O fado que voltou a ser do povo

A emoção que nasceu em casa da Rainha do Fado espalhou-se pelas ruas e praças de Portugal. Entre vozes, guitarras e corações abertos, o fado reencontrou o seu verdadeiro palco: o povo.

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Nasceu em casa de Amália Rodrigues uma ideia simples, quase caseira, como quem acende uma vela à memória e deixa que a chama cresça por si. Um pequeno encontro de vozes e guitarras, de corações reunidos para recordar a Rainha do Fado, tornou-se o início de um fenómeno que hoje atravessa o país com a força das grandes paixões populares.

O que começou como uma homenagem íntima transformou-se, com o tempo, num movimento de alma. O fado, que muitos julgavam reservado às casas de Lisboa e aos discos antigos, regressou às praças, aos largos, aos pátios dos edifícios municipais. Sob o céu aberto, o fado reencontrou o seu verdadeiro palco: o povo.

Não há barreiras nem palcos distantes. Há proximidade, partilha e emoção. Cantores e ouvintes misturam-se, formando uma só voz, um só coração. Cada acorde da guitarra portuguesa vibra no ar como se chamasse o passado, e cada verso reacende memórias que pertencem a todos. A saudade, esse sentimento que não se traduz, paira no ar como perfume antigo, e as vozes erguem-se num coro de comunhão e verdade.

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Há algo de profundamente português nestes encontros ao ar livre. O improviso surge naturalmente: um assistente arrisca um verso, outro responde, e, sem ensaio, o fado acontece. Não é espetáculo, é partilha. É a alma de um povo que se reconhece no som que o define. Mesmo quem assiste de casa sente o mesmo arrepio, a mesma vibração que Amália deixou como herança: a certeza de que o fado é mais do que música, é sentimento partilhado, é verdade dita em melodia.

E, nessa melodia, brilha o instrumento que lhe dá corpo e alma: a guitarra portuguesa. Com o seu timbre inconfundível, feito de brilho e melancolia, ela é a fiel companheira da voz fadista. Poucos sabem que a guitarra portuguesa tem uma história curiosa — nasceu de raízes inglesas. Inspirada no English guitar, terá chegado a Portugal pelo norte, talvez pelo Porto, onde a comunidade britânica ligada ao comércio do vinho era numerosa e influente. Adaptada, transformada e reinventada pelos mestres portugueses, ganhou nova vida e identidade. Tornou-se símbolo nacional, presença indispensável nas casas de fado e nas noites lisboetas.

 

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