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Vila Nova de Famalicão
Quarta-feira, 15 Maio 2024
Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.

Abril, um exercício de memória…

Honramos a memória do país ao comemorar estes 50 anos. O Povo saiu à rua e abril continua vivo. Continua a ser construído.

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Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.

Famalicão

Histórias da Gerações regressam ao Parque da Devesa

Décima edição da iniciativa decorre no dia 18 de maio, entre as 15 e as 18 horas.

Especialista mundial na área da brincadeira fala sobre a importância do brincar em Ribeirão

Cerca de duas centenas de pessoas compareceram ao evento realizado no Centro Social Paroquial de Ribeirão.

Iniciativa “Acelerar o Norte” apresentada a empresários de Famalicão

Evento decorreu no auditório da Universidade Lusíada.

Festa da Flor em Famalicão

Programação decorre de sexta a domingo

50 anos depois da revolução o que dirá e significará esta data para uma grande maioria dos portugueses de hoje? E para os famalicenses?

Que significado terão as frases então bradadas de forma sentida, tribal e impetuosa para as gerações Y e Z ?: “Fascismo nunca mais”; “O povo unido jamais será vencido”; “ 25 de abril, sempre!”; “ A terra a quem a trabalha”; “A reação não passou, a reação não passará”; “ O povo é quem mais ordena”; Força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha d’aço”; O povo está com o MFA”; (…) e muitas mais poderiam ser apresentadas. Foi uma época que deu asas à imaginação, à criatividade e também a alguns excessos de verborreia.

Não encontrei ou não vi publicadas as impressões que estas gerações poderão ter sobre a revolução portuguesa. Vivemos hoje num país livre, com uma democracia pluralista, integrador e inclusivo, sem fraturas de ordem religiosa, homofóbica, racial e territorial, em que acolhemos quem aqui quer viver ou quem nos visita; um país seguro, respeitado, com profícuas relações com países de diversos continentes; um país integrado na Europa, membro da Nato e com vários dos seus “filhos” a ocuparem lugares de relevo no plano político, religioso, académico, desportivo e cultural em vários palcos e instituições internacionais.

Esperava que nestes 50 anos aparecessem iniciativas que para além das incontornáveis personalidades nacionais que devem ser lembradas e evocadas, pudesse surgir algo idêntico a nível concelhio. Sei que o programa das comemorações se iniciou no ano anterior, mas a informação e divulgação prestada foi parca e como diria António Silva “dessincronizada”.

Há dois episódios, hoje já conhecidos da maioria dos cidadãos, que refletem bem, em dimensões bem diferentes, a conjugação de fatores que fizeram de abril, uma revolução exemplar:

Uma protagonizada por Celeste Martins Caeiro, hoje com 89 anos, que os levou para a rua e os distribuiu aos militares. Um soldado pediu-lhe um cigarro e ela ofereceu-lhe o que tinha: um cravo! Um deles colocou-o no cano da espingarda. Outros seguiram-lhe o exemplo. E foi assim que o cravo se tornou a flor da nova era e esta alfacinha deu o nome à revolução!

O outro ator fundamental foi José Alves da Costa, ex-trabalhador da Mabor e residente em Balazar. Só 40 anos após os acontecimentos do Terreiro do Paço, se concretizou a identificação deste cabo atirador, integrante das forças de Cavalaria 7 que defendiam o regime. Recusando-se a obedecer à ordem do brigadeiro Junqueira dos Reis, de abrir fogo sobre as forças revoltosas, contribuiu, indubitavelmente, para o desenrolar dos acontecimentos que nos trouxeram aos dias de hoje.

Acabamos de sair de um ato eleitoral. O boletim de voto tinha nalguns círculos eleitorais 18 forças concorrentes. Muitos partidos já desapareceram, mas há um conjunto deles que marcaram o pós 25 de abril, para além dos tradicionais. Quem se lembra da UDP, MDP/CDE, PDC, PSR, MES, PUP, PCP(ML), POUS, PCPT/MRPP, FSP, Política XXI, FUP, MIRN; FEC-ML, AOC, LUAR,(…). Destes, creio que apenas sobrevive o MRPP.

Deixo aqui, sem grande preocupação de critérios e de datas e porque sei que há jovens que leem a crónica, alguns nomes que lhes poderão suscitar alguma curiosidade. Para os menos jovens, poderão ser uma porta de reviver alguns episódios de um passado não tão distante…

Para além do inevitável Capitão Salgueiro Maia, Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço, Garcia dos Santos, Melo Antunes, Vítor Alves, Vítor Crespo, Sanches Osório, Jaime Neves, Ramalho Eanes, Pires Veloso, entre muitos outros, são nome de referência na revolução e no período que se lhe seguiu.

Os elementos da Junta de Salvação Nacional: António de Spínola, Costa Gomes, Diogo Neto, Silvério Marques, Galvão de Melo, Pinheiro de Azevedo e Rosa Coutinho.

As personalidades político-partidárias: Mário Soares, Tito de Morais, Vasco da Gama Fernandes, Salgado Zenha, Jaime Gama, Jorge Sampaio, Miller Guerra, Sotto Mayor Cardia, Raul Rego, Arons de Carvalho, António Arnaut, Almeida Santos, António Guterres, Cal Brandão, Lopes Cardoso, Carlos Candal, Sophia de Mello Breyner, Carmelinda Pereira, Álvaro Cunhal, Carlos Brito, Ângelo Veloso, Octávio Pato, João Amaral, Odete Santos, Sá Carneiro, Magalhães Mota, Pinto Balsemão, Emídio Guerreiro, Mota Pinto, Eurico de Melo, Mota Amaral, Marcelo Rebelo Sousa, Helena e Pedro Roseta, Vasco Graça Moura, Sousa Tavares, Ângelo Correia, Rui Machete, Barbosa de Melo, Fernando Amaral, Fernando Alberto Ribeiro da Silva, Amaro da Costa, Freitas do Amaral, Sá Machado, Krus Abecassis, Narana Coissoró, Nogueira de Brito, Lucas Pires, Francisco Moura dos Santos, José Manuel Tengarrinha, Hermínio Martinho, Palma Inácio, Acácio Barreiros, Arnaldo de Matos, Isabel do Carmo, Carlos Antunes(…).

Relembrar os primeiros-ministros Adelino Palma Carlos, Nobre da Costa, Maria Lurdes Pintassilgo, Cavaco Silva, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, Passos Coelho, José Sócrates, António Costa e claro, aquele que desempenha o cargo nos 50 anos da revolução: Luís Montenegro.

Os poetas, cantores, letristas e/ou compositores:  Ary dos Santos, Correia de Oliveira, Tordo, Zé Mário Branco, Sérgio Godinho, Vitorino, Zeca Afonso, Fanhais, Tó Zé Brito, José Jorge Letria (…). E os homens e mulheres das letras que deixaram um vasto e diversificado espólio de textos, ficções, poemas, reflexões e opiniões, entre os quais se contam Sofia, Saramago, Alegre, Graça-Moura, Mourão-Ferreira, Prado Coelho, Torga, Tavares Rodrigues, as Marias (Velho da Costa; Teresa Horta, Isabel Barreno), e muitos outros.

Em Famalicão, para além daquele que à data era militar, o então capitão Bacelar Ferreira, recordar os deputados Armando Bacelar, Jerónimo Pereira, Domingues Azevedo, Fernando Moniz, Nuno Sá, Maria Augusta Santos, Eduardo Oliveira, Carlos Bacelar, Braga Barroso, Carlos Pinho, Virgílio Carneiro, Dulcínio Rebelo, Virgílio Costa, Germano Abreu, Jorge Paulo Oliveira e Lino Lima. Uma nota para os também governantes, Jorge Moreira da Silva e Nuno Melo.

Não devem ser esquecidos aqueles que cimentaram o poder local como Pinheiro Barga, Carlos Marinho, Antero Martins, Agostinho Fernandes, Armindo Costa, Paulo Cunha e o atual edil Mário Passos.

E um vasto conjunto de cidadãos que se empenharam na defesa das conquistas de abril e dos valores que contribuem para uma sociedade mais livre, mais justa e mais democrática: Amândio de Carvalho, Salvador Coutinho,  Margarida Malvar, José Júlio Coelho, Amândio Azevedo, Machado Ruivo, Custódio Oliveira, Manuel Cunha, Tavares Bastos, Camilo Freitas, Barbosa da Silva, Joaquim Loureiro, Carlos Sá, Heitor Rui, Almeida Pinto, Durval Ferreira, Francisco Marques da Fonseca, Artur Lopes, Adão Fernandes, Miguel Lopes, Santos Oliveira, Couto Faria, Carlos de Sousa, Edna Cardoso, Felisberto e Marla Maia, Adelino Mota e tantos, tantos outros…

Por que não recordar alguns dos acontecimentos dessa época?

A transição de poder na Câmara Municipal, com a saída de Dinis d’Orey e a entrada de Pinheiro Braga; a destituição da Mesa da Santa Casa da Misericórdia, à data responsável pela gestão do Hospital S. João de Deus e a nomeação de uma comissão administrativa; a intervenção na Têxtil Manuel Gonçalves, entre outras.

Lembram-se ainda do comício do CDS realizado no Cine Teatro Augusto Correia? Perigo máximo para quem se atreveu a estar presente. Ouviram-se tiros de G3. O ambiente foi escaldante. Era esse o tempo das seguranças partidárias: o Marina e o Plácido ficarão para a história!

E a reunião, já mais tarde, no tempo do General Vasco Gonçalves, também no saudoso Augusto Correia, onde se discutia de forma acesa a unidade e a unicidade sindical? Augusto Lima, o filho do Sr. Lima da mercearia com o mesmo nome, sita na Rua Vasconcelos e Castro, foi o que agora se denomina de speaker nessa noite. O 1º balcão estava repleto de simpatizantes dos partidos centristas e mais à direita. Ruy Luís Gomes, com Pinheiro Braga eram os rostos mais importantes da esquerda defensora da unicidade sindical, presentes no palco. Quando o Lima se atreveu a repetir pela segunda vez que seria enviada uma mensagem ao camarada Vasco Gonçalves, referindo que “as duas mil pessoas presentes no comício em Famalicão apoiavam a “unicidade sindical” foi audível um coro de assobios e apupos estrondoso. A segurança da força política organizadora subiu ao primeiro balcão, ouvindo-se da plateia um coro incessante do slogan “Abaixo a reação! Abaixo a reação!”. Recordo-me que Ruy Luís Gomes, eminente matemático e comunista convicto, de punho erguido, dava ritmo ao protesto. Não fosse a quantidade de “estranhos” espetadores aí presentes, sentados no 1º balcão e a situação poder-se-ia ter tornado bem complicada!

E que dizer dos jovens da época que convictamente gastavam longas horas do seu dia-a-dia para distribuírem o “Luta Popular”? Ainda hoje é dado à estampa, com a frase icónica “Proletários de Todos os Países, Uni-vos!”, o jornal do órgão central do Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP). Recordo com especial carinho esta missão levada a cabo por uns quantos colegas de liceu: o Rubim, o Orlando, o Vilarinho, o Toy, a Raquel, o Queiroga, o Tó Zé e muitos outros. Fruto da época, mas convictamente dedicados e empenhados!

O Verão Quente de agosto de 75 ficou marcado na memória de muitos famalicenses. Para além do período conturbado, denominado PREC (período revolucionário em curso), foi significativamente vivido em frente à então sede do PCP, sita no ex-colégio camilo Castelo Branco, na rua Manuel Pinto de Sousa. Recordo ainda, de forma particular, a foto que ficou, para memória futura, do Chico Miranda no cimo das escadas do referido edifício. Lembrar-se-ão todos, do malogrado Luís Barroso, perpetuado numa das artérias da cidade, que sucumbiu a uma bala perdida nos acontecimentos desse fim de tarde. Não esquecer a outra vítima desse dia, Laurentino Carvalho, creio que natural de Gondifelos.

Honramos a memória do país ao comemorar estes 50 anos. O Povo saiu à rua e abril continua vivo. Continua a ser construído. Requer atenção de todos. O enviesamento dos ideais e a prossecução dos “3D’s” – democratizar, descolonizar e desenvolver, continuam na ordem do dia.  Mas reflitamos: passada a descolonização, trágica nas palavras de Eanes, resta-nos democratizar e desenvolver. A primeira, embora jovem, parece sólida, mas a abrir brechas em diversos setores: justiça, saúde, educação e habitação; a segunda continua a fazer-se, mas de forma lenta, titubeante e aumentando as desigualdades sociais, nomeadamente a pobreza estrutural. Reforcemos o nosso papel no seio da Europa, assentemos o desenvolvimento de mão dada com a ecologia, o conhecimento e a sustentabilidade. Façamos e construamos um país de que nos possamos orgulhar em 2074!

 

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