Este ano, a partir do dia 13 de maio começamos a viver a crédito em Portugal. E a quem estamos a dever? Ao planeta e às gerações futuras. Importa refletir sobre a resposta que teremos para dar às nossas crianças sobre o que (não) fizemos relativamente ao futuro delas.
A frase tão conhecida e repetida vezes sem conta de Gandhi – “sê a mudança que queres ver no mundo” –, nunca teve tanta importância e peso como agora. O mundo está a fraturar-se em mil pedaços e o ser humano continua sereno a assistir como se não lhe dissesse respeito. Pior: continua a contribuir para abrir mais o fosso, sem se lembrar que poderá ele próprio cair dentro do mesmo.
Considerando o vasto conjunto de cimeiras, acordos e tratados e os objetivos que não são alcançados, as palavras já não chegam. Precisamos de agir, precisamos de, mesmo individualmente, chamar a nós a responsabilidade de iniciar o processo de restauração dos ecossistemas, protegendo a nossa qualidade de vida. Temos uma responsabilidade intergeracional que urge assumirmos! E isso tem, inevitavelmente, de começar na nossa casa e no nosso concelho.
Famalicão tem vindo a sofrer alterações muito negativas por força de decisões políticas pura e exclusivamente focadas no fator económico, sem qualquer equilíbrio e respeito ambiental: seja pelas alterações paisagísticas decorrentes da contínua construção de pavilhões em zonas já de si muito industrializadas, seja pelo descontrolo da exploração da pedreira da Portela que, além de colocar em causa o bem-estar da população, tem impactos ambientais preocupantes.
Paralelamente, temos um centro urbano cada vez mais edificado e sem espaços verdes, onde nem o “menino dos olhos” desta Câmara Municipal – o Parque da Devesa – escapou por força de um contrato puramente unilateral e sem qualquer contrapartida para os famalicenses, arrancando nove mil metros quadrados de zona verde ao pulmão da cidade. E como se a ação por si só já não fosse má o suficiente, a inação é, igualmente, carregada de consequências que, a muito curto prazo, representarão um peso negativo na qualidade de vida das pessoas e no ambiente.
A recuperação do rio Pelhe levará anos, mesmo considerando medidas que se implementem já. Contudo, a ação e o assumir responsabilidades caem em saco roto. Assim como caem as medidas que dizem respeito à resolução do problema do “rio” de efluentes a céu aberto em Fradelos. Dizem que está assim há mais de dois anos e que “para a semana” será resolvido. Falta saber qual a semana.
Também não podemos esquecer os impactos que a agropecuária tem no ambiente: os recursos hídricos gastos, os impactos que estão subjacentes à emissão de gases com efeitos estufa e a poluição do ar que afeta tantas pessoas, como no caso de Fradelos, ao que acrescem os constantes alertas e as evidências científicas, quer da Organização Mundial da Saúde, quer de associações ambientais e sociedade civil que instam os decisores políticos a agir em conformidade às necessidades atuais.
Mas a Câmara Municipal de Famalicão prefere continuar a financiar e a facilitar a proliferação de explorações pecuárias e indústrias transformadoras de carne, em completo contraciclo à tão necessária mudança na forma como produzimos os nossos alimentos e na alternativa aos mesmos. Não agir por não saber até poderá ser aceitável. Saber e nada fazer é inadmissível e incompreensível.
Famalicão precisa de uma (eco)visão que eleve o concelho a um patamar de sustentabilidade e ecocentrismo e que não o torne líder no número de pavilhões, cimento e espaços sem árvores, mas sim que assuma como objetivo um equilíbrio saudável para todas e todos. Precisamos de uma revolução sustentável e ambientalista. Já!
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