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Vila Nova de Famalicão
Quinta-feira, 14 Agosto 2025
Rui Costa
Rui Costa
Rui Miguel Costa é formado em Engenharia e Gestão Industrial pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto. Gestor em áreas de desenvolvimento, é apaixonado por música, engenharia, economia, inovação e empreendedorismo.

Desconexão e contradição: o Norte de Portugal entre políticas descoordenadas e ambições oportunistas

Sob o meu ponto de vista, o norte de Portugal está a ser travado por uma combinação perigosa de políticas públicas descoordenadas, más decisões de planeamento urbano e uma classe política local cada vez mais desligada da realidade. Esta é uma reflexão crítica, baseada na observação directa do que se vive em concelhos como Braga, Famalicão, Guimarães ou Barcelos.

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Rui Miguel Costa é formado em Engenharia e Gestão Industrial pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto. Gestor em áreas de desenvolvimento, é apaixonado por música, engenharia, economia, inovação e empreendedorismo.

Famalicão

Apesar da proximidade geográfica e das ligações económicas e sociais evidentes entre estas cidades, a mobilidade regional continua a ser um problema grave. A ligação ferroviária existe, mas é morosa, penosa, com horários limitados e pouca articulação entre concelhos. Teria já há muito merecido ser modernizada e integrada numa rede regional eficaz. Sob o meu ponto de vista, a melhor alternativa para garantir a mobilidade intermunicipal seria uma rede urbana e interurbana de autocarros, com frequência, horários coordenados e preços acessíveis. Mas, infelizmente, essa rede praticamente não existe, ou, quando existe, não funciona como deveria.

Estas más políticas urbanísticas impedem que a região funcione como um verdadeiro eixo de desenvolvimento integrado. Em vez disso, vive-se num sistema fragmentado, onde oportunidades de emprego, formação ou crescimento pessoal ficam muitas vezes fora de alcance, apenas porque não há forma eficiente e económica de chegar lá.

Ao mesmo tempo, os municípios continuam a promover o investimento privado como símbolo de progresso. Multiplicam-se os incentivos fiscais, os apoios à instalação de empresas e as facilidades nos processos de licenciamento. É certo que há investimento, mas a qualidade do mesmo nem sempre é questionada. Muitos dos projectos que se instalam pouco contribuem para o desenvolvimento sustentável da região, trazendo empregos de baixa qualificação e reduzido valor acrescentado. O que fica para a população são salários baixos, pouca valorização profissional e uma economia frágil.

No caso de Famalicão, onde a realidade me é particularmente familiar, é visível a falta de exigência no perfil dos candidatos à governação local. Muitos continuam a ver a política como um fim em si mesmo — uma meta pessoal e não uma missão de serviço público. Falta-lhes experiência profissional, percurso fora da política e, nalguns casos, até formação académica completa. E, no entanto, aí estão, a encabeçar listas e a ocupar cargos.

A política local tornou-se um palco de promoção pessoal, onde o mérito, a competência e a seriedade são frequentemente secundarizados.

É curioso, ou talvez triste, ver como aqueles que antes criticavam certos discursos políticos por serem populistas, simplistas e demagógicos, que eu concordo que são, hoje utilizam as mesmas tácticas: promessas vagas, apelos emocionais vazios e exploração do descontentamento social, sem apresentar qualquer proposta concreta ou fundamentada. A política local tornou-se um palco de promoção pessoal, onde o mérito, a competência e a seriedade são frequentemente secundarizados.

É cada vez mais difícil decidir em quem votar. Não por falta de opções, mas porque as opções são fracas. E isto diz muito sobre o estado da política local no nosso país.

E, na minha opinião, o mais grave é que todos começam a soar iguais. Entre os candidatos às juntas de freguesia e os que se apresentam a nível municipal, torna-se cada vez mais difícil distinguir alguém com uma visão séria e preparada. Há jovens sem qualquer experiência de trabalho ou conhecimento da realidade da administração local que se escudam atrás do chavão da “preocupação pela freguesia”, como se isso por si bastasse. E há os de sempre, os rostos repetidos, que já por lá andam há anos, agarrados aos lugares e às estruturas partidárias.

É cada vez mais difícil decidir em quem votar. Não por falta de opções, mas porque as opções são fracas. E isto diz muito sobre o estado da política local no nosso país.

A partir dos dados reais sobre ofertas de emprego em Braga e Famalicão, constato que existe efetivamente procura de trabalhadores nos dois concelhos. No entanto, o que deveria ser um fluxo natural entra num ciclo preocupante de inércia: as pessoas desempregadas não conseguem aceder a essas vagas, e as empresas que procuram empregar enfrentam um pool limitado de candidatos disponíveis.

Na minha opinião, isto reforça a necessidade urgente de políticas de mobilidade integradas e eficazes. Sem isso, continuaremos a ver um desfasamento absurdo entre oferta e mão de obra, e a região continuará penalizada por uma desconexão que parece cada vez mais política do que geográfica.

O norte de Portugal merece melhor. Merece uma rede de transportes integrada, acessível e moderna. Merece políticas públicas que não se esgotem na estatística do investimento captado, mas que efectivamente melhorem a vida das pessoas. E merece, acima de tudo, políticos sérios, com visão, com conhecimento, e que vejam na política uma responsabilidade, não uma oportunidade de carreira.

 

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