Hoje é sábado.
O país abranda, respira e devolve-se ao silêncio.
Depois de semanas de palavras cruzadas, de promessas erguidas e de vozes que se cruzaram no espaço público,
ergue-se o instante mais nobre — o instante de pensar.
O Dia de Reflexão é mais do que uma pausa no tempo político.
É o respirar pausado da democracia,
o reencontro de qualquer um de nós consigo mesmo e com o sentido íntimo das suas escolhas.
É o momento em que o ruído se dissipa e o silêncio adquire substância;
é o descanso da poluição sonora,
quando a consciência se eleva acima do tumulto e recorda,
com ternura e lucidez,
que viver em liberdade é também um exercício de responsabilidade interior —
e de fé no ser humano.
A democracia não se alimenta de certezas absolutas nem de ruídos ensurdecedores.
Floresce na ponderação, na escuta atenta e na convivência harmoniosa das diferenças.
E o voto — esse traço discreto, singelo e pacífico —
é uma das mais nobres manifestações humanas.
Porque no poder do voto reside a dignidade de todos nós.
Votar é ser a favor da democracia:
é escolher a esperança em vez da apatia,
é acreditar na força do diálogo, na grandeza de pensar
e na fé serena de que o futuro se ergue, passo a passo,
sobre a consciência desperta de cada um de nós.
Hoje, não se trata de convencer, mas de compreender.
De escutar com empatia e de respeitar o outro,
mesmo quando trilha caminhos diferentes.
A pluralidade é o coração que faz pulsar a liberdade;
é nela que se enraíza a maturidade democrática.
E essa maturidade não significa a ausência de divergências,
mas a arte sublime de as viver com respeito —
de discordar sem ferir, de debater sem hostilidade,
de permanecer fiel à razão sem perder a delicadeza do afeto.
Antes de adormecermos, pousemos a cabeça na almofada
e deixemos que o silêncio nos fale com serenidade.
Perguntemo-nos então:
«O que desejamos preservar? O que temos o dever de transformar?
Que legado queremos deixar aos que virão depois de nós?»
Não existem respostas definitivas — apenas o privilégio de procurar.
Porque pensar é também um ato de amor e de fé,
e o voto é o gesto silencioso que os transforma em destino coletivo.
Amanhã, quando o dia nascer, vamos votar.
Com serenidade, com orgulho e com fé.
Com respeito por quem pensa de forma diferente
e com gratidão pelo direito de escolher livremente.
Votemos como quem cuida — de si, dos outros e da casa comum que é o país.
O poder do voto é o poder de transformar em paz,
de decidir sem violência e de construir sem destruir.
A liberdade nasce no pensamento,
mas concretiza-se no voto.
E cada voto é uma semente lançada na terra fértil da democracia:
pequena, silenciosa, mas carregada de eternidade.
Porque, no fim, é isso que nos define como povo:
a coragem de pensar antes de decidir,
de escolher com consciência e com coração,
de acreditar, ainda e sempre,
que a democracia vale a pena — e o nosso voto conta.
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