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Sábado, 5 Outubro 2024

Perguntas & Respostas. Como nascem as nossas amizades

O local de trabalho constitui um grande desafio para as “verdadeiras amizades”. Embora haja estudos que indicam que trabalhar entre amigos torna as pessoas mais produtivas, a hierarquia dentro das empresas pode colocar as amizades em risco.

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Como e onde é que nascem as amizades? E por que é que construímos e destruímos os nossos relacionamentos com amigos? Oito perguntas e respostas sobre um tema que interessa a todos.

1 – Por que fazemos amigos?
Basicamente, porque os amigos nos fazem bem: são companheiros, confidentes, cúmplices. É aos amigos, aos grandes amigos, que contamos tudo, ou quase tudo, o que nos acontece na vida, seja de bom ou de mau. O amigo é aquela pessoa que está sempre disponível para nos ajudar. Uma espécie de porto de abrigo.

Hormonas que provocam sensações de prazer e felicidade, como a ocitocina, estão diretamente envolvidas nas relações de amizade. Além disso, outros estudos já provaram que ter bons amigos pode aumentar nossa expectativa de vida, diminuir as hipóteses de desenvolvermos uma doença cardíaca e melhorar a nossa saúde mental na vida adulta.
Afinal, um bom amigo (ou uma boa amiga) é sempre um fator de segurança e tranquilidade. Os amigos dão-nos um suporte. É por isso que queremos ter amigos e fazemos amizades.

Há estudos que demonstram que quando precisamos de ajuda financeira tendemos a recorrer aos familiares, mas se precisamos de abrir o nosso coração a alguém sobre o que está a acontecer, normalmente, é aos amigos que recorremos.

Entre amigos, sentimo-nos valorizados, queridos e compreendidos. “Os amigos satisfazem as nossas necessidades sociais e também oferecem apoio emocional”, diz Beverley Fehr, professora do Departamento de Psicologia da Universidade de Winnipeg, no Canadá, citada pela revista brasileira “Gama”.

2 – Quantos amigos podemos ter?
Ao contrário do que as redes sociais podem sugerir, parece haver um limite biológico para o número de amizades que conseguimos manter.

Estudos realizados depois do surgimento do Facebook – rede social de alcance planetário que pôs em evidência essa temática, ao prometer-nos milhares de amigos à distância de um clique ou de um toque no ecrã – só há espaço no nosso cérebro para gerir o relacionamento com um máximo de 150 amigos. Os restantes serão apenas conhecidos. “É um limite cognitivo no cérebro”, dizem os antropólogos. Além disso, também há uma limitação de tempo: para criar verdadeiras amizades nós temos de investir nas pessoas, manifestando interesse genuíno nelas, e o tempo não é infinito.

Em 2011, uma investigação da Universidade de Cornell identificou que a grande maioria dos adultos tem apenas dois “melhores amigos”, isto é, pessoas que os entrevistados consideravam como confidentes.

Se a amizade for pensada e vivida como um relacionamento em que há confiança, interdependência, abertura mútua, suporte emocional e social, essas qualidades dificilmente estariam presentes quando uma pessoa tem um grande número de amigos.

3 – É possível ter amigos no trabalho?
O local de trabalho constitui um grande desafio para as “verdadeiras amizades”. Embora haja estudos que indicam que trabalhar entre amigos torna as pessoas mais produtivas, a hierarquia dentro das empresas pode colocar as amizades em risco. E isto faz sentido, uma vez que a amizade é essencialmente um relacionamento entre iguais. Ora, a diferença de estatuto entre duas pessoas no local de trabalho pode deteriorar a amizade.

“É possível fazer amigos [no ambiente de trabalho], especialmente se estão no mesmo cargo. A complicação é se um dos amigos é subordinado ao outro: aí pode haver acusações de favoritismo ou situações difíceis quando alguém precisa escolher entre a amizade e o que é melhor para a empresa”, diz a socióloga Jan Yager, autora de diversos livros sobre o assunto.

4 – Por que é mais difícil fazer amigos depois de uma certa idade?
A dificuldade para fazer amigos à medida que a idade avança é uma sensação que tem a ver com os rumos que a vida toma. Depois da nossa vida académica, entramos numa rotina de trabalho, casamos, temos filhos e ficamos com menos tempo e espaço para fazer novos amigos.

Em grande parte da vida adulta, as pessoas são consumidas pela família e pelo trabalho. Para quem muda de cidade ou de país, por exemplo, pode ser difícil fazer novos amigos porque as pessoas com quem cruzamos caminhos já têm uma vida ocupada.

5 – Por que algumas amizades permanecem e outras se perdem?
Aquele grupo de amigos, grande e unido, dos tempos da escola secundária acaba por encolher para dois ou três amigos de infância.

A resposta está nos caminhos diferentes que seguimos pela vida fora. Mudança de cidade ou de país, filhos e um emprego exigente são fatores que explicam a perda de muitos dos nossos amigos da adolescência e da juventude. Depois ainda há aqueles casos em que duas amigas dos tempos da escola revelam filosofias diferentes quando ingressam na vida ativa: uma escolhe ser mãe e dedicar-se à casa e à família e outra prefere focar-se na carreira. Esta diferença de atitudes perante a vida também compromete a amizade entre elas, quase sempre contra a vontade das próprias, dado que novas circunstâncias acabam por dificultar a continuidade do contacto.

Só as amizades mais próximas conseguem superar esses obstáculos. E uma das principais razões pelas quais esses vínculos se mantêm é a identificação com os interesses e a visão do mundo da outra pessoa. No fundo, os nossos amigos tendem a ser como a gente.
Aliás, as amizades mais duradouras envolvem o apoio às nossas identidades sociais, como indicam alguns estudos. “Ter amigos tem a ver com a validação das nossas visões e crenças. Somos atraídos por pessoas que vão reforçar que temos as opiniões e as atitudes ‘certas’ e também preferimos não passar o nosso tempo com pessoas que vão discordar de nós. Se não temos nada em comum, vai ser bem mais desafiante e menos recompensador interagir”, diz Beverley Fehr.

6 – As amizades terminam de vez?
Se as diferenças forem inconciliáveis, ou se a origem do corte de relações tiver sido muito grave, o mais provável é que as amizades possam terminar de vez. É mais comum ver uma amizade terminar com um afastamento gradual em vez de terminar subitamente. Estudos holandeses demonstram que mais da metade das amizades acabam depois de sete anos.

7 – O amor estraga as amizades?
Perder um amigo que começou a namorar é muito comum. E a explicação é simples: tempo. “Qualquer nova amizade exige que investamos tempo para aprender sobre a pessoa e construir uma relação com ela, e esse tempo não pode ser dado a outra pessoa. O mesmo é verdade, mas pior, num relacionamento amoroso”, explica o investigador Robin Dunbar.

Mas com paciência e bom senso tudo pode ser resolvido. Também com tempo. E se o romance der certo os amigos vão encontrar tempo uns para os outros, e a amizade não tem que acabar para sempre só porque apareceu um novo amor.

8 – É possível fazer webamigos?
Durante o isolamento social motivado pela pandemia da Covid-19, a Internet tornou-se fundamental para manter a chama das amizades acesas. Na maior parte dos casos, essas eram relações que já existiam antes, fora do mundo virtual – mas será que é possível conhecer amigos pela Internet e mantê-los apenas assim? “Sim, mas não frequentemente”, é a aposta de Robin Dunbar. “Os nossos estudos mostram que a Internet é boa para impedir que as amizades se percam com o tempo, mas não tão boa para criá-las. Precisamos ver a pessoa em carne e osso, e de ser capazes de tocá-la.”

A questão é polémica, pois não sabemos ao certo quanto contacto humano é exigido pelas amizades. Algumas pesquisas mostram que as amizades que fazemos online são superficiais e não particularmente satisfatórias, enquanto outras revelam que as pessoas podem formar e sustentar laços de amizade online.

Adaptado: Gama

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