Análise da semana: de lápis na orelha

Há cidades que vivem do que mostram; Famalicão vive do que sente.

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a palavra Famalicão escrita em letras tamanho gigante e afixadas na entrada do Parque da Devesa a palavra Famalicão escrita em letras tamanho gigante e afixadas na entrada do Parque da Devesa

“Aos que ainda acreditam na força da palavra e na verdade simples das vozes locais.”

De lápis na orelha, caminho pela cidade.
Não levo microfone nem bloco de notas — apenas o hábito de ouvir.
Há quem diga que Famalicão é uma cidade barulhenta, mas o som que melhor a define é o das conversas a meio: frases que se interrompem e olhares que completam o resto.

No café, discute-se o trânsito, o preço do pão e a última crónica do jornal.
Nas redes sociais, os mesmos temas vestem-se de ironia e de urgência.
Mas a raiz é a mesma: uma vontade imensa de participar.
Porque, nesta terra, o silêncio nunca é desinteresse — é pausa.

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Famalicão aprendeu a falar baixo, mas a pensar alto.
E é isso que a torna diferente.

Os jornais locais — Cidade Hoje, FamaTV, Notícias de Famalicão, Opinião Pública e Famalicão Canal — são mais do que meios de comunicação: são lugares de encontro.

A notícia serve de pretexto; o que realmente importa são as reações, os comentários e o eco dos leitores.
Há quem escreva com ternura, quem o faça com raiva e quem se limite a deixar um emoji que diz tudo o que as palavras não conseguem.

Ler essas vozes é como folhear a alma do concelho: páginas de orgulho, notas de frustração, risos e contradições.
É nelas que se encontra o retrato mais verdadeiro de Famalicão — um povo que se envolve, que reclama, mas que continua presente.

Há cidades que vivem do que mostram; Famalicão vive do que sente.
No mercado, nas escolas, nas fábricas e nas coletividades há sempre alguém a dizer: “devia ser diferente”.
Esse descontentamento é o outro nome da esperança.
Criticar é uma forma de amar — e aqui ninguém quer que a cidade adormeça.

A política muda de rosto, mas o essencial mantém-se: as pessoas.
São elas que seguram o fio invisível que liga as notícias aos dias,
as palavras às rotinas e os sonhos às dificuldades.

Quando volto a casa e pouso o lápis, penso que talvez o jornalismo local seja o último espaço de verdade partilhada.
Nem perfeito nem neutro — apenas humano.
Um reflexo das vozes que o compõem, com a simplicidade de quem fala porque quer ser ouvido.

E, se há algo que Famalicão ensina todas as semanas, é isto:
a liberdade não é um slogan — é uma prática diária.
Fala-se, discute-se, erra-se, pede-se desculpa — e recomeça-se.

A força desta cidade está aí: no recomeço.

Há quem escreva para ter razão;
outros escrevem para compreender.

 

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