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Vila Nova de Famalicão
Sábado, 12 Outubro 2024

Hospital de Famalicão. Urgência da covid-19 abre com polémica

A nova urgência para atendimento às pessoas com covid-19 abre hoje no Hospital de Famalicão. Com polémica. O presidente da Câmara, Paulo Cunha, diz que a obra representa “um esforço financeiro” da autarquia. Mas o Ministério da Saúde, através do hospital, também paga. Só não se sabe quanto, porque o hospital fica em silêncio.

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Famalicão

O novo serviço de urgência hospitalar para atender doentes com covid-19, criado na unidade de Vila Nova de Famalicão do Centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA), entra em funcionamento esta quinta-feira, 3 de dezembro. Mas com polémica e dúvidas quanto ao investimento feito na nova estrutura.

Vamos por partes para um melhor entendimento. O presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, foi o primeiro a anunciar um investimento de 150 mil euros na construção de uma urgência reservada aos doentes com covid-19. E durante o mês de novembro, o autarca multiplicou-se em notícias e aparições na televisão e num vídeo difundido pela edição online de um jornal local, ignorando a outra parte do investimento, que cabe ao Ministério da Saúde, e acusando o Estado de não investir em equipamentos públicos. Da parte do hospital, nenhuma informação ou esclarecimento sobre o assunto.

De seguida, o líder do PS-Famalicão, Eduardo Oliveira, pediu uma reunião com o conselho de administração da unidade hospitalar. Após essa reunião, o PS local anunciou que, afinal, a urgência não custava 150 mil euros, como a Câmara tinha divulgado, mas sensivelmente o dobro desse valor. Ou seja, os custos seriam partilhados entre o Ministério da Saúde, através do hospital, e a Câmara Municipal. No seu comunicado, o PS não apresentou números exatos e informou que o montante de cerca de 300 mil euros tinha sido transmitido pela administração hospitalar. Mais uma vez, da parte do hospital, nenhuma informação ou confirmação.

Na ausência de uma informação oficial do conselho de administração do CHMA sobre o dinheiro público aplicado na nova urgência, o NOTÍCIAS DE FAMALICÃO questionou diretamente a assessoria de António Barbosa, presidente do conselho de administração, com duas perguntas muito concretas: em que dia iria abrir a nova urgência e quanto é que o hospital tinha investido no equipamento. Através da sua assessoria, António Barbosa mandou dizer que a urgência entrava em funcionamento no dia 3 de dezembro, ignorando qualquer informação sobre o custo da obra.

Em função disto, ficamos sem saber qual o real montante do investimento. Sabemos apenas que a nova urgência, construída sem concurso público e em tempo recorde (o que será permitido pela situação de pandemia…), promete desanuviar um pouco a pressão sobre a urgência do hospital.

AS MEIAS-VERDADES

A informação da comparticipação do Ministério da Saúde que terá sido avançada pelo conselho de administração do hospital aos responsáveis do PS-Famalicão deixou os socialistas famalicenses furiosos com o presidente da Câmara, dado que Paulo Cunha anunciou o investimento municipal na TVI e gravou um vídeo para a edição online de um jornal local em que acusou o Estado de não investir em serviços públicos.

Paulo Cunha anunciando o investimento municipal na TVI. “Meia-verdade”, diz o PS. Fotografia DR

Em comunicado, Eduardo Oliveira, líder dos socialistas famalicenses, acusa Paulo Cunha de não ter falado a verdade. E de fazer propaganda enganadora.

“As afirmações do senhor presidente da Câmara Municipal, dr. Paulo Cunha, ao indicar que a Câmara construiu a referida unidade [a urgência para casos de covid], não correspondem à verdade”, lamentou o responsável socialista, num comunicado intitulado “As meias-verdades da Câmara Municipal”.

Eduardo Oliveira referia-se a um comunicado de Paulo Cunha, dando conta de “um esforço financeiro” feito “em prol da saúde dos famalicenses”, traduzido num investimento da Câmara Municipal no montante de 150 mil euros “na construção de um edifício de apoio ao serviço de urgência do Centro Hospitalar do Médio Ave”.

A “COLABORAÇÃO INSTITUCIONAL”

O apoio da Câmara Municipal “surge no âmbito da colaboração institucional que mantemos com o Hospital”, adiantou, a propósito, Paulo Cunha, salientando que “a saúde e a segurança dos famalicenses são a nossa prioridade”.

Os dirigentes do PS foram recebidos conselho de administração do CHMA no âmbito do Roteiro da Saúde “Por um Concelho com mais e melhor Saúde”, iniciativa que a comissão política de Eduardo Oliveira lançou recentemente.

O presidente do CHMA, António Barbosa, à esquerda na imagem, recebeu Eduardo Oliveira (PS), o segundo a contar da direita. Fotografia DR/PS

“De acordo com a informação transmitida na reunião, o novo espaço, destinado a doentes respiratórios, resulta de um investimento do Centro Hospitalar e do Município de Vila Nova de Famalicão”, esclareceu o PS, em comunicado, procurando evitar que passe a ideia segundo a qual só a Câmara Municipal é que está preocupada com a saúde dos famalicenses.

“INFORMAÇÕES FALACIOSAS”

“Para que a informação do senhor presidente da Câmara fosse correta, deveria ter sido dito que a Câmara Municipal de Famalicão comparticipou com 150 mil euros, e não afirmar que ‘a Câmara Municipal está a construir um edifício de apoio no Centro Hospitalar que representa um investimento de 150.000’”, afirma o PS.

“O PS-Famalicão e os famalicenses não aceitam que os seus representantes autárquicos, particularmente o seu presidente, enveredem por campanhas de marketing político, intencionalmente enganadoras, e que desvirtuem a verdade da ação política”, diz ainda Eduardo Oliveira, manifestando-se convicto de que os famalicenses “não se deixam influenciar por informações tendencialmente falaciosas”.

Recorde-se que Paulo Cunha, num vídeo difundido nas redes sociais, acusou ainda o Governo de ter reduzido o investimento em infraestruturas hospitalares e lembrou que, “se não fossem as câmaras municipais, os serviços públicos não teriam as condições que têm”.

Para o PS-Famalicão, estas declarações do presidente da Câmara de Famalicão “são desabafos pouco condizentes com a verdade”.

DADOS SOBRE A URGÊNCIA PARA CASOS DE COVID-19

A nova estrutura tem como objetivo tornar mais eficaz o combate à pandemia da covid-19, centralizando o tratamento e avaliação de doentes respiratórios para proporcionar uma melhoria no atendimento.

O edifício, com uma área aproximada de 400 metros quadrados, irá assegurar o tratamento de doentes respiratórios adultos e pediátricos em espaços distintos, com capacidade para 35 pessoas, sendo constituído por sala de emergência, sala de imagiologia e sala de enfermagem.

O serviço de urgência do Hospital de Famalicão fica mais desanuviado. Fotografia DR/CMVNF

Além disso, assegura uma separação física do restante serviço de urgência médico-cirúrgica, aumentando assim a segurança de doentes e profissionais do hospital famalicense.

A área pediátrica é composta por dois consultórios médicos, instalação sanitária, dez lugares para doentes apeados, três doentes em maca e uma sala de tratamento. Por sua vez, a área de adultos tem dois consultórios médicos, instalação sanitária, doze lugares para doentes apeados e oito para doentes em maca.

A área reservada a profissionais garante um acesso independente do exterior, dois balneários com instalação sanitária, espaço dedicado para troca de equipamento de proteção individual e uma copa.

Todo o espaço é servido por duas salas de sujos assegurando o apoio ao equipamento de higienização e evacuação de resíduos.

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