o investimento feito na locomoção a combustão desde os seus primórdios que certamente cria resistência ao avanço de tecnologias alternativas e, não menos importante, os lobbies políticos e empresas criadas no nosso país, com intuito de monopolizarem e canalizarem todos e quaisquer fundos europeus para benefício próprio. Tema que merece destaque, mas que não é engenharia, é apenas má e corrupta política!
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