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Quinta-feira, 5 Dezembro 2024
Pedro Maia
Pedro Maia
Licenciado em Gestão e Administração Hoteleiro e mestre em Direção Hoteleira-Direção Comercial e Marketing pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Vila do Conde. Apaixonado por literatura e filosofia. Amante de desporto e arte.

1984 de George Orwell – Uma reflexão sobre o totalitarismo

A persuasão ideológica, juntamente com a lavagem cerebral, pode tornar o totalitarismo numa realidade.

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Pedro Maia
Pedro Maia
Licenciado em Gestão e Administração Hoteleiro e mestre em Direção Hoteleira-Direção Comercial e Marketing pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Vila do Conde. Apaixonado por literatura e filosofia. Amante de desporto e arte.

Famalicão

1984 é considerado um clássico de George Orwell. Este livro tem um contexto histórico relevante e aborda uma temática sobejamente importante: o totalitarismo. Ora, através de um romance e de uma história de ficção, Orwell é capaz de criar uma realidade social distinta e um conceito de totalitarismo com base na experiência vivida durante a revolução espanhola.

Orwell participa na Guerra Civil Espanhola e é a partir deste evento da sua vida que se baseia para publicar este clássico, que decorreu entre 1936 e 1939, colocou os defensores da República contra o movimento fascista de Franco.

O principal objetivo do livro é criticar as ações tomadas pelos regimes totalitários e do impacto que estes regimes causam nas respetivas sociedades. Orwell alerta para a aceitação das ideias totalitárias não só pela sociedade, mas também pelos intelectuais de todas as áreas e campos de pensamentos.

É um dos temas centrais da obra a nível político e social, pois descreve pormenorizadamente as experiências políticas e sociais que o autor vivenciou duranta a sua estadia nesses ambientes. George Orwell foi jornalista de rádio na BBC, editor literário e articulista dos jornais Tribune e Le Monde, além de crítico da Revista New Adelphi.

Há também nesta obra um alerta e uma critica para a comunicação social. A critica consiste no facto de que não é bom para a sociedade que a comunicação social unifique pensamentos e crie regras de conduta como se tudo fosse uma espécie de lavagem cerebral.

A persuasão ideológica, como também é mostrado na obra, pode causar passividade nas sociedades e, juntamente com a lavagem cerebral, pode tornar o totalitarismo numa realidade. Algumas expressões marcantes no livro:

“Guerra é paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é força”

Nos governos totalitários, há uma estratégia pré-definida para que o governo mantenha a população desinteressada das decisões políticas. Desta forma cria-se uma propaganda, isto é, um enredo fora da realidade para que uma determinada organização se estabeleça, adulterando factos para se obter um determinado comportamento da população que, por norma, será um comportamento passivo. Existem vários exemplos de propaganda nesta obra, tais como: a imagem do Grande Irmão em cartazes espalhadas por toda a Oceânia através dos discursos do Grande Irmão e dos membros do partido interno, a existência dos dois minutos de ódio e da semana do ódio e os anúncios na teletela. A população vivia sob uma constante repressão e vigilância.

Na obra, é referido que os documentos oficiais e as notícias eram falsificados e que as pessoas eram sobejamente influenciáveis. A história era apagada, bem como a verdade, que tanto era apagada como era alterada e falsificada como por exemplo os factos históricos. Não havia passado.

O amor era estritamente proibido e não se poderia criar laços, só se poderia ter filhos se fosse em prol do partido. Havia, de certa forma uma solidão coletiva. Quem desobedecesse era torturado e evaporado sem deixar rasto. Os maiores crimes eram denominados “crime pensantes “.

A personagem principal, Winston, mostrava ser mais atento a tudo o que o rodeia e questionar aquilo que não entende. A determinada altura, mostra determinação em provar o embuste que é o Socing (acrónimo que significa socialismo inglês) e o seu discurso que procurava convencer os habitantes da Oceânia.

Durante a obra, reparamos que existe uma procura constante de massificação e de padronização por parte do partido através das várias propagandas enganosas como acontecia com a teletela, na qual passava noticias fraudulentas para as massas.

A sala 101 (inspirado numa sala da BBC) era a zona de tortura.  Winston Smith, a personagem principal do enredo, faz parte do Partido, grupo que detém o poder total e soberano da Oceânia. Tudo o que acontece é monitorizado pelos telecrãs que estão em todos os lados, mesmo dentro das casas das pessoas. Para além de filmarem todos os movimentos das pessoas, transmitem noticias, eventos e músicas, tudo controlado pelo Partido.

O líder do Partido e governante da Oceânia chama-se Big Brother (grande irmão). Não dá para saber se o Big Brother efetivamente existe ou não.  O poder do Partido é dividido em 4 Ministérios: Ministério da Verdade, que tinha a incumbência de manipular noticias, a cultura e a instrução; Ministério da Riqueza que detinha toda a vertente económica; o Ministério do Amor que servia para manter a ordem e o Ministério da Paz que servia para a guerra.

Toda a história se vai basear num confronto emblemático entre Winston e o Grande Irmão. Durante o enredo, é muito marcante as lembranças de Winston do pré-revolução e da imagem da mãe e da irmã. Comete dois crimes essenciais: escrever um diário fora do telecrãs e conhece Júlia, estabelecendo uma relação amorosa, quebrando as regras do Partido.

Ao longo da leitura desta obra, é percetível que as pessoas vivem numa grande mentira e que existe um certo método de controlo, tanto do passado como do presente, e a criação de uma ilusão da realidade, muito característica do Socing: a manipulação da verdade.

A manipulação de factos históricos, literários e jornalísticos é um cenário comum em 1984, pois o totalitarismo depende profundamente desta manipulação para sobreviver. Winston não vê esta manipulação como algo positivo, mas sim como algo irrealista.

Por último, após a leitura desta obra, o leitor fica com o entendimento de que as personagens vivem num mundo fechado, sob constante vigilância e repressão. A propaganda apresentada em discursos, em “fake news” divulgadas pelos meios de comunicação (que eram controlados pelo sistema político vigente) tinham por objetivo criar uma falsa narrativa e influenciar o comportamento da sociedade.

Sem ter como questionar aquilo que lhes é apresentado, a sociedade aceita passivamente as propostas e ideias apresentadas pelo governo. A personagem principal, Winston, procura a verdade, apesar da influência diária do Socing. Nesta tentativa, verificamos que há uma estrutura repressiva e violenta, criando uma pressão política capaz de destabilizar o comportamento do individuo e, por consequência, da sociedade.

 

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