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Vila Nova de Famalicão
Sábado, 27 Abril 2024
Paulo Barros
Economista famalicense.

A paciência dos mansos

Temos um presidente da Câmara que, ao invés de se preocupar em servir a população que o elegeu, se dedica a enfiar-nos pela goela abaixo todas as desfeitas possíveis e imaginárias.

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Paulo Barros
Economista famalicense.

Famalicão

Sessão de jazz este sábado no CRU Espaço Cultural

Com cantor moçambicano radicado em Famalicão

Celebrações dos 50 anos do 25 de Abril em Famalicão

Celebrações de amanhã, quinta-feira, têm início às 10h. Na parte da tarde há um concerto de jazz nos Paços no Concelho.

Polícia Judiciária outra vez na Câmara de Famalicão para investigar viagens pagas a autarcas

O ex-autarca Paulo Cunha é um dos visados num caso de suspeitas de corrupção que envolve viagens à sede da Microsoft nos EUA. Câmara de Famalicão confirma investigações.

Não sei se já perceberam que corre entre nós uma experiência social de grande envergadura. Não?! Pois não se apoquentem, é até muito natural que não saibam de nada: porque tudo isto se faz dentro do mais rigoroso sigilo. E a quem se pergunte como foi que fiquei eu a saber da coisa, respondo desta forma: fontes internas, caríssimos. Pessoas notabilíssimas que medram pelos gabinetes e escutam conversas desgarradas. Pessoas que conhecem pessoas, se é que me faço entender…

Acreditem, a experiência existe. E em que consiste a dita cuja? O tema é singelo: “Como testar a paciência dos mansos”.

Explico: desengane-se quem tenha sido levado a concluir que o presidente da câmara enveredou mais recentemente por uma espiral de inépcia, tamanha é a série sucessiva de trapalhadas em catadupa em que o vemos metido. Pois não é nada disso. É que é tudo propositado. Tudo acções desventuradas que outra coisa não visam – lá está – senão testar a paciência dos mansos.

Agora, a má notícia: má sorte sermos nós os mansos. Nós, caro leitor: todos os munícipes de Famalicão.

Quanto à tese que se pretende provar com esta experiência, também é muito catita: pegando num manso qualquer, podemos sempre, sucessiva e crescentemente, atiçá-lo com provocações, que o resultado será sempre o mesmo: o manso não se mexe, não se empertiga, não se comove. O manso será sempre manso, independentemente de quantas/quais vilanias lhe façam. Porque é da natureza dos mansos tudo suportarem até ao extremo da perfídia.

Posto isto, haverá quem experimente humores com tamanha epifania, quando tal eu fiquei aliviado: é que assim já se explica melhor essa aparente irracionalidade de termos um presidente da câmara que, ao invés de se preocupar em servir – tanto quanto lhe seja alcançável – a população que o elegeu, se dedica a enfiar-nos pela goela abaixo todas as desfeitas possíveis e imaginárias. Uns dizem: é de homem!

Eu digo: é uma experiência, só pode.

Vejam lá esta bela cronologia (não indo lá mais atrás, atenho-me só ao mês de Outubro):

No dia 2 tomamos conhecimento de um desempenho superlativo (tipo performance) na assembleia municipal:

Ecoparque de Cabeçudos isola Mário Passos. CDS está contra e PSD diz não conhecer o projeto

E logo ao dia 4 ficamos a conhecer um poucochinho melhor o Super Mário (olha a cara de quem todos lhe devem):

Intimidação, perseguição e insultos em Famalicão

Corria o dia 10 quando decidiu oferecer-nos um brinde, e só tenho a dizer que é sempre um bálsamo para a alma espreitarmos a mesa de pessoas extremamente satisfeitas consigo mesmas:

Mário Passos diz que “mais de 80% dos compromissos eleitorais assumidos já foram implementados ou estão em implementação”

A borrasca veio a 19 (é cá um azar acontecer uma coisa destas logo em Outubro, é que ninguém estava à espera; pelo menos as lajes de granito estiveram à altura do que se esperava delas):

Mais de 100 ocorrências registadas em Famalicão devido à chuva forte

Pois nem por ser o S. Pedro tão mal-agradecido, logo no dia seguinte foi dia de ‘S. Dar de Comer a quem já é Gordo’ (alguns dos homenageados pagam bem mal aos trabalhadores, mas gostam à mesma que lhes cantem loas)

Câmara de Famalicão realiza jantar de gala para homenagear cerca de 300 empresários

Nesse dia também, ficamos a saber que dar arte ao povo não sai de borla, nem perto disso (e já agora, já lá canta a ‘plaquinha’ evocativa…)

Escultura “Jardim Suspenso” na Praça D. Maria II custou 55.500 euros

E se acham pouco, esperassem dois dias: que tal 300.000 euros para uma pista de skate?

Mário Passos apresenta maqueta do futuro Skate Parque

Pena o dia seguinte (esta não percebi, atendendo ao estádio, à pista de atletismo, ao pavilhão multiusos, às piscinas que temos tantas, não percebi mesmo)

Famalicão perde para Matosinhos corrida a Cidade Europeia do Desporto 2025

E pronto, como estava o caldo entornado, era o dia 24 e aqui vai disto:

Estacionar no antigo campo da feira de Famalicão vai custar 80 cêntimos por hora

Mas o mês não haveria de acabar sem o eclodir de uma obra estruturante (tinham de escolher uma, não vos parece que escolheram bem?):

Famalicão e Trofa avançam com projeto para reconstruir antiga ponte pênsil demolida em 1934

E para acabar o mês em grande… (olha, querem ver que se acabou o dinheiro?):

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Sim, eu sei: é tudo muito bom. Mas coragem, famalicenses! Não estamos sozinhos…

Leio no “Público” que a AGERE, a empresa municipal de Braga responsável pelos serviços de águas, efluentes e resíduos, decidiu contratar um camarote anual no Estádio Municipal da cidade. O custo é coisa pouca, 49.500 aéreos. Fui ver e confirma-se que a Câmara de Braga é mesmo do PSD: aquele partido que quer cortar nos impostos e aumentar os salários de médicos e professores. Não, não é contraditório porque a diferença compensa-se com a gestão mais eficiente do Estado. Pelo menos em Braga já começaram… e em Famalicão também!

Quanto ao mais, se vos indigna a ideia de termos gestores públicos a aboletarem-se com umas jogatanas da bola (inclui acepipes) à pala do erário camarário, arrependei-vos, ò justiceiros de trazer por casa! É que o camarote se destina tão-somente a ser utilizado pelos trabalhadores em função do seu não absentismo. Isso mesmo, se não faltarem ao trabalho pelo qual lhes pagam, os trabalhadores da AGERE ganham direito a ir à bo(r)la.

Se, como eu, já acham isto muito, muito bom, favor notar que nada nunca é tão bom que não possa ser melhorado. Porque o PS local veio indignar-se com a medida: não é que lhes faça espécie o desvio de recursos públicos para o futebol, fundos que doutra forma a AGERE poderia alocar, sei lá bem eu, a promover a excelência dos seus serviços ou a baixar a excelência das suas taxas, e vejam lá onde já vai a loucura deste raciocínio… (já nem falo no apoucamento dos trabalhadores, e se essa é a opinião que deles têm os distintos autarcas de Braga…).

Nada disso. O que tira o sono ao PS local, o que os faz despertar da terna letargia da oposição, é a “falta de equidade”. Então os trabalhadores das restantes empresas municipais, como é que ficam? Sim, sim: nos domingos de bola, como é que ficam essoutros trabalhadores dedicados??? Em casa, indigna-se o PS. Está mal. Cada uma das empresas municipais de Braga (confesso que não sei quantas são) devia ter um camarote (pelo menos um).

Já o presidente da câmara de Braga veio logo em defesa da decisão da AGERE: em primeiro lugar, e por esta é que eu não esperava, trata-se da mera renovação de um contrato firmado em 2007 (!), quando quem mandava na câmara era quem, era quem? Adivinharam, o PS. Mas mais que não seja, o Ricardo Rio tratou de dizer que “não acha nada mal recompensar quem não falta ao trabalho”. Ora aí está: é sempre bom quando da dialética da democracia resulta o bem comum. Todos saem a ganhar: os trabalhadores da AGERE, que se cultivam nos ensinamentos da ética desportiva; os autarcas ilustres, que promovem a ética do consenso partidário; e a própria AGERE, que pratica a chamada ética da liderança pelo exemplo, com isso convocando outras empresas municipais a seguir-lhe os passos.

Eu cá achei curioso apenas. É de facto muita ética à mistura. Ocorreu-me que o presidente da câmara de Braga tirou o mesmo curso que eu e na altura tínhamos lá uma cadeira que se chamava “Ética Empresarial”. Já não me lembro da nota que tirei, não era uma cadeira importante por aí além. Também não faço ideia da nota que terá tirado o Ricardo Rio, mas se do nada tivesse de adivinhar, assim à ceguinho, sei lá: atirava aí para um dez. Onze, vá.

 

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