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Vila Nova de Famalicão
Quinta-feira, 25 Abril 2024
Raphael de Souza
Nasceu em 1997 em Vila Nova de Famalicão. É licenciado em Línguas e Literaturas Europeias pela Universidade do Minho. É também mestre em Língua, Literatura e Cultura Inglesa pela mesma academia, com tese em Literatura Norte-Americana. Apaixonado pela Literatura desde cedo, começou a escrever poesia aos 15 anos, aventurando-se atualmente pela Ficção. É co-fundador do projeto “Sarcasmos Irónicos”, que visa dar palco a novos escritores.

Descendo o Parnaso até Cnossos

Sobre a queda do Homem das Letras nas sociedades pós-modernas

6 min de leitura
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Raphael de Souza
Nasceu em 1997 em Vila Nova de Famalicão. É licenciado em Línguas e Literaturas Europeias pela Universidade do Minho. É também mestre em Língua, Literatura e Cultura Inglesa pela mesma academia, com tese em Literatura Norte-Americana. Apaixonado pela Literatura desde cedo, começou a escrever poesia aos 15 anos, aventurando-se atualmente pela Ficção. É co-fundador do projeto “Sarcasmos Irónicos”, que visa dar palco a novos escritores.

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“Ouço o dinheiro a cantar. É como se observasse
desde as longas janelas francesas a terra provincial,
os montes, o canal, as igrejas loucas e ornamentadas
sob o sol do final de tarde. É intensamente triste.”
– Philip Larkin, in Dinheiro (da antologia Collected Poems, 2001)

O excerto do poema de Philip Larkin é interessante e quase autoexplicativo. Larkin é um bom poeta a ler quando queremos conhecer poesia crua e direta, sem fantasias e malabarismos estilísticos. Torna-se menos surpreendente quando verificamos que o poeta inglês trabalhava como bibliotecário. Acredito que tanta convivência com literatura ornamentada (tão caraterística do paradigma literário inglês) o tenha ajudado a dotar o seu estilo de escrita de simplicidade e frontalidade.

O mesmo excerto leva-me ao tema desta pequena reflexão (não há muito que falar que divagar sobre este tema, pelo que ir direto ao ponto terá mais valor): a evolução do estatuto do Homem das Letras nas sucessivas sociedades ocidentais até aos dias de hoje.

É verdade que, dentro do ritmo em que o mundo se desenvolve – potenciado pela Pandemia –, as Letras parecem ser uma área sem grande ação, tendo em conta que livros e pensamento livre não curam um linfoma nem constroem uma casa. Dentro desse ponto de vista, isso nunca acontecerá. Contudo, nos tempos ancestrais, as Letras já foram o motor do mundo ocidental.

Se recuarmos à Antiguidade Clássica, temos os filósofos como os principais educadores dos jovens. Sim, aquela disciplina da qual não queremos saber no 11º ano. E sim, aquela licenciatura nas universidades públicas que são passaporte direto para o desemprego de longa duração (embora sejam pontes para quem quer tirar um mestrado em Direito ou Economia ou áreas afins).

Se pensarmos melhor ainda, poderemos ver que os próprios filósofos foram os primeiros criadores de quase tudo o que é sistema na sociedade atual, tendo em conta que eram eles quem estavam sempre a tentar compreender o mundo. Foram os filósofos quem determinaram o cálculo das horas através dos relógios de pedra. Os filósofos foram os primeiros matemáticos, criando as bases para toda uma ciência que, como sabemos, é uma tortura para muitas crianças nas escolas.

Ademais, a Ciência Política foi fundada no pensamento filosófico. A própria ciência do Direito (conhecida como “Jurisprudência”) foi alicerçada pelos filósofos romanos que, na sua juventude, iam estudar para a Grécia com os filósofos locais. Os primeiros médicos foram treinados pelos filósofos. As variadas línguas e linguagens foram desenvolvidas pelos filósofos. Aliás, advém da Filosofia da Linguagem a Linguística, assim como a Matemática advém de certo modo de uma hipotética Filosofia dos Números.

Tendo em conta que, em grego, o termo “Filosofia” significa “Amor à Sabedoria”, o Pensamento manteve uma presença fundamental por séculos, mesmo após a queda dos impérios da antiguidade. As primeiras universidades, enquanto produto da Era Medieval, tinham as Letras como uma das suas pedras basilares. Algumas das maiores universidades do mundo são conhecidas principalmente pelas Letras (como são os casos de Oxford, East Anglia, Columbia, etc).

Na Irlanda Pré-Cristã, os poetas eram quase mais poderosos que o próprio Rei. Os próprios sacerdotes da Igreja Católica necessitam até aos dias de hoje de ser hábeis nos campos da Filosofia e da Literatura para poderem ter uma prática oratória mais eficaz. No caso irlandês, chegaram a tomar parte na preservação daquela que é a tradição literária mais antiga da Europa.

Até ao desenvolvimento astronómico da Informática e das Engenharias a partir das décadas de 1980 e 1990, a carreira de Letrado era uma carreira próspera e bastante respeitada. Ser um Letrado era quase tão bem-visto como ser um católico praticante que jejua todas as sextas-feiras desde as Cinzas até à Páscoa. Dentro da Literatura, os escritores eram também seres respeitados e, em algumas sociedades, vistos como principais inimigos (ainda o são nos dias de hoje).

Infelizmente, isto tudo já não acontece. Mesmo no cinema, enquanto forma de arte que ainda tem grande presença nas nossas vidas, quem teima em dar destaque a personagens letradas ainda são autores vindos do século XX, o século de ouro para os letrados.

Mesmo nos filmes clássicos do século XX, vemos a personagem Letrada como a personagem mais influente. Se formos ver o caso do mítico O Pecado Mora ao Lado – estrelado pela Marilyn Monroe, a personagem que encanta a bela donzela é um editor reputado. Temos também o caso de Breakfast At Tiffany’s – adaptação do romance de Truman Capote estrelada por Audrey Hepburn (de onde saiu a célebre peça Moon River, de Henry Mancini) –, onde a diva acaba se apaixonando por um escritor, levando a um beijo enamorado à chuva no final do filme.

Ainda na filmografia de Hepburn, temos o não menos famoso My Fair Lady, onde aparece a figura de Mr Higgins, um professor universitário de Linguística que tem o poder de mudar a vida de uma modesta florista ao dar-lhes aulas de inglês académico, tentando livrá-la da variante cockney. Temos também o caso da filmografia de Woody Allen, que pode ser dividida em duas fases: a fase do cinema intelectual e a fase das comédias românticas. Na primeira fase, os protagonistas femininos andavam à volta dos intelectuais/letrados que tentavam conquistar sempre uma diva (geralmente estudante ou cantora ou afins).

Posto isto, chego ao ponto que mais me preocupa: a situação atual das Letras. Perante toda esta história, preocupa-me bastante que, num espaço de 30 ou 40 anos, as Letras tenham perdido o seu lugar nas sociedades pós-modernas. É verdade que o mundo evolui e que a tecnologia nos traz um modo de vida melhor e maior possibilidade de divulgação das Letras e das Artes.

Todavia, inquieta-me o peso excessivo que as Ciências têm vindo a ter nos últimos anos (não retirando o mérito e a utilidade das mesmas, como é óbvio). Uma pessoa formada em Medicina ou Engenharia têm, em teoria, vastas possibilidades de carreira. Já uma pessoa formada em Letras/Artes/Ciências Humanas tem de enveredar por uma carreira noutras áreas. Caso contrário, terá de viver em constante precariedade. E sei que dizer isto causa emoção entre pessoas menos abertas às Humanidades que considera esta área excêntrica e inútil para o mundo em geral.

Para além disto, é bastante comum ouvir os pais e familiares a manifestarem regozijo por terem filhos/netos/sobrinhos a estudar para médicos ou engenheiros. Os familiares de alunos de Letras não manifestam tal regozijo. Alguns dizem nem saber o curso que seus familiares estão a estudar. “Não sei. Só sei que lê muito nas aulas” – dizem alguns.

No campo da Artes, preocupa-me bastante a forma como as redes sociais e a tecnologia vieram influenciar a criação artística. Antigamente, os artistas precisavam apenas de publicar, se inserirem nos círculos e ir divulgando as suas criações. Atualmente, é preciso muito mais para um artista divulgar o seu trabalho. É preciso marketing, stories, posts, etc. E acaba-se por se competir contra o triplo da concorrência.

O artista com mais imagem vence nas Artes, mesmo que a sua arte não tenha qualquer valor. Isso é preocupante e perigoso para as artes. O artista de hoje passa mais tempo a fazer posts e a escolher o filtro que combina melhor com o texto do story do que a produzir arte.

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Raphael de Souza
Nasceu em 1997 em Vila Nova de Famalicão. É licenciado em Línguas e Literaturas Europeias pela Universidade do Minho. É também mestre em Língua, Literatura e Cultura Inglesa pela mesma academia, com tese em Literatura Norte-Americana. Apaixonado pela Literatura desde cedo, começou a escrever poesia aos 15 anos, aventurando-se atualmente pela Ficção. É co-fundador do projeto “Sarcasmos Irónicos”, que visa dar palco a novos escritores.
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