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Vila Nova de Famalicão
Quinta-feira, 5 Dezembro 2024
António Cândido de Oliveira
António Cândido de Oliveira
Professor catedrático jubilado da Faculdade de Direito da Universidade do Minho.

Jornal que não incomoda, não presta

Quanto mais o poder esconde informação, mais crítica merece. Esconder informação é logo motivo para suspeitar.

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António Cândido de Oliveira
António Cândido de Oliveira
Professor catedrático jubilado da Faculdade de Direito da Universidade do Minho.

Famalicão

Talvez seja interessante começar lembrando uma pequena história verdadeira. Dava a democracia local em Portugal os primeiros passos, poucos anos depois das primeiras eleições e o presidente da câmara de Vila Nova de Famalicão, de então, ordenou a proibição da entrada na Biblioteca Municipal de um jornal acabado e sair há pouco tempo (Vila Nova era o seu nome). A razão era simples: o jornal publicou uma notícia que não agradava ao presidente. Não era um insulto, não era um ataque pessoal, era apenas uma crítica a actos por ele praticados.

Hoje a reação do poder, principalmente a nível local, é mais sofisticada. Sabendo-se como se sabe as dificuldades financeiras de publicar um jornal com interesse, a câmara corta na publicidade, desviando-a para os jornais que aprecia. Isso é prática corrente hoje quando vamos a caminho de 50 anos de democracia local com órgãos eleitos.

A imprensa local tem de escolher: ou lisonjeia a câmara de turno ou se a incomoda, se diz coisas de que ela não gosta, sabe o que lhe acontece. A imprensa local é livre de escolher….

Agradam-me os jornais – e este é um exemplo – que incomodam o poder em funções.

Incomodar o poder não é apenas um direito da imprensa local. É um dever. Jornal que não critica os actos da câmara que, a seu ver, de tal são  merecedores não cumpre o seu dever, não presta.

Sabendo-se como se sabe as dificuldades financeiras de publicar um jornal com interesse, a câmara corta na publicidade, desviando-a para os jornais que aprecia.

É preciso não esquecer que os eleitos locais no exercício das suas funções cometem erros, fazem coisas que não deviam e isso é natural no ser humano. O que não é natural numa sociedade evoluída, numa sociedade democrática é que os eleitos persigam os jornais de que não gostam.

Quando um jornal exerce a sua função crítica está ao mesmo tempo a fortalecer a democracia no município onde exerce a sua actividade (os ditadores não toleram a crítica) e   está a contribuir para o melhor governo local.

Alguns detalhes mais, num texto que pretendo ser breve.

É fácil saber onde se situa um jornal.

A primeira página é elucidativa. Vejam os títulos e as fotos e tiram logo conclusões. O jornal ou jornais que estão ao serviço do poder até podem ter uma ou outra opinião regular crítica, mas ela ou elas apenas disfarçam (o que já não é mau, pois outros nem isso).

Nos jornais online saber onde se situam também não é difícil, bastando ver as notícias que têm destaque.

Um jornal livre, plural e independente – que é o que precisamos – é equilibrado e dá as notícias que existem sejam positivas ou negativas e investiga o que é duvidoso, principalmente quando o poder esconde informação.

E quanto mais o poder esconde informação, mais crítica merece. Esconder informação é logo motivo para suspeitar.

(Escrito por ocasião do 4.º aniversário do NOTÍCIAS DE FAMALICÃO)

 

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António Cândido de Oliveira
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Professor catedrático jubilado da Faculdade de Direito da Universidade do Minho.