Nos dias de hoje não restam dúvidas quanto à influência dos hábitos alimentares na saúde. É sabido que, a par da prática desportiva, são os hábitos alimentares que determinam a qualidade da nossa vida, mas ainda assim há doenças relacionadas com a alimentação que continuam a ter uma prevalência significativa em Portugal: é o caso da obesidade.
Dados do último Inquérito Nacional de Saúde (2019), divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, demonstram que 53,6% da população adulta portuguesa apresenta excesso de peso (pré-obesidade ou obesidade) e que a obesidade afeta já 1,5 milhões de pessoas (16,9%).
Em relação à obesidade infantil os números são ainda mais alarmantes: os dados científicos mostram que a prevalência da obesidade infantil aumenta com a idade: 15,3% das crianças de oito anos são obesas e, destas, 5,4% têm obesidade severa, enquanto nas crianças de seis anos a taxa de obesidade desce para 10,8%, entre as quais 2,7% têm obesidade severa, de acordo com um estudo do COSI – sistema de vigilância do estado nutricional infantil das crianças em idade escolar (dos 6 aos 8 anos), integrado no estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative for Europe (COSI/OMS Europa) –, em coordenação com o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA).
Os especialistas alertam para a importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento físico, cognitivo e mental das crianças. Além das famílias, também as estruturas sociais devem garantir o acompanhamento das crianças e a oferta de produtos saudáveis, nutritivos e equilibrados. No combate à obesidade infantil, a sociedade deve agir concertadamente nos diversos contextos de vida, o mais precocemente possível.
A escola, sendo um contexto essencial nesta matéria – seja no que respeita à literacia em saúde das crianças, seja porque é na escola que elas realizam uma parte significativa das suas refeições diárias -, deve pugnar por garantir refeições nutricionalmente equilibradas e saudáveis.
Assim, é incompreensível continuarmos a assistir à celebração de contratos municipais para fornecimento de refeições escolares com cadernos de encargos em que a decisão se baseia no “Critério da proposta economicamente mais vantajosa, na modalidade da Avaliação do Preço”. A questão que se coloca é se o critério do valor económico não deveria ser o menos importante e se não se deveria considerar outros critérios, como a qualidade nutricional das refeições e até o seu impacto ambiental.
A saúde não tem preço! Quando muito, poderá dizer-se que a doença nos sai muito cara, quer pelo sofrimento individual que provoca, quer pelo investimento e despesa que o seu tratamento requer ao Serviço Nacional de Saúde. Precisamos de políticas integradas, assentes na ótica da prevenção da doença e em mudanças estruturais na forma como escolhemos os nossos padrões e comportamentos alimentares e principalmente como educamos as futuras gerações para estilos alimentares mais saudáveis.
Também a saúde precisa de uma ecovisão!
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