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Domingo, 6 Outubro 2024

Somos cada vez menos para cuidar de mais pessoas

O país envelheceu. Somos cada vez menos para cuidar de pessoas que necessitam de cuidados. A falta de conhecimentos sobre a doença e sobre as técnicas de como cuidar são as principais dificuldades enfrentadas pelos cuidadores informais.

3 min de leitura
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Susana Dias
Susana Dias
Socióloga, mestre pela Universidade do Minho, pós-graduada em Gestão e Administração em Saúde e apaixonada pela geriatria. É diretora clínica da Oldcare Famalicão.

Famalicão

O envelhecimento da população portuguesa é hoje uma realidade problemática devido à evolução demográfica das últimas décadas. As pessoas vivem mais em consequência da melhoria das condições de vida e de acesso a cuidados de saúde, o que, copnjugado com outros fatores, diminuiram a natalidade e melhoraram a sobrevivência dos indivíduos.

O processo de envelhecimento prevê transformações e empobrecimento das redes sociais, como é o caso da reforma, viuvez ou a mobilidade dos mais jovens para outras regiões.

Esta situação é mais visível nas zonas do interior marcadas com a saída da população mais jovem. Por outro lado, as alterações familiares, nomeadamente a quebra da natalidade e a maior participação da mulher no mercado de trabalho, fazem com que haja menos familiares disponíveis para prestarem cuidados às pessoas idosas. Ainda assim, são os familiares que maioritariamente vão assegurando os cuidados aos mais velhos.

As redes informais, formadas por familiares, vizinhos e amigos, assumem um maior suporte para a manutenção da autonomia, saúde mental e integração social. Os vizinhos e amigos têm um papel importante ajudando muitas das vezes a prevenir situações de solidão, principalmente das pessoas que vivem sozinhas.

Segundo os dados de Eurostat, em 2016, 7% das mulheres portuguesas com 75 e mais anos e 4,8% dos homens da mesma faixa etária prestam cuidados informais na mesma casa, o que aponta para o cuidado a cônjuges.

Mas os cuidados informais são assumidos principalmente pelas mulheres, sobretudo da faixa etária entre os 55 e os 64 anos, com dados que apontam que 14% dão apoio informal na sua casa ou a pessoas que vivem noutro domicílio, nomeadamente a crianças e idosos.

Os cuidadores informais ajudam nas tarefas diárias, proporcionam companhia e ajudam na toma da medicação. O cuidado à população idosa em Portugal é assumido sobretudo pela família, especialmente pelos cônjuges e filhas.

Segundo a estimativa da Eurocarers, em 2017, existiam 827 mil cuidadores informais, sendo que 200 mil exerciam a função a tempo inteiro. Somos cada vez menos para cuidar de pessoas que necessitam de cuidados.

No entanto, o grande problema dos cuidadores é a falta de preparação para desempenharem esse papel porque existe um desconhecimento dos cuidados prestados. A falta de conhecimentos sobre a doença e sobre as técnicas de como cuidar são as principais dificuldades do cuidador na prestação dos cuidados.

Muitas das vezes a alta hospitalar deve ser preparada no momento em que o doente entra no hospital e não apenas no momento em que tem alta. É importante envolver a família nas decisões clínicas e sobretudo na prestação de cuidados para que ela possa aprender a cuidar no domicílio.

É necessário melhorar os contextos de envelhecimento. É fundamental implementar medidas que promovam uma vida autónoma e independente, o que implica promover respostas sociais e de saúde adaptadas e direcionadas às especificidades das pessoas.

O país envelheceu porque a esperança média de vida aumentou. Vive-se mais tempo pelo que o número de pessoas idosas vai continuar a aumentar.

Os dados apresentados mostram que é necessário melhorar os contextos de envelhecimento. É fundamental implementar medidas que promovam uma vida autónoma e independente, tornando-se necessário promover respostas sociais e de saúde adaptadas e direcionadas às especificidades das pessoas.

A população idosa deve ser incluída na discussão e na elaboração de medidas adequados aos seus perfis e aos contextos de envelhecimento.

Ainda que a institucionalização possa ser uma alternativa, a rede de cuidados continuados tem uma reduzida capacidade de resposta para o elevado número de casos. Seria desejável assegurar aos cuidadores a respetiva formação e proporcionar um apoio financeiro adequado à natureza das tarefas desempenhadas.

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Susana Dias
Susana Dias
Socióloga, mestre pela Universidade do Minho, pós-graduada em Gestão e Administração em Saúde e apaixonada pela geriatria. É diretora clínica da Oldcare Famalicão.
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