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Sábado, 27 Abril 2024
Paulo Barros
Economista famalicense.

Como falar de eleições sem referir o resultado

Alguns dias fazem-nos velhos cem anos.

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Paulo Barros
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Famalicão

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Domingo, dia de eleições, e um contentamento cá por dentro: é que eu voto na minha escola primária. Como então se dizia.

Como não vou para novo, imaginarão que não fosse a primeira vez. E de facto. Mas vicissitudes várias arredaram-me para outras circunscrições ao longo dos últimos anos, demasiados.

E em todo o tempo que me demorou a sortida desde casa para cumprir o desiderato, acalentava-me a memória vívida da aproximação à urna: na sala de aula minúscula, que se cruza em quatro passos (de adulto), havia na parede o mapa amarelecido de Portugal dividido em províncias; havia logo à entrada o estrado junto ao quadro negro, envolto numa névoa de giz; havia o soalho gasto e rabugento de mil passos antes dos meus. Dos meus também. Os meus antes dos meus.

E as carteiras de miniatura, impossíveis de conceber na sua inverosimilhança. Naquelas carteiras erigidas em fortalezas inexpugnáveis, fui eu um guerreiro temível que travava as batalhas do Flash Gordon, apontando baterias de marcadores às carteiras vizinhas. Já a cruz tinha sido retirada da parede: de cada vez que ia votar perguntava-me se a teriam tirado de vez ou se seria só por aquele dia…

Era tudo isso que antecipava já, a caminho da escola. O desgosto foi grande quando me deparei com as urnas desta feita montadas nos espaços comuns. Estavam as salas de aulas fechadas, e fico sem saber se o quadro de ardósia foi convertido num ecrã multimédia.

Devo dizer: fizeram-se obras. Não vou discutir se se fizeram para melhor, com toda a certeza assim foi (a pose de Velho do Restelo não me convém). Mas há um tom monocórdico de cinzento – as paredes cinzentas, os alumínios, os equipamentos deslavados – que se propaga pelos corredores, e tudo contamina.

Naqueles corredores, senhores: serviam-nos o leite que todas as manhãs vinham despejar em jarros de plástico carcomido. Até hoje, nunca mais me esqueci do leite com sabor a plástico. E era só: em 1983 o que mais havia eram crianças que chegavam à escola em jejum. Pensar que já por essa altura estávamos muito melhor do que as gerações anteriores. E com isto digo que muita gente não faz ideia de onde vimos.

Nas traseiras, o terreiro deu lugar a um campo de jogos, engaiolado, onde nenhumas folhas adornam o piso de tartan. Quase não há árvores, e que assim seja é um desconsolo para a vista. Ali eu agarrei a Clara no jogo da apanha, e fui celebrado como o último herói da parada; ali eu, numa vez sem exemplo em que ia à baliza, rasguei um par de calças de me atirar para o chão como o Schumacher fazia.

Não me interpretem mal: também tínhamos uns lugares esconsos e malcheirosos onde íamos fazer as necessidades. Era preciso acertar num buraco que havia no chão, e a pontaria refinava-se porque se praticava no escuro. É verdade, não havia luz. Podíamos estar em 1983, mas a escola vinha do fundo dos tempos.

Cruzei-me com um conhecido, depois outro: trocaram-se cumprimentos de circunstância. A verdade é que estava já de saída, terei sido indelicado. E se me leem agora? Espero que me perdoem.

É que seguia metido numa conversa comigo mesmo. Veio-me tudo junto: calhou fixar o olhar na escadaria que leva ao primeiro piso. Do alto da sacada, numa algazarra de pássaros enfim livres, acenavam-me muitos rostos e muitos nomes. Crianças que fomos, enfiadas em camisolas tricotadas pelas mães, galochas garridas, cabelos de risco ao meio. Deu-me uma raiva. O que é feito deles? Sei lá eu.

Tinha a vida toda pela frente. Ia ser astronauta.

Alguns dias fazem-nos velhos cem anos.

Pois estava feito. Fiz-me de forte e estuguei o passo de volta a casa. Daqui a uns poucos de meses será a vez do meu miúdo. O primeiro que fiz foi abraçá-lo, só porque sim.

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