Quando a Acácia do Jorge ainda outra vez inflore,
Chamai-me, que eu de Abril nas auras voltarei.
Camilo Castelo Branco
Provavelmente, a imagem que ilustra este texto é a última fotografia da árvore centenária que estava junto à escadaria de pedra no terreiro da Casa de Camilo, em São Miguel de Ceide. Na verdade, não se trata de uma acácia, mas de uma robínia.
Uma árvore que ficou imortalizada na literatura camiliana, pois reza a história que foi plantada em 1871 por Jorge, o “filho louco” de Camilo Castelo Branco, o romancista que adorava árvores.
Fiz esta fotografia há pouco mais de um mês, no dia 12 de outubro de 2024, durante uma visita à casa do génio de São Miguel de Ceide. Foi na sequência dessa visita, aliás, que no meu último texto para esta coluna escrevi com detalhe sobre Uma ideia para levar a Casa de Camilo à “Liga dos Campeões” do turismo [ler aqui].
Esta segunda-feira, 18 de novembro, com o museu fechado, a motosserra da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão não perdoou e cortou a icónica árvore, que estava severamente doente. Salvou-se apenas um rebento, que despontou na caixa de terra que a circundava, desde o início dos anos de 1980, precisamente numa operação no sentido de proteger a vetusta árvore.
Estranhamente, é a própria Câmara Municipal a anunciar a abertura de um inquérito para averiguar o que se passou e encontrar o responsável ou os responsáveis pelo abate. O caso – digno de uma novela camiliana – é polémico e as explicações são necessárias.
Tanto mais que, no mundo civilizado, não faltam exemplos de árvores icónicas que morrem de pé e que permanecem preservadas à vista de todos, como símbolos de um tempo, de uma cultura, de uma era. O anunciado inquérito, vai, certamente, trazer o esclarecimento necessário para entendermos o misterioso abate.
Uma decisão desta natureza teria de vir a público antes de ser tomada, teria de ser cabalmente explicada aos cidadãos e jamais poderia ter sido tomada nas costas dos famalicenses que, mais uma vez, são colocados perante um facto consumado.
É o caráter nada transparente deste processo – um denominador comum a outras decisões do executivo municipal de Mário Passos – que o transforma num caso muito polémico. As opiniões quanto ao abate da “Acácia do Jorge” dividem-se.
Abater uma árvore tão antiga e tão emblemática não é uma decisão qualquer. Muito mais do que uma decisão técnica, é uma decisão política da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, que exige que seja assumida uma responsabilidade igualmente política. Vamos aguardar.
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