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Vila Nova de Famalicão
Domingo, 23 Março 2025
António Cândido de Oliveira
António Cândido de Oliveira
Professor catedrático jubilado da Faculdade de Direito da Universidade do Minho.

Jornal que não incomoda, não presta

Quanto mais o poder esconde informação, mais crítica merece. Esconder informação é logo motivo para suspeitar.

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António Cândido de Oliveira
António Cândido de Oliveira
Professor catedrático jubilado da Faculdade de Direito da Universidade do Minho.

Famalicão

Talvez seja interessante começar lembrando uma pequena história verdadeira. Dava a democracia local em Portugal os primeiros passos, poucos anos depois das primeiras eleições e o presidente da câmara de Vila Nova de Famalicão, de então, ordenou a proibição da entrada na Biblioteca Municipal de um jornal acabado e sair há pouco tempo (Vila Nova era o seu nome). A razão era simples: o jornal publicou uma notícia que não agradava ao presidente. Não era um insulto, não era um ataque pessoal, era apenas uma crítica a actos por ele praticados.

Hoje a reação do poder, principalmente a nível local, é mais sofisticada. Sabendo-se como se sabe as dificuldades financeiras de publicar um jornal com interesse, a câmara corta na publicidade, desviando-a para os jornais que aprecia. Isso é prática corrente hoje quando vamos a caminho de 50 anos de democracia local com órgãos eleitos.

A imprensa local tem de escolher: ou lisonjeia a câmara de turno ou se a incomoda, se diz coisas de que ela não gosta, sabe o que lhe acontece. A imprensa local é livre de escolher….

Agradam-me os jornais – e este é um exemplo – que incomodam o poder em funções.

Incomodar o poder não é apenas um direito da imprensa local. É um dever. Jornal que não critica os actos da câmara que, a seu ver, de tal são  merecedores não cumpre o seu dever, não presta.

Sabendo-se como se sabe as dificuldades financeiras de publicar um jornal com interesse, a câmara corta na publicidade, desviando-a para os jornais que aprecia.

É preciso não esquecer que os eleitos locais no exercício das suas funções cometem erros, fazem coisas que não deviam e isso é natural no ser humano. O que não é natural numa sociedade evoluída, numa sociedade democrática é que os eleitos persigam os jornais de que não gostam.

Quando um jornal exerce a sua função crítica está ao mesmo tempo a fortalecer a democracia no município onde exerce a sua actividade (os ditadores não toleram a crítica) e   está a contribuir para o melhor governo local.

Alguns detalhes mais, num texto que pretendo ser breve.

É fácil saber onde se situa um jornal.

A primeira página é elucidativa. Vejam os títulos e as fotos e tiram logo conclusões. O jornal ou jornais que estão ao serviço do poder até podem ter uma ou outra opinião regular crítica, mas ela ou elas apenas disfarçam (o que já não é mau, pois outros nem isso).

Nos jornais online saber onde se situam também não é difícil, bastando ver as notícias que têm destaque.

Um jornal livre, plural e independente – que é o que precisamos – é equilibrado e dá as notícias que existem sejam positivas ou negativas e investiga o que é duvidoso, principalmente quando o poder esconde informação.

E quanto mais o poder esconde informação, mais crítica merece. Esconder informação é logo motivo para suspeitar.

(Escrito por ocasião do 4.º aniversário do NOTÍCIAS DE FAMALICÃO)

 

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Os artigos de opinião publicados no NOTÍCIAS DE FAMALICÃO são de exclusiva responsabilidade dos seus autores e não refletem necessariamente a opinião do jornal

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