Existe uma lei que não está escrita em lugar algum, nem precisa ser promulgada para que se sobreponha a tantas outras. É a Lei da Confidencialidade entre pessoas “humanas”.
A confidencialidade é, antes de tudo, um ato de amor e um ato de grande responsabilidade. De amor, porque alguém nos elegeu como guardião de um segredo, de uma fragilidade, de uma vulnerabilidade, ou uma dor profunda; de responsabilidade, porque temos o dever de perceber que, esse alguém está a oferecer-nos a parte mais frágil de si próprio, aquela que não mostra a mais ninguém, isso implica fidelidade/amor!
Guardar um segredo é muito mais do que calar palavras. É saber guardar com preciosidade a alma de alguém, é proteger um tesouro invisível em forma de silêncio absoluto daquilo que nos foi confiado.
É preciso lembrar que a vulnerabilidade que alguém nos entrega, nos oferece, nos confia é intocável. Não se toca, nem por vingança, nem por descuido, nem muito menos, para provocar dano ou prejuízo ao Outro.
Não é fácil assumir as nossas dores ou as nossas inseguranças, porque ao cabo e ao resto, quando o fazemos, estamos, indubitavelmente, a contar quem somos de verdade! E, isto não é nada fácil! Há sempre o medo submerso do julgamento e, pior ainda, há um medo quase intrínseco que o segredo, por alguma razão seja, um dia, revelado. Afinal, haverá sempre esse risco. Mas, mesmo assim confiaram em nós!
O que nos define como pessoas “humanas” é tornarmo-nos os guardiões da alma de quem nos elegeu para confiar.
Infelizmente, vivemos tempos em que a confiança e a lealdade são perfuráveis.
Hoje, é trivial causar danos, tantas vezes irreparáveis a quem um dia nos elegeu como amigo leal.
Hoje, é banal expor a “nu” os segredos confiados. Sem pudores! Sem remorsos!
O que as pessoas não sabem é que, uma das maiores provas de amor-próprio e de amor ao próximo é decidir conscientemente guardar os segredos confiados. Porque fidelidade é amor e amar! É decidir não causar mais dor, precisamente no momento em que o poderíamos fazer! No momento, em que a raiva grita por vingança!
E, que grande bênção, como disse Séneca, é ter um amigo com um coração tão confiável que possa enterrar nele em segurança todos os nossos segredos!
Que todos tenhamos dentro de nós a sabedoria de enterrar no subsolo da nossa vontade irada, os mil segredos que não nos pertencem!
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