“Aguantamos al culpable cuando se hace el inocente
Aguantamos cada año a nuestro p— presidente”
El Aguante – Calle 13
Por cá aguentamos muita coisa.
Aguentamos a arrogância, a miopia, a vaidade e a pequenez.
Aguentamos os semáforos, que nascem como cogumelos, e que acendem o vermelho porque há sempre alguém que vai em velocidade excessiva e que, de tão rápido que vai, nem chega a ver o amarelo.
Aguentamos a poluição dos rios, os cortes rasos das nossas florestas e o barulho das motas (não há limite ao ruído para os veículos de duas rodas?).
Aguentamos o novo-rico e o velho rico. Aqueles que fazem a prosperidade desta terra distribuindo “generosos” salários mínimos e que reservam a palavra dignidade para os seus automóveis de alta cilindrada.
Por cá está tudo bem. Aguentamos e há sempre quem esteja pior do que nós.
Por exemplo, ouvi falar que num país muito distante, uma empresa de produtos químicos pretendia construir novas instalações. Uma coisa grande, alta e vistosa. Depois de muitos estudos, pareceres e análises concluiu que a melhor localização possível era junto a um conjunto de casas, daquelas com pessoas dentro, a 500m de um Mosteiro classificado como Imóvel de Interesse Público e sem acessos adequados.
E perguntei: nessa terra não havia parques industriais?
Havia sim. Mal-amanhados, é certo. Mas tinham nome e tudo. Havia o da Negra Terra, o do ehleP, Leital Pedra, Los Curre, entre outros. O Município dessa terra longínqua tinha um sítio na Internet muito bem organizado. Via-se que era gente que percebia da poda, gente moderna de visões largas e desafogadas.
E isso foi noutros tempos? Naqueles tempos em que faziam as coisas e logo se via como remediar?
Não! Isto é coisa para ter uma meia-dúzia de anos.
Pois então, a fábrica foi construída naquele sítio tão jeitoso. Vejam só, até lá passava um pequeno rio, o eleP. Que conveniente, até dava para fazer umas pequenas descargas. Mas sempre como último recurso.
Claro está, passados uns tempos chegaram à conclusão que dava jeito construir uma nova estrada. Uma coisa bem feita. Com alcatrão e pontuada com umas rotundas, coisa fina. O Presidente da Junta desse remoto território ficou todo contente, pois nada qualifica mais uma terra que estas belas obras de engenharia civil. Campos agrícolas e paisagem é coisa a que se dá pouco valor por aquelas paragens tão distantes.
E quem paga?
O povo, pá! Se não paga diretamente, há de pagar por troca de umas licenças de construção em terrenos rústicos. Como dizia a minha mãe: tudo se paga neste mundo.
Nota: qualquer semelhança com a nossa realidade só pode ser um delírio do redator desta crónica.
Um dia havemos de fazer contas a esta desordem. Havemos de apurar o preço à quantidade de estradas, condutas de água e saneamento, eletricidade, gás… tudo infraestruturas caríssimas e todas elas bem espalhadas pelo concelho. Toda esta malha industrial espalhada pelo território é um quebra-cabeças, sempre que temos uma descarga num dos nossos rios, nunca se sabe de onde veio. Se houvesse um pouco de ordem, tudo era mais fácil de gerir e controlar.
Citando um velho conhecido: se o podes complicar, para quê torná-lo simples.
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