A exposição que o fotojornalista Marques Valentim tem em Famalicão, até ao próximo dia 13, “agarra-nos o olhar com várias histórias da História e está ao nível do que outros nomes grandes do fotojornalismo português têm apresentado sobre o 25 de Abril”. É esta a apreciação que o jornalista e professor universitário Carlos Magno faz de “E Depois do Adeus – Fotografias com História”, mostra fotográfica patente, desde o último sábado, no “Espaço Memória” da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Médio Ave (CCAMMA), na Alameda D. Maria II, no centro da cidade.
Famalicão é a primeira cidade do Norte a acolher a exposição, por iniciativa da Casa da Memória Viva (CMV). Reúne meia centena de fotografias que documentam episódios e protagonistas marcantes da implantação da Democracia em Portugal. Anteriormente já foi vista em Albufeira, Portimão, Santarém e Castelo de Vide.
Falando numa palestra sobre a importância da fotografia na historiografia do 25 de Abril e das transformações sociais e políticas resultantes da revolução, que se seguiu à inauguração da mostra, Carlos Magno adiantou que o trabalho de Marques Valentim “compara com o melhor do fotojornalismo português do séc. XX”, apesar de ser “injustamente pouco conhecido”. Mas, acrescentou, “ainda é tempo de lhe fazermos justiça e de ficarmos a conhecer um acervo com real valor”, constituído por mais de 150 mil fotos e alimentado ao longo de mais 50 anos de carreira.
O comentador da CNN Portugal referiu, como exemplos, duas fotos da exposição que pode ser apreciada no novo espaço cultural do Crédito Agrícola em Famalicão. Uma, que figura no cartaz da mostra, é de Salgueiro Maia com um capacete usado pelos operadores de carros de combate. Foi tirada pouco depois do 25 de Novembro de 1975 na Escola Prática de Santarém, aquando de uma visita oficial do Chefe do Estado-Maior do Exército de então, Ramalho Eanes. A outra é do marechal António de Spínola com o seu monóculo, trajando à civil e empunhando um pingalim. Era ele então Presidente da República.
Também em Braga, nos Encontros da Imagem, a decorrer até ao próximo dia 26, o fotojornalista evidencia “mérito e consistência na linguagem fotográfica” no diaporama “Inglória”, que exibe na Galeria do Paço da Universidade do Minho, realçou Carlos Magno.
Trata-se de um trabalho realizado propositadamente a pedido da organização do certame, a partir de 50 fotografias a preto e branco sobre a guerra colonial e a realidade social em Moçambique. Foram tiradas em 1972 e 1973, anos em que Marques Valentim esteve a cumprir o serviço militar como fotógrafo do general Kaúlza de Arriaga, comandante em chefe das Forças Armadas na antiga colónia portuguesa.
Na inauguração de “E Depois do Adeus – Fotografias com História”, realizada ao fim da tarde das passada sexta-feira, participaram, entre outras personalidades, o presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Mário Passos; o vereador da Cultura da autarquia famalicense, Pedro Oliveira; a presidente da Junta da União de Freguesias de Vila Nova de Famalicão e Calendário, Estela Veloso; e o presidente do conselho de administração da CCAMMA, Germano Abreu.
Na ocasião, o presidente da direção da CMV, Carlos de Sousa, anunciou que esta exposição precede uma outra, prevista para o próximo ano, e que se centrará nos acontecimentos vividos em Vila Nova de Famalicão nos primeiros dias de agosto de 1975, de contestação à governação político-militar do país de então. Esta exposição resulta, explicou, da “doação de uma coleção de alto valor historiográfico e cultural para Famalicão” por um fotojornalista português que “entre nós esteve em serviço, entre 4 e 8 de agosto de 1975, dia e noite”, para a agência norte-americana Associated Press. “E o que, quase 50 anos depois, ele conseguiu repescar entre o muito material que não aproveitou na altura, dada a sucessão ciclópica de acontecimentos, é de relevante interesse para a comunidade famalicense e justifica plenamente o investimento que a nossa associação tenciona fazer na produção, montagem e exibição da exposição”, salientou.
A exposição “E Depois do Adeus – Fotografias com História” pode ser vista até ao dia 13, entre as 10 e as 18 horas, com exceção do dia 11, em que estará fechada. Nos dias 12 e 13 de outubro, às 11 horas, haverá uma visita guiada pelo autor das fotos.
João Marques Valentim nasceu em Cascais em 1949 e concluiu o curso de Fotografia e Cinema nos Serviços de Cartografia do Exército, tendo cumprido o serviço militar obrigatório em Moçambique, como furriel miliciano fotocine.
Logo após o 25 de Abril de 1974, enveredou pelo fotojornalismo, iniciando o seu trabalho na Agência Europeia de Imprensa. Daí passou para a imprensa, tendo integrado, ao longo de mais de 40 anos de carreira, as redações de jornais como “Correio da Manhã”, “A Luta”, “Portugal Hoje”, “Off-Side” e “O Comércio do Porto” e “O Independente”.
É autor da fotografia escolhida pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 Abril para homenagear Salgueiro Maia, neste ano.
Por seu lado, a Casa da Memória Viva foi criada há cinco anos e tem como propósito essencial a “salvaguarda e valorização da memória na, da e pela comunidade famalicense”. Em conformidade, tem privilegiado as ações de sensibilização e informação da opinião pública local sobre a prevenção e os impactos das formas mais comuns de demência, assim como a capacitação de cuidadores e familiares de pessoas em défice cognitivo. Vem pugnando igualmente pela salvaguarda e valorização da memória identitária de Vila Nova de Famalicão.
A exposição conta com o apoio do Município de Famalicão e a colaboração do Crédito Agrícola do Médio Ave.
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