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Vila Nova de Famalicão
Sábado, 5 Outubro 2024

Xavier Ferreira, presidente da ACIF. “Sou contra o abate de árvores.”

As várias empreitadas lançadas pela Câmara Municipal de Famalicão ao mesmo tempo no centro da cidade, o abate massivo de árvores, a covid-19 e a campanha de Natal. Temas quentes abordados com frontalidade pelo presidente da Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Famalicão (ACIF), Fernando Xavier Ferreira, em entrevista ao NOTÍCIAS DE FAMALICÃO.

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Famalicão

As várias empreitadas lançadas pela Câmara Municipal de Famalicão ao mesmo tempo no centro da cidade, o abate massivo de árvores, a covid-19 e a campanha de Natal. Temas quentes abordados com frontalidade pelo presidente da Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Famalicão (ACIF), Fernando Xavier Ferreira, em entrevista ao NOTÍCIAS DE FAMALICÃO.

O presidente da ACIF considera que as obras de reabilitação urbana vão “tornar a cidade mais atrativa, sustentável”, mas critica o “timing” da sua realização.

Confirma, entretanto, que nas sessões de apresentação dos projetos de reabilitação da Praça de D. Maria II e do antigo campo da feira, a Câmara Municipal nunca falou em abate massivo de árvores. “A questão do abate de árvores, e sendo o mais claro possível, nunca foi abordada”, afirma.

Consciente da “revolta dos cidadãos” por causa do abate das árvores, grande parte delas com muitas décadas, Xavier Ferreira também se afirma contra esse abate, mas confessa que “é o preço a pagar pelo progresso e modernização do centro da cidade”.

Fernando Manuel Xavier Ferreira nasceu em Vila Nova de Famalicão em 23 de junho de 1968. Vindo de uma família numerosa, com mais cinco irmãos, é casado e pai de um filho. É economista, licenciado pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

É sócio-gerente, há mais de 20 anos, das empresas famalicenses Ramos Carneiro & Ferreira e Optimínio – Gestão e Administração de Imóveis.

Xavier Ferreira é presidente da Associação Comercial e Industrial de Famalicão (ACIF) desde 2015, cumprindo atualmente o seu segundo mandato. Mas já pertence à instituição desde 2008, onde começou como secretário.

“As intervenções previstas vão tornar a cidade mais atrativa, sustentável e melhor para a vivência de cada um de nós, seja na vertente de lazer, mas também noutras vertentes como a habitacional ou a comercial.”

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – O que é que a Associação Comercial e Industrial de Famalicão pensa do facto de a Câmara Municipal ter lançado um conjunto de obras ao mesmo tempo no centro da cidade, nomeadamente na Praça D. Maria II, no mercado, no antigo campo da feira e no Parque 1º de Maio?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – A ACIF nunca estará contra o progresso e aquilo que considera ser uma melhoria do centro da cidade. Serão um conjunto de intervenções que irão transformar de forma significativa a dinâmica do centro urbano e como tal são sempre bem-vindas. Podemos discordar em algumas situações pontuais, que consideramos possam ser prejudiciais para as dinâmicas económicas e comerciais, mas no seu todo, estas intervenções irão trazer maiores ganhos futuros para a cidade e para todos os famalicenses, em geral. As intervenções previstas, e já em andamento, vão tornar a cidade mais atrativa, sustentável e melhor para a vivência de cada um de nós, seja numa vertente mais de lazer, mas também noutras vertentes importantes como a habitacional ou a comercial.

“A questão do abate de árvores, e sendo o mais claro possível, nunca foi abordada diretamente. Seja por não ter sido mencionado o assunto por parte do Município, seja também por ninguém ter questionado especificamente sobre a situação.”

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Pensa que as obras deveriam ter obedecido a outra calendarização, de modo a prejudicar o menos possível a atividade comercial?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – A questão da crise provocada pela pandemia coloca todos os comerciantes numa situação complexa e fazer esta intervenção numa época que poderia ser de recuperação para o comércio, como é o Natal, claro que não é do agrado de ninguém. O timing não é o melhor, a calendarização poderia ser outra, mas a informação que o Município nos deu foi que não poderiam realizar as obras noutra altura, em virtude de questões contratuais. Obviamente que a ACIF tem uma opinião desfavorável em relação à altura escolhida para o início destas obras e pela nossa parte teriam iniciado apenas em janeiro. Opinião essa que foi dada no momento oportuno e a quem de direito.

“O timing [da realização das obras] não é o melhor, a calendarização poderia ser outra, mas a informação que o Município nos deu foi que não poderiam realizar as obras noutra altura, em virtude de questões contratuais.”

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Como é que se processou o diálogo entre a Câmara Municipal de Famalicão e os comerciantes no âmbito da definição dos projetos de reabilitação urbana?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – O diálogo entre a Câmara Municipal de Famalicão e a ACIF, que representa uma boa parte dos comerciantes da cidade, foi feito de forma transparente, à semelhança do que acontece com muitos outros assuntos. Alguns associados da ACIF solicitaram informações sobre este projeto de reabilitação e nesse seguimento foi marcada uma sessão pública para esclarecimento das dúvidas e questões existentes. Portanto, não houve qualquer falha de comunicação e tudo decorreu dentro da normalidade.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Concorda totalmente com os projetos de reabilitação urbana em curso ou teria sugestões a fazer à Câmara Municipal?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – Há uma expressão que se utiliza muito que diz que “cada cabeça, sua sentença”. Os projetos de reabilitação urbana foram públicos, apresentados aos cidadãos e dando-lhes a possibilidade de ter uma voz ativa sobre os mesmos. As sugestões que tinha a fazer, fi-las em momento oportuno e no devido local, sendo certo que não faria tudo exatamente igual ao que está projetado, mas também não faria alterações muito significativas ao que foi delineado. Agora, acho que seria difícil estar a concordar totalmente, até porque enquanto presidente da Direção da ACIF defenderei sempre os interesses de todos aqueles que represento, no caso, os associados da ACIF.

“O abate de árvores no centro urbano de Famalicão tem causado alguma revolta dos cidadãos, que é compreensível, mas neste caso penso que será o preço a pagar pelo progresso e modernização do centro da cidade.”

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Alguns comerciantes do centro de Famalicão contactados pelo nosso jornal dizem que a Câmara Municipal nunca pediu sugestões sobre os projetos de reabilitação da Praça D. Maria II e do campo da feira e que os projetos apenas foram comunicados, digamos, como facto consumado. Confirma esta informação?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – Este projeto de reabilitação foi apresentado publicamente, inclusive, com algumas sessões de apresentação onde poderiam marcar presença todos os interessados em esclarecimentos e em contribuir para a sua melhoria. Todo este plano esteve pormenorizadamente disponível para análise pública durante o período de consulta pública que foi aberto e detalhadamente transmitido aos famalicenses, tanto nas sessões públicas de esclarecimento organizadas como através da publicação de todos os documentos ao longo do processo no portal do município.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – A Iniciativa Liberal veio a público lamentar que o projeto não contemple a construção de um parque de estacionamento subterrâneo. Qual é a sua opinião sobre isso?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – O projeto de construção de um parque de estacionamento subterrâneo é algo falado há alguns anos a esta parte, não sendo uma situação nova para ser avaliada. Já foi discutida variadas vezes, mas por diferentes ordens de razão nunca se concretizou. Mas claro que seria algo importante para o comércio existente no centro urbano.

“[Um parque de estacionamento subterrâneo] seria bom e daria melhores condições àqueles que se deslocam à cidade de Famalicão para diferentes motivos, como as compras, o lazer ou para trabalhar. (…) Seria importante um parque de estacionamento subterrâneo, mas existem fatores de ordem económica que impedem a sua concretização. É algo que não está nas mãos da ACIF.”

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Um parque de estacionamento subterrâneo na Praça D. Maria II seria bom ou mau para o comércio tradicional do centro da cidade?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – Claramente que seria bom e daria melhores condições àqueles que se deslocam à cidade de Famalicão para diferentes motivos, como as compras, o lazer ou para trabalhar, mas não existindo essa possibilidade terão de ser encontradas outras alternativas, algumas delas que já existem, em termos de estacionamento. Um estacionamento subterrâneo permitiria atrair mais gente para o centro da cidade, mas penso que podem existir outras soluções importantes para colmatar esse eventual problema. Nomeadamente uma redefinição dos espaços de estacionamento pagos e concessão de outros que não são a pagar. Esta questão do estacionamento subterrâneo esbarrou sempre na situação da viabilidade económica, sendo impossível a realização de um investimento bastante elevado. Mas como já referi, é uma discussão que não é de agora, já foi realizada por anteriores Direções da ACIF com o Município, e a nossa posição é a mesma. Ou seja, consideramos que seria importante um parque de estacionamento subterrâneo, mas existem os tais fatores de ordem económica que impedem a sua concretização. É algo que não está nas mãos da ACIF, embora concordemos com a importância desta realização.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – É verdade que nas reuniões entre a Câmara Municipal e os comerciantes nunca ninguém falou em abate de árvores?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – Como já referi, o projeto esteve disponível para análise pública durante o período de consulta pública que foi aberto e transmitido aos famalicenses. Especificamente a questão do abate de árvores, e sendo o mais claro possível, nunca foi abordada diretamente. Seja por não ter sido mencionado o assunto por parte do Município, seja também por ninguém ter questionado especificamente sobre a situação. Agora, como também me parece mais ou menos óbvio, estava implícito que o tipo de intervenção a realizar, implicaria o abate de árvores. Porque as alterações a efetuar são muito significativas, vão alterar por completo os diferentes espaços, e por isso, logo à partida, era previsível que fosse necessário abater árvores.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – O que pensa do abate massivo de árvores na Praça D. Maria II?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – O abate de árvores no centro urbano de Famalicão tem causado alguma revolta dos cidadãos, que é compreensível, mas neste caso penso que será o preço a pagar pelo progresso e modernização do centro da cidade. Além disso, os planos do município passam por “compensar” essa necessidade de abate de árvores com a plantação de novas árvores que constituirão uma mancha arbórea superior à que existia. Claro que irá demorar algum tempo até que as árvores atinjam a dimensão das que foram abatidas, mas muitas vezes é difícil, para não dizer impossível, conciliar o melhor dos dois mundos. E quando precisamos de optar entre o ideal e o desejável, temos de tomar algumas decisões que não permitem o contentamento de toda a gente. É o preço a pagar pela evolução que se pretende implementar, embora, e se me pedem uma opinião pessoal, afirmo que sou contra o abate das árvores.

“As sugestões que tinha a fazer, fi-las em momento oportuno e no devido local, sendo certo que não faria tudo exatamente igual ao que está projetado, mas também não faria alterações muito significativas ao que foi delineado.”

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Acha que o novo mercado municipal, conforme foi planificado, será uma mais-valia efetiva como elemento de atração de público à cidade?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – O novo mercado municipal é um espaço atrativo em termos visuais e, por isso, pode ser diferenciador, criando uma nova centralidade. Se se tiver espaços atrativos poderá fazer com que a própria juventude se fixe, obviamente, sem perturbar o ambiente e o descanso da cidade. Esta reestruturação da cidade em termos de obras vai com certeza dinamizar também o comércio local e atrair mais e novos clientes e de outras origens. Com este novo mercado municipal, e beneficiando da nossa situação geográfica privilegiada, poderemos ter encontrado aqui um espaço âncora para chamarmos à cidade as populações dos diferentes centros urbanos pelos quais estamos rodeados. Não podemos viver só com os da casa. Se quisermos crescer e evoluir, a todos os níveis, vamos precisar também de atrair, obrigatoriamente, toda a zona envolvente e as proximidades de Famalicão.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Qual tem sido o impacto da covid-19 sobre a atividade do comércio tradicional?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – Como é óbvio, a covid-19 está a ter um impacto negativo na atividade do comércio tradicional que, por si só, já sentia algumas dificuldades antes da pandemia. O comércio de proximidade está envelhecido. Começou a deixar de ser apelativo para a juventude. Os grandes comerciantes das décadas de 1970 e 1980 estão envelhecidos e enfrentam uma concorrência totalmente diferente da que tinham antes, nomeadamente a concorrência das grandes superfícies. Este vírus traz muito medo e incerteza, reduzindo as saídas à rua. Não existindo festas, nem eventos, faz com que a atividade comercial seja muito reduzida, nomeadamente no calçado, vestuário e restauração, casos em que se verifica praticamente um corte completo na atividade. Esta rotura prejudicou imenso a atividade económica. Em setembro e outubro algumas empresas já não reabriram, as que aderiram ao “lay-off” ainda não encerraram e têm aguentado os postos de trabalho. Outras que não o fizeram, optaram desde logo por encerrar. Portanto, vivem-se algumas situações dramáticas e o impacto será ainda maior se não forem tomadas mais medidas de apoio aos empresários.

“As expectativas em relação ao Natal estão mais comedidas, se preferir pode dizer-se que estão redimensionadas e adaptadas ao que é possível fazer neste ano completamente atípico em que vivemos.”

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Quais são as suas expectativas para a campanha de Natal 2020?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – As expectativas e a dinâmica para a campanha de Natal 2020 são mais baixas relativamente a anos anteriores. Consideramos que é importante dinamizarmos esta época do ano, com iniciativas que promovam as compras no comércio tradicional e a cidade em si, mas neste ano atípico temos de considerar outras circunstâncias importantes. Concretamente a segurança e a saúde das pessoas, não promover os ajuntamentos públicos e garantir que tudo decorra dentro das normas estabelecidas e da segurança que se exige. Nesse sentido, optamos por não trazer o carrossel e o comboio para a cidade, mas, por outro lado, vamos procurar fazer do centro da cidade uma espécie de superfície comercial a céu aberto. Tornar o centro urbano mais confortável e convidativo às compras, garantindo ao mesmo tempo a todos os consumidores a possibilidade de se deslocarem em segurança e com o cumprimento total de todas as medidas definidas pela Direção-Geral de Saúde.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Que ações concretas serão vão realizar?

FERNANDO XAVIER FERREIRA – Iremos realizar um Grande Sorteio de Natal, premiando quem compra no comércio tradicional, também um concurso de montras de Natal e ainda o habitual Famalicão Porto de Encontro, este ano apenas com restaurantes aderentes, uma vez que não existirá a habitual promoção do encontro de amigos para brindar com vinho do Porto na tarde do dia 24 de dezembro. Iremos também privilegiar a divulgação e a interação digital, garantindo uma vez mais a proteção de todos e evitando ao máximo ser mais um foco de preocupações nesta fase já tão conturbada. Nesse sentido, as expectativas em relação ao Natal estão mais comedidas, se preferir pode dizer-se que estão redimensionadas e adaptadas ao que é possível fazer neste ano completamente atípico em que vivemos. Ainda assim, e como deve ser o papel da ACIF, iremos promover e dedicar todos os nossos esforços para que esta campanha de Natal seja uma mais valia para os associados em particular e também para a cidade e os famalicenses no geral.

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