“A música não é fogo de artifício, é sentimento”
Salvador Sobral – festival Eurovisão 2017
O que mais me vai custar nesta campanha é ter de falar em problemas que já não deveriam ser assunto, o lixo e o saneamento.
E porque é que isso me aborrece?
Em primeiro lugar, porque tais questões existem em 2025 no nosso concelho, um dos mais ricos de um país da europa ocidental, membro da UE e 42º no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – numa lista de 193 países, o que, apesar de estar longe da perfeição, também não é assim tão mau. Em segundo, porque vai ocupar o tempo e as energias que deveríamos dedicar à procura de soluções para os problemas estruturais do concelho: urbanismo amigo do envelhecimento, das crianças e socialmente inclusivo, ambiente, mobilidade, habitação, eficiência administrativa, etc
Estaremos todos mais ou menos de acordo em que a recolha do lixo doméstico e a limpeza das ruas tem, nos últimos anos, piorado. Já no caso das descargas poluentes nos rios e ribeiros, a minha perceção (eu sei que a perceção é um terreno de areias movediças) é que estamos piores do que há uns anos. Por exemplo, hoje, no rio Pelhe o “normal” é a água correr suja e com mau cheiro. Mas há uns anos, a situação estava controlada e até era possível ver peixes no rio Pelhe.

Ora, nos últimos anos tivemos uma galopante expansão urbana, que em muitos casos, que em muitos casos (a repetição não é um erro), é ao sabor do “acaso”.
E viver num anarcoterritório tem os seus custos.
Portanto, crescemos, fizemos rotundas, abrimos avenidas, muita festa e fogo de artifício, mas não se soube antecipar as questões básicas, planear e ajustar as infraestruturas às novas necessidades. Assim, nos últimos tempos, com cheirinho a eleições, sucederam-se ações reativas, intervenções avulsas nas condutas de saneamento e anúncios de novos contratos para as limpezas das ruas e recolha do lixo.
Há 4 anos, ouvi um ex-autarca afirmar que no desempenho das suas funções podia cometer dois tipos de erros: pensar sem agir e agir sem pensar. Por cá o dinheiro abunda, 219 milhões de euros em orçamento para 2025. Também suspeito de alguns casos de PHDA (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Assim, temos como resultado, muita ação e pouco pensamento.
Nos próximos anos, vamos perder fundos europeus e os futuros orçamentos municipais voltarão a rondar os 160 milhões de euros. Regressaremos aos velhos valores, mas com as novas despesas, resultado de uma infraestrutura muito mais pesada: estradas, pavilhões de vários usos, iluminação… e muito lixo para recolher e uma rede de saneamento básico que precisa de ser redimensionada e renovada.
No entretanto, andamos entretidos a alargar parques infantis, refazer as calçadas dos adros das igrejas e muita festa para embalar os sentidos.
Em psicologia, chamam a isso um “chuto” de dopamina. O seu efeito inebriante dura pouco tempo, em excesso cria dependência e, quando falta, provoca depressão.
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