“Que estratégia de desenvolvimento queremos para o território de Vila Nova de Famalicão? Queremos ser tudo ao mesmo tempo, o que poderá significar não sermos coisa nenhuma, ou queremos ser excelentes em determinados setores? E que setores serão esses? Que direção deve, afinal, seguir o concelho de Vila Nova de Famalicão?”
Estas são algumas das 14 perguntas que, a título de reflexão, foram formuladas numa revista cultural do município, por Armindo Costa, o primeiro presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão da coligação “Mais Ação Mais Famalicão”, que esteve no poder entre 2002 e 2013.

As perguntas elaboradas por Armindo Costa denotam um afastamento político do empresário e antigo autarca famalicense em relação ao rumo que a coligação PSD-CDS, sob a batuta de Mário Passos, tem seguido na gestão camarária.
Recorde-se que, depois de Armindo, a coligação PSD-CDS continuou no poder, com os presidentes Paulo Cunha, entre 2013 e 2021, e Mário Passos, que este ano conclui o mandato 2021-2025.
Num artigo de opinião intitulado “Famalicão e os desafios do futuro”, publicado na última edição do Boletim Cultural da Câmara Municipal, Armindo Costa, enquanto participante na comissão de honra das comemorações municipais dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, refletiu sobre “a importância do poder local democrático e sobre aquilo que podemos fazer pelo nosso desenvolvimento coletivo” em Vila Nova de Famalicão.
DEMARCAÇÃO POLÍTICA
Pela primeira vez, 12 anos após ter deixado a liderança da Câmara Municipal, Armindo Costa, que não apareceu com Mário Passos em nenhuma iniciativa de campanha, como assume publicamente a sua demarcação face ao modelo de gestão autárquica que tem sido adotado nos últimos anos.
Sem papas na língua, como, aliás, foi sempre seu timbre, o antigo presidente partilha com os leitores do Boletim Cultural de Vila Nova de Famalicão uma série de perguntas que, no mínimo, são incómodas para o seu antigo assessor municipal Mário Passos – agora presidente –, colocando em causa o rumo da atual governação da autarquia.
Armindo Costa considera que “viver em democracia e em liberdade significa podermos decidir o nosso destino coletivo”. Assim, considera que importa “avaliar se a estratégia de desenvolvimento que está a ser adotada no município de Vila Nova de Famalicão é aquela que melhor serve os interesses e as exigências da nossa comunidade”.
Diz o antigo autarca independente apoiado pela coligação PSD-CDS que “é tempo de reflexão e de balanço, mas, sobretudo, de questionar sobre o futuro que devemos ambicionar”.
AS PERGUNTAS INCÓMODAS
No seu artigo de “reflexão”, Armindo Costa – que brindara Luís Montenegro com a sua presença no comício de Famalicão na campanha para as eleições legislativas, mas que não participou na sessão apresentação da recandidatura de Mário Passos – dispara um total de 14 perguntas.
Primeira: “Estará hoje o poder local famalicense, no seu todo, à altura das necessidades da população que habita o nosso território?”
Segunda: “Estará o Município preparado para os desafios do futuro e para a complexidade dos tempos que se avizinham?”
Terceira: “Que modelo de desenvolvimento poderão aspirar os famalicenses até 2050?”
Quarta: “Como compaginar os diversos interesses em jogo, muitas vezes antagónicos, embora legítimos, de modo a podermos harmonizar a qualidade de vida das populações com as atividades económicas, associativas e outras?”
Quinta: “Como devemos desenvolver o nosso território e, ao mesmo tempo, preservar os recursos ambientais e o nosso património histórico edificado?”
Sexta: “Como pode o município responder às novas problemáticas sociais suscitadas por fenómenos do nosso tempo, designadamente a integração plena dos cidadãos imigrantes e o aumento da longevidade humana?”
Sétima, oitava e nona: “O que devemos fazer pela nossa querida cidade de Famalicão? Que estratégia de crescimento e desenvolvimento urbano queremos para a nossa cidade? Até que ponto temos ouvido a sociedade civil sobre a cidade que estamos a construir?”
Décima: “Qual o papel da cultura e das tradições no desenvolvimento coletivo de Famalicão e na atratividade turística da nossa terra?”
Décima primeira, décima segunda, décima terceira e décima quarta: “Que estratégia de desenvolvimento queremos para o território de Vila Nova de Famalicão? Queremos ser tudo ao mesmo tempo, o que poderá significar não sermos coisa nenhuma, ou queremos ser excelentes em determinados setores? E que setores serão esses? Que direção deve, afinal, seguir o concelho de Vila Nova de Famalicão?”
“TEMOS DE OUVIR TODOS…”
Feitas as perguntas, Armindo Costa lembra que, “em ano de eleições autárquias e a dez anos da celebração dos 200 anos da criação do nosso concelho, seria verdadeiramente importante e fundamental pensar e refletir sobre estas matérias de superior interesse para todos os famalicenses”.
Porque, argumenta o fundador e presidente da empresa de calçado ACO, “por muito que façamos, temos de almejar sempre mais e sempre melhor” e “para fazermos bem, temos de questionar o que fazemos e como fazemos”. E não terminou o texto sem deixar outra farpa: “Para cumprir Abril, temos de ouvir todos os famalicenses e não apenas os amigos próximos do poder.”
Apresentada na última sexta-feira no Museu Bernardino Machado (ver notícia), a edição do Boletim Cultural, que saiu com data de 2024, embora tenha sido produzida este ano, após o encerramento das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, está disponível para donwload gratuito no site da Câmara Municipal, podendo ser descarregada clicando aqui.

Na política autárquica de Vila Nova de Famalicão, Armindo Costa foi vereador municipal entre 1998 e 2001, tendo sido líder da oposição ao socialista Agostinho Fernandes, e presidente da Câmara entre 2002 e 2013.
Os seus mandatos ficaram conhecidos por um grande investimento em infraestruturas e equipamentos, sendo de destacar a criação do Parque da Cidade, que ainda hoje é uma referência no Norte do país ao nível de grandes parques urbanos. Uma herança que cimentou o poder político da coligação de direita no concelho.
Atualmente com 87 anos, Armindo Costa celebrou recentemente 50 anos de liderança na empresa de calçado ACO, que fundou na freguesia de Mogege, em 6 de junho de 1975, continuando ainda hoje na presidência do conselho de administração.
Curiosamente, a efeméride da ACO foi totalmente ignorada pela Câmara Municipal, cuja assessoria de comunicação, nomeadamente através do projeto Famalicão Made IN, costuma assinalar os marcos mais importantes das empresas famalicenses.
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