“Estão criadas as condições para se fundar um Centro de Documentação de História Oral e de Fontes Escritas no Território de Vila Nova de Famalicão sobre a Revolução do 25 de Abril. Seria um valioso contributo para celebrar o aniversário da Revolução.”
A afirmação é de Artur Sá da Costa, e foi proferida no dia 25 de abril, no átrio da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicáo, durante a cerimónia de apresentação do livro “Memórias de uma Revolução Popular”, da sua autoria.
Artur Sá da Costa, que foi diretor do Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão nos mandatos dos presidentes Agostinho Fernandes e Armindo Costa, afirma que o seu novo livro, expressamente publicado para assinalar os 50 anos do 25 de Abril, “é uma investigação que recolhe, dá vida e futuro às memórias individuais daqueles que estiveram na linha da frente da Revolução do 25 de Abril no território de Famalicão”.
O autor refere ainda que a obra integra uma parte dos testemunhos orais recolhidos ao longo de uma década e que foram criadas “expectativas de que este manancial documental será, logo que possível, colocado à disposição dos estudiosos e de todos os munícipes”.
Artur Sá da Costa explica que este livro “é um PREC [Período Revolucionário em Curso], alargado, cobrindo os acontecimentos e as vivências, entre o dealbar da madrugada libertadora e as eleições autárquicas de dezembro de 1976, que encerraram o ciclo eleitoral e normalizam o Estado de direito democrático”.
Salientando a importância da história oral, Artur Sá da Costa refere que na génese do livro estão “relatos de experiências, porém, a sua individualidade evidencia a rebeldia da pluralidade”, afirmando que “o passado é múltiplo e plural, esmagando as tentativas de manipulação”.
Com 80 anos de idade, Artur Sá da Costa, que também foi diretor da Casa da Cultura de Famalicão, na Rua Direita, salienta que “este projeto estendeu-se à recolha de fontes escritas, oferecidas generosamente pelos autores destes testemunhos e que, neste momento, este acervo documental já ultrapassa as 10 mil unidades”.
PROTAGONISTAS DA HISTÓRIA
O átrio da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão foi pequeno para acolher as várias dezenas de pessoas que na tarde do dia 25 de abril compareceram à apresentação do livro “Memórias de uma Revolução Popular”, de Artur Sá da Costa.
Entre os presentes, muitas das pessoas que contribuíram com o seu testemunho para o livro. Destaque também para a presença de familiares dos entrevistados, nomeadamente filhos e netos dos protagonistas da época revolucionária que, entretanto, faleceram.
A apresentação de “Memórias de uma Revolução Popular” teve início com um momento de poesia, seguindo-se intervenções do vereador da Cultura, Pedro Oliveira; de Arminda Ferreira, do pelouro da Cultura; e do autor, Artur Sá da Costa, e um longo momento de autógrafos e conversas memoráveis.
Na sua intervenção, o vereador Pedro Oliveira destacou o trabalho desenvolvido por Artur Sá da Costa ao longo de várias décadas em prol da história e da cultura no concelho de Vila Nova de Famalicão.
“Neste livro não encontramos apenas datas ou factos históricos. Encontramos pessoas. Encontramos vidas marcadas pela coragem, pelo medo, pela esperança, pela luta pela liberdade. Encontramos palavras que, mesmo 50 anos depois, ainda nos arrepiam. Palavras ditas por quem saiu à rua, por quem enfrentou a censura, por quem sonhou com um país diferente — mais justo, mais livre, mais solidário”, referiu Arminda Ferreira, destacando que “Artur Sá da Costa, ele próprio protagonista deste momento da nossa história, não se limita a compilar histórias: ele dá-lhes vida ao questionar, ao avivar a memória de quem as está a contar. Assim, com a sensibilidade de quem viu e viveu, conseguiu captar as emoções da época, através de cada página e em cada página, o pulsar da Revolução”.
SOBRE O AUTOR
Artur Sá da Costa nasceu a 20 de novembro de 1944, em Vila Nova de Famalicão, e licenciou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, tornando-se, mais tarde, Delegado do Ministério Público nas comarcas de Famalicão e de Cabeceiras de Basto.
Foi, durante 23 anos, diretor do departamento de Cultura da Câmara Municipal de Famalicão, tendo-se destacado, também, como ativista político contra o regime fascista e na consolidação da democracia em Famalicão. O MDP/CDE foi o único partido político em que militou, tendo sido deputado à Assembleia da República e à Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão.
“Em 25 de abril de 1974, era militar e estive ao lado daqueles que lutaram em prol da conquista da liberdade. Passaram-se 51 anos, e continuo ativo, junto daqueles que querem preservar as fontes históricas e colaborar na consolidação do estado democrático, no fortalecimento do poder local e do bem-estar da nossa comunidade”, afirmou Artur Sá da Costa na cerimónia de apresentação do livro, realizada no Dia da Liberdade.
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