Sou enfermeira, encarregada de educação e presidente da Associação de Pais da Escola Básica Júlio Brandão. E, ao contrário do que alguns “títulos virais” quiseram fazer crer, a Júlio Brandão não proibiu professores nem auxiliares de usarem o telemóvel. Não estamos a viver um regime disciplinar de exceção, nem a testar um modelo de escola sem rede.
O que aconteceu — e convém começar por aqui — foi apenas o cumprimento da lei: a proibição do uso de telemóveis pelos alunos do 2.º ciclo. O Conselho Geral, num exercício de coerência e responsabilidade, aprovou que o mesmo se aplicasse aos alunos do 7.º e 8.º anos. Tudo devidamente inscrito no Regulamento Interno, aprovado pelos órgãos competentes e comunicado de forma transparente.
Houve também uma reunião de sensibilização com professores e assistentes operacionais, apenas para reforçar a importância do exemplo. Pedia-se bom senso — que se evitasse o uso do telemóvel em espaços partilhados com os alunos. Só isso. Na sala dos professores, o Wi-Fi continua a funcionar, e ninguém confiscou nada.
Mas bastou uma publicação pouco rigorosa para transformar bom senso em censura. E lá se espalhou a “notícia” de que a direção proibira tudo e todos de usar telemóvel. A realidade perdeu para o ruído, e o ruído – como sempre – fez mais eco do que a verdade.
Como enfermeira, aprendi que boatos se propagam mais depressa do que vírus. E, neste caso, a desinformação contagiou depressa quem preferiu partilhar antes de confirmar.
Como mãe e cidadã, entristece-me ver o debate público render-se à espuma da pressa. Quando um educador, ainda por cima com responsabilidades públicas, escolhe divulgar versões distorcidas, não está a ensinar – está a inflamar.
A escola precisa de diálogo, não de dramatismo. De verdade, não de teatro.
E talvez esteja na hora de acrescentarmos uma nova regra ao Regulamento Interno:
- o uso de fake news é expressamente proibido dentro e fora da escola.
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