A Assembleia Municipal: balanço do mandato 2021-2025

Aspectos positivos e negativos

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A Assembleia Municipal  de Vila Nova de Famalicão  reuniu pela última vez no dia 19-9-25 numa sessão que demorou mais de duas horas e terminou com um gesto que é de registar em que os deputados se despediram deste  mandato com o sentimento do dever cumprido e palavras amáveis para os adversários.

Foi um gesto que fica bem, mas faltou nesta sessão o mais importante e que não devia faltar que era o balanço do mandato. Balanço que deveria constar de um documento vindo da comissão permanente e que seria uma espécie de prestação de contas para os famalicenses. Os membros da Assembleia Municipal dirigiram-se uns aos outros ficando em segundo plano os representados ( os munícipes).

Atrevo-me, como famalicense,  a dizer, em traços largos, como  vi a Assembleia Municipal ao longo destes quatro anos , principalmente através da transmissão online e de informações que fui obtendo.

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ASPECTOS POSITIVOS

1 – É muito positiva desde logo a transmissão online das sessões, estando disponíveis para audição ou visualização a qualquer momento. A nossa Assembleia Municipal marca pontos, pois ainda há assembleias  de muitos concelhos que temem a exposição pública das suas sessões. A nossa, não!

2 – Também positivo é o facto de a Assembleia Municipal dar a todos os grupos municipais, independentemente do número dos seus membros (pode ser um) e à Câmara Municipal o mesmo tempo. Pode achar-se – e fora do nosso  município muitos acham- que é um privilégio dado aos grupos pequenos, mas é, na minha opinião,  uma magnanimidade dos grupos municipais  mais numerosos que os eleva/dignifica.

3 – Ainda positivo é o respeito escrupuloso pelo tempo de cada grupo municipal e do PCM

 

ASPECTOS NEGATIVOS

Vejamos agora os aspectos negativos.

Instalações da Assembleia Municipal

1.A Assembleia Municipal está instalada numa Sala Nobre, antiga sala de audiências do Tribunal Judicial, mas que não é adequada para a realização das sessões plenárias. É um espaço demasiado pequeno quer para os membros do órgão, quer, especialmente, para o público.

2.Nada impede e antes aconselha que as sessões plenárias (ordinárias ou extraordinárias) sejam feitas em local amplo e já sucede em vários municípios.  A Assembleia Municipal  de Guimarães, por exemplo, faz sessões plenárias num amplo auditório da Universidade do Minho. Braga (mais) e Barcelos  (menos) fazem também as reuniões   em espaços onde todos estão à vontade.

 

Instalações dos grupos municipais

3.Os grupos municipais não têm sequer um espaço próprio como deveriam ter, para reunir, conservar a sua documentação e preparar as sessões e receberem os munícipes que queiram falar com os seus membros.

 

Apoio aos grupos municipais

4.Os grupos municipais precisam de apoio em pessoal e meios financeiros para exercerem bem as suas tarefas. Só assim podem estar a par dos principais assuntos dos municípios e participarem com mais conhecimentos das sessões.

 

Comissões permanentes

5.Para além de uma comissão permanente, constituída  pela mesa e pelos representantes dos grupos municipais, a Assembleia Municipal deveria possuir comissões permanentes sectoriais para que os assuntos mais importantes a apreciar em plenário fossem devidamente estudados e objecto do relatório prévio.

6.Não pode ter muito nível um debate em que assuntos tão importantes como o orçamento, as contas, o planeamento urbanístico, os transportes e outros de especial complexidade e impacto financeiro passem directamente da proposta da câmara para o plenário. Os membros da Assembleia Municipal não exercem funções a tempo inteiro recebem apenas senhas de presença de baixo valor e não podem ter conhecimentos técnicos de todos os assuntos submetidos a votação. Por isso, a apreciação dos assuntos mais importantes  em comissões sectoriais deveria ser obrigatório. A nossa  Assembleia Municipal não possui tais comissões ao contrário do que sucede em muitas outras.

 

Intervenção do público

7.A intervenção foi menorizada pela actual AM remetendo-a para o fim das sessões quando muitas assembleias do nosso país já lhes dão o primeiro lugar na ordem do dia.

 

Apoio financeiro

8.Talvez as pessoas não saibam mas o orçamento da Assembleia Municipal anda à volta de 0,1 % do orçamento do município, enquanto como disse Ricardo Mendes na última sessão, o município gasta “apenas” ( a palavra e as aspas são nossas) 2% do orçamento do município.

 

A Assembleia Municipal e a página do município

9.A Assembleia Municipal não tem um espaço próprio na página do município como devia. Seria um espaço para a mesa da assembleia reger e para os grupos municipais exporem as suas ideias. Para evitar excessos eventuais a análise do seu conteúdo poderia ser feita pela comissão permanente e quando esta não tivesse um acordo de mais de 2/3 sobre reclamações que lhe fossem colocadas poderia haver a intervenção de alguém considerado competente para decidir, nos termos do regimento interno.

 

Considerações finais

Uma Assembleia Municipal que se preze  não deveria terminar o mandato sem chamar a atenção do poder central para um conjunto de aspectos que importa concretizar:

10.Desde logo o não cumprimento do artigo 239.º, n.º 3 da Constituição que atribui â Assembleia Municipal o poder de destituir a câmara através da aprovação de uma moção de censura. Atualmente ela pode aprovar uma moção de censura, mas essa aprovação não tem o efeito que deveria ter porque ainda está por publicar há mais de 25 anos a lei que regulará essa destituição. A Assembleia da República  durante todo este tempo não cumpriu a Constituição   praticando uma  clara inconstitucionalidade por omissão.

 

Conclusão

Ao não proceder deste modo a nossa Assembleia Municipal  esteve longe de cumprir na substância o seu papel e o balanço global do mandato é muito negativo. Não tivemos uma Assembleia Municipal à altura do que os famalicenses mereciam.

Esperemos que a próxima seja muito melhor!

 

Nota: Este texto foi escrito antes das eleições de 12 de outubro.

 

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