Nas entrelinhas do sistema educativo, existe uma verdade que muitos conhecem mas poucos têm coragem de dizer em voz alta: não é a criança que falha — é o tempo que lhe damos para crescer.
Quando a minha filha entrou no berçário, fiz o que muitos considerariam impensável: deixei-a ficar mais um ano na sala dos bebés. Não porque tivesse dificuldades, não porque não estivesse “pronta” — mas porque senti que o mundo ainda lhe era demasiado grande e frio para que a empurrássemos dele para fora. Preferi que ganhasse tempo, colo, chão. Que vivesse o que precisava viver com a tranquilidade de quem não está numa corrida contra ninguém.
Hoje, vejo com clareza a sabedoria dessa decisão. E pergunto-me: quantas crianças, se tivessem tido esse tempo — esse simples tempo — não seriam hoje mais seguras, mais confiantes, menos rotuladas?
Retive a minha filha na sala dos bebés. E não me arrependo. Não por ela ser menos capaz — mas precisamente por ser tão capaz, tão cheia de mundo por dentro, que merecia um início de caminho onde pudesse ser inteira. Sem medos. Sem corridas.
Enquanto mãe e presidente de uma associação de pais, vejo diariamente o custo das decisões apressadas, dos calendários inflexíveis, dos “tem de ser agora”. Talvez seja tempo de, coletivamente, começarmos a perguntar: a quem serve esta pressa? E, sobretudo, quem estamos a deixar para trás por não termos tido a coragem de parar?
Pensem nisto!
Que esta reflexão sirva pelo menos para isso…
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