As instituições do sector social têm no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) uma “extraordinária oportunidade para continuar a reinventar as suas respostas”. Foi desta forma que Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social reagiu à intenção da Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave de se candidatar a financiamento da chamada “bazuca” europeia para criar na vila um centro de formação em saúde.
O projeto da instituição ribadavense foi esboçado à governante pelo respetivo administrador-delegado, Salazar Coimbra, durante o colóquio que a Concelhia do PS Famalicão levou a cabo, na noite da última quarta-feira, para debater o contributo do Terceiro Sector para a recuperação e a sustentabilidade social do país.
Tratou-se da primeira sessão de um ciclo de cinco colóquios designado genericamente por “Famalicão 2030 – Cinco aceleradores de desenvolvimento”, que decorreu no espaço exterior da Casa do Território. Nas próximas semanas, por Vila Nova de Famalicão vão estar outras figuras nacionais do PS para debater com cidadãos independentes e líderes de opinião famalicenses quatro sectores ou temas que Eduardo Oliveira, líder da Concelhia do PS, considera serem “aceleradores da recuperação socioeconómica e do desenvolvimento do país e do concelho”.
Apesar de participar na iniciativa como membro do Secretariado Nacional do seu partido, Ana Mendes Godinho destacou o facto de o PRR ser um “instrumento facilitador do investimento infraestrutural e em qualificações” ao alcance do sector social.
“A intenção é interessantíssima. Permite requalificar e capacitar quem trabalha nas vossas instituições e formar para novas funções, para que não voltemos a ser surpreendidos, como quando tivemos o primeiro surto de covid num lar, aqui em Famalicão. Agora, há que acelerar a execução. Acelerar é a palavra, porque me parece que o projeto se encaixa perfeitamente no programa Valorizar Social”, afirmou a dirigente nacional do PS, em resposta ao gestor da Santa Casa ribadavense.
CONSTRUÇÃO DO CENTRO DAS DEMÊNCIAS DE RIBA DE AVE QUASE PRONTA
Salazar Coimbra, que falava no período de debate da sessão, destacou as virtualidades do projeto, de características únicas em Portugal. Pode contribuir para a formação de novos profissionais de saúde em áreas ainda não cobertas pela oferta formativa atual, nomeadamente na área hospitalar e nos cuidados continuados, passando pela atualização das competências de pessoas ligadas à ação médica e de enfermagem, auxiliares, cozinha, limpeza e logística.
“Estamos a pensar também nos cuidadores informais, dada a expressão cada vez maior que esta realidade atinge na sociedade portuguesa e as suas necessidades de informação e capacitação”, acrescentou o conhecido médico famalicense, que estava acompanhado pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave, Fernando Guedes.
Na oportunidade, o mesmo responsável informou que deverão terminar, no final de agosto, as obras de construção do Centro de Investigação, Diagnóstico, Formação e Acompanhamento das Demências. Apesar disso, ainda não foi vencida toda a tramitação administrativa e de licenciamentos para a sua entrada em funcionamento, tendo apelado, ali mesmo, à intervenção da ministra Ana Mendes Godinho.
Esta retorquiu que uma das suas “tarefas prioritárias” nesta altura é “fechar o nosso Simplex Social”, para “simplificar os processos de licenciamento e não atrasar as boas ideias sem necessidade”. Aliás, prosseguiu, “peço os vossos contributos nesta matéria, para a simplificação refletir as necessidades de quem está no terreno e servir para continuarmos a escalar e a evoluir, a sermos mais eficientes”.
Quanto à formação, a dirigente socialista que no Governo tutela a Segurança Social salientou que importa considerar também os dirigentes das instituições do Terceiro Sector, e não apenas o pessoal ao seu serviço. Porque, ajuntou, há competências que são “dimensões do PRR” e com as quais os dirigentes de IPSS, associações e cooperativas sem fins lucrativos têm de estar familiarizados: para além do social, a gestão energética e a sociedade digital, por exemplo.
ANA MENDES GODINHO DESEJA “MAIORES SUCESSOS” A EDUARDO OLIVEIRA
Na sua intervenção, Ana Mendes Godinho referiu-se também aos impactos das perdas demográficas em Portugal e na Europa. Aqui, realçou a importância das alterações que o Governo tem introduzido, nos últimos anos, em matéria de salário mínimo nacional e de política de rendimentos e o papel que cada vez mais autarquias chamam a si no apoio à natalidade e à atração de jovens casais para o seu território.
O decréscimo do número de nascimentos na comunidade famalicense é um facto: a Associação de Moradores das Lameiras tem visto diminuir a procura do berçário de ano para ano, informou, no período de perguntas e respostas, a dirigente da instituição, Carla Faria.
Neste capítulo, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social prosseguirá com as medidas de apoio aos estágios e ao primeiro emprego, à entrada de jovens qualificados no mercado de trabalho e no combate à pobreza. Continuarão a ser, a par do envelhecimento ativo e em qualidade, objetivos centrais da sua ação política.
A terminar, Ana Mendes Godinho desejou os “maiores sucessos” e “boa energia” ao seu camarada Eduardo Oliveira nas eleições autárquicas de 26 de setembro.
No colóquio fizeram-se ouvir também o dirigente socialista famalicense e candidato a vereador pelo PS Sérgio Cortinhas, que defendeu o reforço do papel de interface, entre a Câmara Municipal e a sociedade civil famalicense, do Conselho Local de Ação Social, e o ativista social e presidente da Associação Gerações, Mário Martins. Este orador deu testemunho das dificuldades que a pandemia colocou às associações de solidariedade social, que tiveram de refazer processos, rever modelos de intervenção e reinventar formas de atuação para “não falharem às pessoas”.
Da experiência “fica a lição para todos e a aprendizagem de trabalharmos em rede e em ambiente de entreajuda”, a favor da sustentabilidade social do país e o apoio às vidas mais vulneráveis, apontou.
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