Chegou mais um ciclo eleitoral. Como já é hábito, as caixas de correio enchem-se de panfletos, slogans e promessas de um futuro melhor. Multiplicam-se os discursos sobre saúde, educação, habitação, infraestruturas, programas sociais, ambiente, sustentabilidade e outros temas que – ano após ano – fazem parte de um extenso catálogo de intenções.
Dirijo esta carta a todos os candidatos e candidatas, bem como às forças políticas que procuram conquistar a confiança da população. Faço-o não por desilusão, mas por sentido de dever enquanto cidadão atento e participante, consciente dos desafios que o país atravessa e, em particular, das necessidades e aspirações da nossa Vila.
Não se trata de apontar o dedo ao passado, nem de relembrar o que ficou por cumprir. Escrevo com o olhar voltado para o futuro, na esperança de que o próximo mandato possa finalmente marcar uma mudança de postura. O apelo que deixo é simples: deixem de apresentar promessas genéricas e passem a apresentar objetivos claros, exequíveis e com fundamento real. Que cada candidato se comprometa, de forma honesta, com aquilo que está verdadeiramente disposto e preparado para concretizar – e que não prometa o que sabe, à partida, que não poderá cumprir.
A população está cansada de promessas vãs. Mas mesmo com a descrença instalada, a esperança renasce a cada eleição. Essa esperança, contudo, exige responsabilidade. É altura de reconstruir a confiança entre eleitos e eleitores, com ética pública, verdade e compromisso com o bem comum. Esta não é uma tarefa fácil – exige coragem, integridade e visão estratégica. Só os que estiverem preparados para enfrentar essa exigência devem candidatar-se.
O que não pode continuar é o afastamento entre quem governa e quem vive diariamente os problemas da comunidade. A ausência de visão e de planeamento de longo prazo é clara. As instituições locais – escolas, associações, IPSS, clubes, empresários – continuam, demasiadas vezes, fora da equação. A gestão autárquica não se pode fazer de forma isolada, nem em circuito fechado. É preciso escutar, incluir e trabalhar em conjunto.
Esperamos que o próximo mandato seja orientado pela coragem de servir, pela seriedade de reconhecer limites e pela responsabilidade de decidir com justiça. Que saibam dizer “não” quando for necessário, em vez de alimentar falsas esperanças. E que digam “sim” com sentido de compromisso, quando estiverem verdadeiramente preparados para concretizar.
Que o foco seja, sempre, na melhoria das condições de vida da população e na sustentabilidade das instituições. Não há mais espaço para decisões que favorecem poucos e prejudicam muitos. A política local deve voltar a ser o que nunca devia ter deixado de ser: um serviço público.
A história julgará cada um de nós, mas será especialmente implacável com aqueles que traírem a confiança dos que os elegeram. Que cada decisão, cada escolha e cada palavra dita em campanha reflita respeito, consciência e verdade.
Não sejamos lembrados como uma geração omissa. Sejamos agentes de mudança – cidadãos e representantes que escolheram, com clareza, o lado certo da história.
Com sentido de responsabilidade,
Um cidadão da Vila de Joane
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