“Pelas terras de Lousado, há um constante cheio a pneu no ar”.
– diz quem por lá vive.
Se me dão licença, hoje vou desalinhar com a ideia que ter uma Mabor no concelho é a melhor coisa do mundo.
Já estou a sentir os comentários dos sempre sintonizados com o crescimento económico, aqueles que defendem a reindustrialização da Europa ou daqueles que gostam de estar ao lado das benfeitorias germânicas. Não tenho nada contra a expressão dessas opiniões e sei que há sempre uma contrapartida quando geramos riqueza material. Não me revejo é nesta atitude servil de: quando a Mabor quer, a malta diz que sim e sorri. Sem ninguém a questionar, em voz alta, o preço a pagar por esta coisa maravilhosa de ter uma fábrica a debitar pneus como se não houvesse amanhã.
Pois a mim, parece-me que o concelho está a pagar uma fatura pesada. Um dos custos é o facto de Lousado ter deixado de ser uma freguesia livre para ditar o seu futuro e passar a ser o logradouro da fábrica… Quando a Mabor precisar de mais espaço, avança com a expropriação de mais uns tantos terrenos e casas. Tal como aconteceu no passado recente. E sabem para quê?
Ora nem mais, para construir um parque de estacionamento para os seus funcionários.
Alguém se indignou? Poucos. E já ninguém se lembra disso.
Como dizia o poeta: primeiro foram os Lousadenses, mas eu não falei porque não sou de Lousado.
Eu sei que aquela fábrica emprega muita gente e que os salários estão acima dos praticados no mercado. Também não me parece que isto acontece por acaso ou por um ataque de generosidade incontrolável do “Chanceler” de serviço. Tal situação resultará duma contrapartida face às condições em que se exerce o trabalho. Quero, no entanto, partilhar o facto de o governo alemão patrocinar a indústria 4.0. E o que é isto? No meu entender, um eufemismo para dar nome à robotização, em grande escala, das linhas industriais alemãs e com isso dispensar a mão-de-obra, cada vez mais cara, dos países terceiros. Repatriando a capacidade produtiva para a “Pátria Amada”.
Sim. Na minha opinião é uma questão de tempo.
E por ser uma questão de tempo, é urgente que todos nós, e especialmente quem nos governa, se preocupe em maximizar as contrapartidas para o concelho.
Aliás, não ficava mal à administração da Mabor tomar a iniciativa e avançar com ações de mecenato ambiental – porque não contribuir para a criação de um parque florestal no Monte da Santa Catarina* como medida compensatórias das emissões de CO2? E com o mecenato cultural apoiar as 7 (ou mais) artes: música, teatro, dança… e porque não patrocinar uma feira do livro com dimensão que o concelho merece? E não menos importante, ser socialmente responsável, apoiando as famílias dos trabalhadores, e não só, na infância e na velhice, pois isso de trabalhar por turnos não é fácil.
Vamos lá, será assim tão difícil compensar esta terra pelo tanto que deu? Até porque este colosso beneficia de isenções fiscais e outros apoios que não estão ao alcance dos pequenos empresários locais.
* Monte do Facho é nome oficial, mas a grande maioria dos Famalicenses conhece este monte por Santa Catarina, devido ao pequeno santuário ali existente. No entanto, conheço uma pessoa que, provavelmente por questões ideológicas, faz mesmo questão de usar esta designação: Monte do Facho. Fica aqui a nota a favor do rigor toponímico.
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