Finalmente, depois de inúmeras prorrogações, as obras no centro da cidade foram inauguradas. Quanto tempo passou depois das sucessivas prorrogações? Como foi possível isto acontecer? Claro, usa-se a covid-19 e a guerra como justificativa para tudo.
A principal razão, na minha opinião, foi uma grande ambição de fazer uma obra “faraónica” para deixar uma marca em Famalicão. Concordo com a parte conceptual, isto é retirar uma parte dos carros do centro, devolvendo a cidade aos peões.
O atraso da obra deve-se uma coisa que ainda é muito difícil de fazer, que é planificação e organização.
Como já referi este conceito de cidade parece-me interessante e que se devia refletir noutras partes da cidade nomeadamente na ligação da “da baixa” ao Parque da Devesa passando pela estação de autocarros (onde provavelmente não era necessário gastar tanto betão).
A execução da ideia é que (na minha opinião e não só) é que foi péssima. Podia haver mais inclusão de espaços verdes.
A impermeabilização de todo o solo com betão para depois colocar umas lajetas sobredimensionadas na altura foi gastar recursos não só económicos, mas também ambientais.
Tenho dúvidas sobre o sistema de drenagem de águas pluviais depois da impermeabilização total do solo – espero estar enganado.
Para alem do custo das lajetas ainda há referir a sua cor escura combinado com sua espessura é um excelente acumulador de calor no verão. A “inércia térmica” só vai aumentar o calor naquela zona e vai contribuir para o aumento da temperatura naquela naquela área. Só será confortável andar ali no inverno (se a drenagem de águas funcionar).
Conclusão: um conceito interessante transforma-se num desastre na sua concretização.
Esta obra foi feita foi feita com o mesmo conceito do “Plano Voisin de Paris Le Corbusier 1924”. Hoje é quase unanime que a cidade é feita por camadas, pois a memória faz parte do nosso património. Passados quase 100 anos o mesmo conceito é aplicado neste projeto. Fez-se quase tábua rasa as pré-existências, nomeadamente a uma boa parte da calçada existente e outras memórias.
A somar a isto temos o quiosque que me parece inspirado num dos grandes arquitectos do século XX, o arquitecto modernista Ludwig Mies van der Rohe.
Mies van der Rohe fez o pavilhão alemão para a Feira Mundial de 1929 em Barcelona (também conhecido como Pavilhão Barcelona).
Saliento que este arquiteto tinha um grande domínio de construção e de um rigor extremo.
Nas imagens que se seguem, o “pavilhão” de Famalicão