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Vila Nova de Famalicão
Sábado, 12 Outubro 2024
Artur Mesquita Guimarães
Artur Mesquita Guimarães
Famalicense residente na freguesia de Brufe.

Um banana me confesso

O que me inquieta é, de facto, a proposta monstruosa vertida no PDM. Espero que impere o bom senso para que este episódio não venha a ficar registado para a história como um momento de má memória.

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Artur Mesquita Guimarães
Artur Mesquita Guimarães
Famalicense residente na freguesia de Brufe.

Famalicão

Depois de ter ouvido o Sr. Prof. Doutor José Alberto Rio Fernandes no encontro promovido pela Associação Famalicão em Transição, sobre a revisão do PDM em curso, na passada sexta-feira, dia 12 de Setembro, um banana me confesso.

Caracterizava o Sr. Prof. Doutor como “banana” (do anacronismo inglês Build Absolutely Nothing Anywhere Near Anyone) aquele que aprecia o bem-estar, a qualidade de vida, o conforto, o bem feito, o equilibrado, normalmente endinheirado (apesar de não ser o meu caso), que gosta de jogar golfe (um desporto que também não pratico; sou mais dado a rachar lenha e a outras actividades rurais), que desfruta da boa paisagem e tudo o mais que possa caracterizar uma ocupação do território, sensata, equilibrada, respeitadora das estruturas ecológicas, dos lugares, das tradições, de forma a dar a melhor resposta para o bem comum…Enfim, tudo o que poderemos classificar como um bom ordenamento do território.

Vem tudo isto a propósito da Unidade de Execução 1 da UOPG 1.3 – Parque Biológico de Brufe, do referido PDM, talvez por graça, designado “Parque Biológico de Brufe e Área adjacente”, zona onde resido e da qual, por essa mesma razão, me considero um guardião. Não por razões de bairrismo, mas sim pelo respeito do território que me acolhe.

O que me inquieta é, de facto, a proposta monstruosa, vertida no PDM, para implementação do “vazio” e destruição deste espaço rico (sabe-se lá por interesse de quem…),a que acresce a vontade de intervir no quintal dos outros. Se ficassem só pelo seu quintal! Mas, não. Não fosse o alerta de um amigo, esta revisão do PDM até passava sem eu dar conta disso.

Estamos a falar de uma zona que é caracterizada pela “Casa do Vinhal”, a “Mata da Reguladora”, a veiga de Brufe (que ainda se estende até Serite e ao Monte de Santa Catarina), e a Ribeira de Bargos.

Quem não tem na memória a histórica e emblemática “Casa do Vinhal” como testemunho do passado e do presente, e como elemento da maior importância a preservar para o futuro?

Quem, da minha época, geração dos anos 60 e até 70, não via na Mata da Reguladora uma autêntica reserva natural, guardada e cuidada com esmero pelos proprietários, e quem não reconhecia, com apreço, que estes prestavam um serviço fundamental para o bem comum, que aparentava estar garantido para as gerações futuras?

Quem pode negar o interesse ecológico, e até mesmo como reserva agrícola de proximidade à cidade, da Veiga de Brufe, rasgada pela Ribeira de Bargos, que neste momento ainda consegue ser um corredor verde do centro da cidade até ao mar?

Alguém pensa que estes três núcleos têm o mesmo valor se forem isolados uns dos outros?

Não está claro que qualquer intervenção, ainda que num só destes núcleos, deverá ser muito bem ponderada, para não comprometer o todo?

A veiga de Brufe não manifesta já estar no limite do razoável, para que não se perca irremediavelmente um espaço verde de referência?

Em toda a sua área rural que ainda existe, mesmo que já lhe tenha sido atribuída outra caracterização, não se pode consentir nem mais uma casa. Assim como é inaceitável que seja cortada de lado a lado por qualquer tipo de arruamento.

É caso para perguntar: há quem tenha coragem de apresentar, e de aprovar, uma proposta tão radical, sendo evidente que fica inevitavelmente comprometida esta parcela do território?

Mas que razões estão por trás desta proposta e a quem trazem benefício?

Será que alguém tem a veleidade de nos querer fazer acreditar que há falta de habitação ou espaços para a sua construção? Nem precisaríamos de ir muito além do perímetro de Brufe para demonstrarmos o contrário. Será que alguém nos quer convencer que havendo mais espaço para construção o preço das casas irá baixar? Digam-me onde é que isso aconteceu!

Pelo caminho, lamento ter ficado na gaveta um trabalho de fim de curso, de grande qualidade, da autoria da Arqª. Paisagista Elisa Bairrinho já no ano 2008, em regime de estágio na Câmara Municipal.

Pois bem, embora talvez já um pouco tardiamente, espero com esta minha exposição e denúncia despertar a consciência a todos quantos têm responsabilidade colectiva e decisiva.

Espero ainda que impere o bom senso para que este episódio não venha a ficar registado para a história como um momento de má memória.

 

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Os artigos de opinião publicados no NOTÍCIAS DE FAMALICÃO são de exclusiva responsabilidade dos seus autores e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

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Artur Mesquita Guimarães
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Famalicense residente na freguesia de Brufe.
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