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Domingo, 6 Outubro 2024

A carta da professora de Sintra

O coronavírus é o responsável pelo cercear dos direitos e liberdades. Por uma causa maior. A saúde pública.

5 min de leitura
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Carlos Folhadela Simões
Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.

Famalicão

Fui convidado para colaborar com esta nova publicação no panorama jornalístico famalicense.

Aceitei o desafio e aqui estou. Espero conseguir corresponder às expectativas e à confiança depositada.

Inicio esta jornada com um tema fastidioso, que já nos aborrece e que tem criado sérios problemas a inúmeros agregados familiares. O SarsCoV-2. Um coronavírus.

A Covid-19 é, infelizmente, o tema da atualidade. Aquele que suscitou que fossem decretados os estados de exceção: calamidade e emergência.

O coronavírus é o responsável pelo cercear dos direitos e liberdades. Por uma causa maior. A saúde pública.

Confinámos de 18 de março a 2 de maio. Tempos idos e que não desejámos que voltem. Para isso, numa fase de crescimento diário do número de infetados, temos todos uma responsabilidade individual acrescida. A responsabilidade do cumprimento de regras básicas: uso de máscara, não partilha de objetos, etiqueta respiratória e distanciamento social. Há quem siga as regras à risca e quem as subvalorize. Adultos não deviam ser desculpabilizados. Os miúdos também não, já que decorridos mais de seis longos meses após o alerta nacional, já tiveram tempo suficiente para interiorizar as regras de conduta.

No entanto, fomos confrontados com um caso insólito numa escola deste país, no Agrupamento de Escolas Escultor Francisco dos Santos, em Rio de Mouro, Sintra.

Um aluno suspenso por partilhar um lanche. Um escândalo para uma grande maioria de internautas. Uma bomba caída nas redes sociais. Mas uma leitura mais cuidada e o averiguar das razões para tal procedimento permitiu esclarecer a situação.

Felizmente, Cristina Frazão, Diretora do Agrupamento, não facilitou. Fez cumprir as regras. Não relaxou. Não amoleceu com desculpas piedosas. Aqui fica a missiva da diretora dirigida ao Encarregado de Educação do petiz:

“Exmo. Sr. Encarregado de Educação,
O seu educando, por ter ficado retido, encontra-se agora numa turma onde não conhece ninguém, pelo que no intervalo procura a companhia de colegas de outras turmas, seus colegas do ano passado, algo que este ano tem que ser rigorosamente evitado, mas que ele já ignorou por diversas vezes e por diversas vezes foi alertado. Não mudou de atitude.

Também foi já alertado para que quando comesse, sem máscara, claro, deveria afastar-se do grupo, algo que ele repetidamente ignora. Também foram repetidamente os alunos avisados que não podem partilhar comida, como não podem partilhar material.

O que eu vi, após ter este grupo de alunos já referenciado pelos professores e pelos funcionários, foi um quarteto de meninos, de turmas diferentes, juntos, sem máscara e a dar dentadas na comida uns dos outros. Não se trata de uma generosidade do seu filho em pagar uma sandes ao colega, que surpreendentemente ainda não teria comido nada às 16h30 da tarde, mas sim de estarem a dar dentadas no mesmo alimento.

Se eu pagar comida alguém, dou-lha. Não implica que essa pessoa abocanhe a comida que está na minha mão. São coisas diferentes. E este grupo de 4 estava a incumprir não apenas uma regra, mas várias, o uso obrigatório de máscara, a distância física, a distância quando se come e a mistura de turmas no intervalo. Tudo repetidamente e depois de avisados. A diretora de turma explicou tudo. Se não concordava, dirigia-se a mim. Pedia esclarecimentos.

O plano de ação e contingência deu muito trabalho a fazer e deu muito trabalho a organizar as três escolas do Agrupamento para recebermos 1400 alunos em segurança. Não posso permitir que a estranha versão de generosidade do seu filho, que ainda me há-de indicar qual dos 4 estava em jejum, ponha tudo a perder.

O cumprimento de simples regras de higiene e distanciamento são o que pedimos à geração do seu filho. O senhor fez hoje passar uma atitude irresponsável e de desrespeito pela escola toda, por um ato heróico. Os meus sinceros parabéns. As regras são claras. No documento divulgado no início do ano é referido quais as penalizações para o seu incumprimento.

Espero que tenha chegado para que retire o seu post cheio de inverdades e que deu azo a que sem conhecerem os factos tantas pessoas venham encher o Facebook de ódio. Não gostam do meu trabalho? De 4 em 4 anos há eleições para diretor.”

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Carlos Folhadela Simões
Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.
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