No dia 8 de Março de 1975 foi proclamado, pelas Nações Unidas o “Dia Internacional das Mulheres.
Apesar de a maior parte da humanidade ser feminina e de, sob o ponto de vista legal, as mulheres terem os mesmos direitos que os homens, sob o ponto de vista social, não é assim. Em muitas situações, a mulher ainda é muito subordinada, bastando ver a diferença salarial.
Em Portugal, o Estado Novo esforçou-se por conservar a mulher no seu posto tradicional, como mãe, dona-de-casa e em quase tudo submissa ao marido.
Jamais esquecerei o drama familiar que vivi, quando a minha mãe depois de dar á luz um filho, gozou os dias de licença de parto e quando se apresentou na empresa o patrão (de patente militar) lhe disse; como até agora não fez falta, não precisamos de si, está despedida.

Na Escola Primaria sita na Rua Conde S. Cosme do Vale. Edifício de dois pisos, sendo o bloco do lado esquerdo para raparigas e o recreio dividido por um consistente e alto muro em pedra para impedir qualquer contacto com os rapazes.
Na Escola Comercial hoje D. Sancho I, pela porta do alçado lateral esquerdo do edifício entravam as raparigas, o uso de batas era obrigatório apenas para as raparigas.
A Mulher quando entrava na Igreja estava obrigada a cobrir a cabeça com um véu (sendo a qualidade do seu tecido demonstração do estrato social a que pertencia) ou lenço da mão.
Exemplo da condição das mulheres é a que a seguir se descreve
AS LENHEIRAS – AS ESCRAVAS DE FAMALICÃO
Poucos conhecem, por certo, a história destas mulheres de trabalho escravo de transporte de lenha…
O tempo passa, mas esta desumana actividade está – quer queiramos, quer não, registada na história de Famalicão desde o século XIX aos anos sessenta do século passado.
As “lenheiras” de Famalicão andavam descalças e faziam quantas viagens fossem capazes de fazer, para ganhar mais algum dinheiro.
Não tinham segurança social, nem postos de atendimento de saúde, e o que conheciam desde meninas, era acartar a carga e fazer o jantar.
Estas mulheres que muitas vezes ainda levavam filhos pequenos, tinham a tarefa hercúlea que começava às sete da manhã, à chuva ou ao sol, frio ou nevoeiro, sem folgas nem férias, de também transportarem a “pruma” ou também chamada “caruma” nome colectivo com que se designam as folhas (agulhas) dos pinheiros, depois de secas e caídas no solo. Era aí que, com o ancinho e uma corda para atar o feixe, as mulheres se deslocavam para a apanha da caruma e que serviam para a lareira, forno, estrumadas, camas do gado, ou comercialização.
Quando não havia quem as ajudasse, o feixe era encostado a um pinheiro e, à força de braços, empurrando-o contra o pinheiro e rodando-o faziam-no subir no próprio pinheiro até uma altura que se conseguisse meter a cabeça por baixo. Depois de atado, o feixe era colocado à cabeça, com a ajuda de alguém que passasse.
Eram mulheres também que para “comer o pão de cada dia”, para si e seus filhos, vinham das aldeias e da até então vila e subiam a calçada íngreme entre a Rotunda 1.º Maio e a Fábrica da Boa Reguladora. Passavam pela Rua Direita – algumas delas até nela moravam – e por outras ruas vielas e ruelas, percorrendo distâncias de cinco quilómetros ou mais, levando à cabeça em artístico equilíbrio e mãos nas ancas, nesta via dolorosa, molhos de aparas ou sobras da madeira utilizada para arquitetar as caixas dos relógios, pesando cerca de 50 Kg.
Esta “pruma” e “aparas” eram depois distribuídas pelas “lenheiras”, por um preço de miséria pelas padarias, confeitarias, casas particulares e outras para iniciar o aquecimento dos fogões a lenha.
As “lenheiras” representam bem, de certa maneira, a condição da mulher portuguesa num passado recente que não pode ser esquecido.
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