Falhamos como sociedade, como comunidade que deve estar atenta aos sinais de alerta, como entidades competentes que têm a obrigação de proteger os mais frágeis e vulneráveis.
Uma vez mais ficamos incrédulos pela capacidade do ser humano ser tudo, menos humano. Falhamos com a Jessica e tantas outras meninas e meninos, mulheres e homens em situações vulneráveis.
Uma vez mais assiste-se a um empurrar de responsabilidades e a uma panóplia de razões ou motivos que levaram à morte de uma criança. Ora foi porque partiu um tablet, ora porque um ato de bruxaria não tinha sido pago. Na base estará, alegadamente, um fator monetário. E se existir uma dívida? E se a criança tiver partido um tablet? E depois? Onde foi que perdemos a humanidade?
A razão do ser humano está a ficar perdida e o mundo caminha para extremos de violência inaceitáveis e incompreensíveis.
A cada morte surgem os discursos de praxe, precisamos refletir sobre o sucedido e corrigir os erros. Mas quantas mais Jessicas, Joanas, Laras terão de ser torturadas na sua morte para existir efetivamente uma mudança?
As autoridades tinham conhecimento da existência de contextos familiares frágeis e no entanto o supremo interesse da criança não foi considerado, foi arquivado!
Existem problemas estruturais graves, desde logo a falta de recursos humanos que não permite acudir a todas as situações em tempo próprio, mas também a falta de formação que permita diferenciar os casos de emergência dos casos que podem ser trabalhados junto do agregado familiar. Mas isto é sabido há anos, e não precisamos de mais mortes para descobrir o que fazer.
Porque cada caso é um caso, cada família tem as suas especificidades, torna-se necessário adaptar as medidas – mais ou menos urgentes – consoante o caso. Uma coisa será certa, em casos que envolvam potenciais cenários que atentam contra a vida, especialmente de uma criança, não podemos ficar presos à escassez de recursos, temos de agir. E isso alarga-se, também, a nós, comunidade, que vivemos, muitas vezes, parede meias com casos problemáticos e tantas vezes fechamos olhos, reféns de um qualquer receio que a nossa intervenção nos traga “trabalho” – o que geralmente acontece – ou até ainda presos na ideia que a vida dos outros não nos diz respeito.
Bem, no geral, sim, isso é verdade. O que cada um/a faz da sua vida a ele/a diz respeito, mas quando a ação de um/a recai sobre a vida dos outros, e poderá desencadear ofensas à integridade física ou até moral, cumpre-nos como seres humanos, agir, e não mais fechar os olhos.
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