Passado mais de um mês e ainda não é conhecido o resultado do inquérito ao abate da árvore conhecida como Acácia do Jorge, localizada junto à Casa de Camilo, em Seide São Miguel.
A Acácia do Jorge está imortalizada na literatura camiliana, pois a árvore original terá sido plantada por Jorge, filho de Camilo Castelo Branco, em 1871.
Recorde-se que a árvore foi derrubada no dia 18 de novembro e no dia seguinte a Câmara Municipal anunciou a abertura de um inquérito para “apuramento de responsabilidades”. No dia 19 de dezembro o NOTÍCIAS DE FAMALICÃO contactou a Câmara Municipal para obter informações acerca do inquérito, mas até ao momento não obtivemos resposta.
Na reunião da Assembleia Municipal realizada dia 20 de dezembro, o deputado Daniel Sampaio (CDU) questionou o presidente da Câmara Municipal, Mário Passos, sobre a Acácia do Jorge.
“Bem sabemos que o corte de árvores é uma prática recorrente deste executivo. Tão recorrente que o corte a torto e a direito fez desaparecer, por engano, dizem, a Acácia do Jorge. Pode este município abrir os inquéritos que quiser e bem lhe apetecer, mas a verdade é que a árvore e a sua simbologia já lá não estão”, referiu Daniel Sampaio.
“PRECIPITAÇÃO”, DIZ MÁRIO PASSOS
“Existia uma acácia seca há muito tempo junto às escadas de acesso a casa-museu tinhamos uma acácia substituta em crescimento no logradouro para que fosse plantada junto à Acácia do Jorge”, referiu o presidente da Câmara em resposta ao deputado.
O problema, afirmou Mário Passos, foi a “precipitação”.
“Houve a precipitação de um determinado serviço que considerou a acácia seca e interpretou como uma árvore que devia ser removida porque estava seca, tal como sucede noutro lugar qualquer e não tinha autorização para isso”, referiu o autarca, acrescentando que “está a decorrer é um inquérito para que se perceba o que realmente sucedeu porque não havia autorização superior para o corte da acácia”.
Refira-se que a intervenção foi realizada por funcionários municipais a 18 de novembro, uma segunda-feira, dia em que a casa-museu Camilo Castelo Branco está encerrada.
Entretanto, uma acácia substituta já se encontra no local onde estava a árvore anterior.
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Apesar de Mário Passos referir-se à árvore como “uma acácia seca” e o comunicado municipal referir que “se encontrava morta”, o que diverge da informação que consta em documentos municipais.
É o caso do Plano Diretor Municipal (PDM), cuja revisão está atualmente a decorrer. No documento lê-se que a Acácia do Jorge tem “razoável estado fitossanitário”.
Além de mencionar o estado de conservação da árvore, o documento elenca fatores de ameaça a ter em conta e medidas de conservação: “monitorização realizada pela Casa de Camilo e manutenção feita por pessoal qualificado (arboricultores)”.
Além de ilustrar obras antigas, como o livro “Minho pitoresco”, de 1886, onde aparece desenhada à mão, a Acácia do Jorge surge em destaque em obras mais recentes, como é o caso do livro “Famalicão – Cultura, Património, Comunidade”, editado em 2021, onde aparece na contracapa e na página 100.
ESCULTURA
Na resposta ao deputado Daniel Sampaio, Mário Passos acrescentou que, antes da intervenção não autorizada, a autarquia estava a “contratualizar escultores para que nos dissessem o que fazer com aquela acácia: se permanecia, se era para remover ou fazer uma obra de arte”.
“Temos a madeira e uma escultura há-de sempre aparecer, estamos a tratar disso”, referiu o autarca.
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