Onde estava a água de Vila Nova de Famalicão em 1982?… Na barragem do Ermal, em Vieira do Minho, ou no rio Cávado?!…
Onde estava o caminho-de-ferro eletrificado?
Onde estavam as autoestradas, a variante à cidade e a via intermunicipal (VIM) Joane-Riba de Ave-Vizela?
Onde estavam o gás natural e a fibra ótica? E a Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos (ETRSU)?…
Onde estava a Universidade Lusíada?
Onde estavam o CITEVE (Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal), a CESPU, com a sua Escola Superior de Saúde do Vale do Ave? E o novo Tribunal de Famalicão?…
Por onde andava o saneamento que cheirava mal?… As estações de tratamento de água (ETA) e as estações de tratamento de águas residuais (ETAR)?
Por onde andavam a Casa das Artes, as piscinas cobertas e ao ar livre, a Biblioteca Camilo Castelo Branco, os pavilhões e ginásios desportivos, os centros sociais e as pré-primárias, a central de camionagem e todas as escolas profissionais todas (Cior, Forave e Artave), o quartel da PSP, os museus e a bancada nascente do Estádio Municipal, e o parque de campismo de Gondifelos… enfim, que a vida nem sempre assim foi, e bem que o deputado Domingues Azevedo protestava ao tempo em Lisboa, na Assembleia da República, repetindo que “Vila Nova de Famalicão não era uma aldeola, mas parecia, pois tudo lhe faltava”.
Já tinham passado quase 10 anos após o 25 de Abril de 1974 e todo o país gritava e estava desesperado, pois que tinha aberto os olhos noutra direção, com o fim da guerra colonial, e reconhecia o lamentável estado a que tínhamos chegado e em que vivíamos, comparativamente com os países da restante Europa e de que ainda não fazíamos parte, ainda que muitos nossos compatriotas por lá andassem ou tivessem fugido daqui.
Claro que nada era fácil; todos passamos a democratas, mas analfabetos políticos ainda. Quase ninguém se importava porque eram grandes as confusões e contradições ideológicas e muito poucos sabem já hoje como tudo se passou a partir de 1980 até 2002, entre nós – a tão sonhada passagem do século e do milénio –, o tempo em que quase tudo aconteceu e que mudou definitivamente o velho concelho fundado em 1835, apesar de não haver projetos à altura das ambições e necessidades, uma administração ronceira e um funcionalismo conformista e corrupto com o “status quo” herdado do antigamente ainda, e haver muitas, muitas dívidas, contraídas sobretudo desde 1977.
Era um tempo do descrédito municipal perante a banca e comércio local. Ninguém fiava 1 quilo de pregos, que fosse, à Câmara Municipal. Enfim, como diria o grande Almada Negreiros:
Quando cheguei aqui
o que havia estava no fim,
e o que estava para vir
andava disperso pelo sonho de alguns.
Excerto de “As 4 Manhãs”
Mais. A Câmara Municipal de Famalicão devia mais de um milhão de contos, cerca de cinco milhões de euros, em moeda atual, que, então representavam cerca de 2 orçamentos anuais do município.
As confissões de dívida perante os bancos eram aos molhos para pagar, renovar ou liquidar… Para além de cento e tal urbanizações, leia-se, formas safadas de loteamentos viabilizados, por terem sido autorizados sem infraestruturas, arruamentos, água, eletricidade e saneamento, uma forma tão engenhosa quanto sacana de vender terra aos nacos e ganhar dinheiro fácil e rápido e sem todos os papéis através de viabilidades, para além de um orçamento que rondava o meio milhão de contos…
Lembre-se que, agora, o orçamento municipal é superior a 150 milhões de euros, praticamente o maior do distrito de Braga… E o que se sabe, observa e pode ler nos tempos que correm é muito pouco, pois o atual boletim municipal está exclusivamente ao serviço da propaganda e pouco ou nada informa sobre aquilo a que temos direito de saber por lei e para o que foi criado também na década de 1980 em cumprimento do legislado, o que não garante que tenhamos sido bons cumpridores deste pormenor.
Este trabalho nem é panfleto nem provocação e não passa de um testemunho, se não de total objetividade, pelo menos de sinceridade, a minha parcela de verdade. Escusava de juntar este momento de ligeiro escrúpulo semântico depois da tese defendida por Sua Excelência o Senhor Presidente da Assembleia da República sobre poder-se dizer/escrever todo o tipo de alarvices, mas – enfim!… –, até Homero dormita.
Fizemos esta caminhada com 2/3 vereadores a meio tempo ou em permanência de acordo e justificado com as exigências circunstanciais dos muitos trabalhos e responsabilidades, para logo ter presente com a primeira Aliança Democrática, que o PPD-CDS dá emprego, que não trabalho, a todos, todos, e aqui ninguém fica para trás, exceto a restante vereação… Para além de gabinete, secretárias e adjuntos nos termos das leis e muito bem que, então, só o Presidente da Câmara a eles tinha direito…
Computadores e telemóveis que não havia então ainda por cá, e quanto somará tudo isto desde aí até hoje, durante 20 longos anos que aqui e ali acusam algum estertor entre si e falta de novas ideias?…
Muito mais que alguns orçamentos municipais de 1982 em diante só em despesas dos políticos. E não será difícil elaborar um cálculo aproximado que seja, para além do pessoal que quase triplicou, assessorias, contratos, espalhafatos e mordomias – que 160 milhões é muito dinheiro em qualquer parte do mundo e, muito mais, percentualmente, que o orçamento dos Açores, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e Guiné…
Infelizmente, nestas como noutras questões, a sanha partidária é muito semelhante não só porque somos bastante iguais nas mesmas circunstâncias como seres humanos, que não nas práticas, atitudes, decisões e princípios.
Foi para isto que se fez o 25 de Abril?… Diz-se logo depois que é a democracia. Sendo os responsáveis políticos, em geral, de todos os partidos, iguais uns aos outros, quer dizer, em vez de serem escolas cívicas de virtudes e deveres para os cidadãos tornaram-se em agências de compadrios, influências e maldizer, negócios e empregos conforme se pode ler na imprensa diária… Ambições desmedidas e vaidades até, para além dos novos sicários que estão sedentos por ir ao pote, que não em servir em nada o País, invocando até o nome de Deus em vão, claro, mas sempre a bem da nação. Onde é que já ouvimos isto?…
Dentro de portas foi o tempo em que quase tudo aconteceu em termos de desenvolvimento de infraestruturas básicas, quer se queira quer não, e temos aguda consciência disso, do renovado parque escolar (Joane, Pedome, Didáxis em S. Cosme, Gondifelos e Arnoso, D. Maria II), infantários e creches que não havia quase em nenhures, centenas de habitações sociais na cidade e em Lousado, em Joane (Habitorre), Gondifelos, Tripeira na cidade e Calendário, e quase todas as sedes das juntas de freguesia, bibliotecas escolares e públicas nas vilas de Joane, Ribeirão, Riba de Ave, pavilhões desportivos e piscinas, campos de ténis e pavimentação de quase todas as estradas principais e locais, enfim, o arranjo dos adros das igrejas, os apoios sociais e não só para trabalhadores-estudantes que ainda hoje e muito bem têm continuidade e muitos, muitos mais milhares de obras nas 49 freguesias ao longo de 20 longos anos de trabalho, ideias e projetos, equipa e meios financeiros e com os mais diversos governos do país.
Nota: Este é o primeiro de três artigos de análise à gestão municipal de Vila Nova de Famalicão dos últimos 40 anos, que Agostinho Fernandes escreveu em exclusivo para o jornal NOTÍCIAS DE FAMALICÃO. O próximo artigo será publicado no dia 1 de julho.
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