“Existe algum projeto (ou intenção) de construir um novo Estádio Municipal em Cabeçudos?” A questão foi endereçada a Mário Passos, presidente da Câmara Municipal, pela Iniciativa Liberal.
Em comunicado, o partido refere que decidiu questionar o executivo camarário liderado por Mário Passos, “tendo em conta as notícias que mostram a intenção de tornar urbanizável a área atualmente ocupada pelo estádio municipal, bem como o recente artigo de opinião do ex-vice-presidente da Câmara Municipal, Durval Tiago Ferreira”, publicado no jornal o Povo Famalicense desta terça-feira.
Trata-se de um texto no qual o advogado e ex-autarca Durval Tiago Ferreira escreveu: “(…) por que razão a Câmara não negoceia com os proprietários do terreno situado entre o cruzamento da A7 e da A3, adquirindo a área necessária [para a construção do novo estádio]?” No mesmo texto, defende ainda a cedência do “atual estádio e zonas adjacentes, permitindo a sua rentabilização imobiliária”.
“Existe algum projeto ou intenção para a construção de um novo estádio municipal em Cabeçudos?”, questionam os liberais famalicenses. A IL-Famalicão pergunta ainda se “os ‘polémicos’ terrenos do projetado Ecoparque de Cabeçudos estão a ser equacionados para esse efeito?”.
Em causa, terrenos localizados nessa freguesia escolhidos para sediar um projeto imobiliário denominado Ecoparque de Cabeçudos, cuja proposta para atribuição de “declaração de relevante interesse público municipal” foi retirada pelo presidente da Câmara da reunião do executivo municipal duas vezes consecutivas.
“ESTÁDIO NOVO, DE RAIZ”
Refira-se que, em declarações publicadas esta terça-feira pelo canal da internet Íris TV, Mário Passos disse: “(…) eu digo claramente que quero fazer um estádio, e quero fazer um estádio novo, de raiz. Obviamente se isso não for possível, havemos de ter outras formas de melhorar o estádio, nós vamos fazer algo no estádio, é o meu compromisso (…)”.
A propósito desse “estádio novo, de raiz”, o NOTÍCIAS DE FAMALICÃO endereçou esta quarta-feira ao Presidente da Câmara e aos vereadores do Desporto e do Ambiente algumas questões, nomeadamente se a construção pretendida é nos terrenos do atual estádio, tal como afirmou há alguns meses o Presidente da Câmara, ou numa localização diferente do atual estádio.
O NOTÍCIAS DE FAMALICÃO também perguntou se a Câmara Municipal está a equacionar adquirir um terreno para construção do novo estádio. Em caso afirmativo, se está a ser considerado o referido terreno em Cabeçudos e também outros terrenos e quais as suas localizações. Até ao momento não obtivemos resposta às questões colocadas.
A promessa de um novo estádio municipal arrasta-se há anos. Em 2018 o então Presidente da Câmara Paulo Cunha chegou mesmo a apresentar publicamente o projeto de remodelação do Estádio Municipal de Vila Nova de Famalicão e prometia inaugurar o “novo” estádio apenas três anos depois, ou seja, em 2021. No entanto, a ideia não saiu do papel.
Em fevereiro deste ano, Mário Passos apareceu com uma outra ideia: concessionar terrenos do estádio a privados para construir o estádio sem investimento municipal. “Conseguimos valorizar o espaço urbano e manter o Estádio Municipal no mesmo local, dotando-o de condições ajustadas a uma equipa de topo do futebol nacional e internacional, tudo isto sem investimento financeiro municipal associado”, referiu o autarca.
Na ocasião, Mário Passos apontou o início do segundo semestre deste ano para o arranque do procedimento concursal, adiantando ainda que “é vontade da Câmara Municipal que a construção de todo o empreendimento comece ainda no ano de 2025”. O concurso, no entanto, ainda não foi lançado.
No início desta época desportiva, Miguel Ribeiro, presidente da sociedade anónima desportiva (SAD) que gere o futebol profissional do Futebol Clube de Famalicão, chegou a admitir a construção de um novo estádio fora do concelho de Vila Nova de Famalicão, alegando que “há claramente uma violação de um compromisso” por parte da Câmara Municipal. Também os adeptos estão fartos de promessas e têm feitos sucessivas demonstrações públicas desta insatisfação.
LIBERAIS PERGUNTAM POR AVENÇAS DO ANTIGO VEREADOR
“Sabendo-se da proximidade à coligação PSD-CDS e diversas avenças recebidas, devemos encarar o artigo de opinião de Durval Tiago Ferreira como a sua opinião pessoal, ou como uma forma de plantar uma ideia?”, quer saber a IL-Famalicão, que pergunta a Mário Passos se “existe atualmente alguma avença ativa para com o referido colunista ou alguma entidade participada por ele”.
Advogado de profissão, Durval Tiago Ferreira foi vereador e vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão entre 2002 e 2009. O primeiro contrato de assessoria jurídica com a Câmara de Famalicão foi assinado em 2014, durante o primeiro mandato de Paulo Cunha. O contrato mais recente foi assinado em novembro do ano passado pelo montante de 74.400 euros que, acrescido de IVA, totaliza o montante de 91.512 euros – o equivalente a 3.813 euros mensais até novembro de 2025.
Dados do portal base, que disponibiliza online dados da contratação pública, mostram que foram celebrados sete contratos com sociedade de advogados Durval Ferreira & Associados, com sede na Avenida de 25 de Abril, em Vila Nova de Famalicão. Desse total, cinco contratos foram celebrados durante os mandatos de Paulo Cunha e dois durante o mandato de Mário Passos.
No total, os contratos ascendem a 404.760 mil euros que acrescidos de IVA totalizam 497.854,80 euros. Ou seja, cerca de meio milhão de euros.
“INTERESSES DE ALGUNS ‘REIS E SUA CORTE'”
Referindo-se ao facto de Durval Ferreira ter vindo a público emitir a sua opinião num artigo de jornal, os liberais famalicenses consideram “ser evidente que tornar público que se pretende adquirir determinados terrenos numa localização constitui uma forma de encarecer os respetivos terrenos”.
“Como zeladores do dinheiro dos contribuintes locais e na esperança de não ver os interesses de alguns ‘reis e sua corte’ sobreporem-se ao interesse público”, a Iniciativa Liberal quer ver respondidas as questões colocadas a Mário Passos.
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